Carolina165 12/05/2020
VALIOSO
"Vivenciando a Cabala" do maravilhoso dr. Gerald Epstein me apresentou este livro através de um exercício no qual ele é citado. E assim tomei conhecimento desta obra magnífica.
É muito difícil falar desse livro, pois é um livro para ser entendido com o coração, com a alma, e não com palavras. Mas vou tentar.
Eugen Herrigel, filósofo alemão, recebe um convite para lecionar na Universidade Imperial de Tohoku, e assim tem a oportunidade de vivenciar na prática a doutrina Zen.
Passou quase 6 anos aprendendo a arte de tiro com arco e flecha. Foi um período exaustivo, de muito esforço para aprender essa "arte sem arte". Mas o que tem de tão difícil nesse esporte "inútil"?
A questão é que esse esporte foi apenas uma maneira que ele escolheu para aprender a essência do Zen, algo que ele poderia aprender mesmo de outra forma, que não fosse o tiro com arco. Mas foi com esse esporte que ele foi introduzido ao mundo Zen. Assim, a questão é que ele tinha que aprender a disparar a flecha "espiritualmente". Nesse caso toda técnica era inútil.
O mestre lhe explicou que no "tiro espiritual", não é o arqueiro quem dispara a flecha, mas sim "algo dispara". Mas para isso, o arqueiro deve desprender-se de si mesmo, ou seja, deve esquecer-se de seu objetivo. O essencial é se concentrar na maneira perfeita de executar o procedimento, mas sem se preocupar com o resultado; pois no tiro com arco e flecha "espiritual" o arqueiro não atinge o alvo, mas "atinge a si mesmo". Assim, o tiro "se espiritualiza", deixando de ser algo mecânico, técnico. Em outras palavras, o arqueiro mira o alvo com a alma, não com os olhos.
Como explicar conceitos tão abstratos como "algo dispara", "tiro espiritual", "desprender-se de si mesmo"? Pois é. Não é algo que possa ser explicado, apenas sentido. Por isso, encerro esta resenha por aqui, para não correr o risco de parecer pedante, ou, pior ainda; falar do livro sem conseguir passar sua real profundidade e significância, o que seria um enorme pecado.
"...o discípulo é o mestre do mestre, pois o ensina a ensinar". Pág. 06
"[...] Contudo, eu me achava satisfeito, pois comecei a compreender como a técnica de defesa pessoal prostra o adversário sem despender nenhuma força, apenas recuando, elástica e imprevistamente, aos seus esforços. É por isso que essa forma de luta se chama arte gentil (tradução literal das palavras jiu-jitsu), e o seu símbolo é o da água que sempre cede, mas jamais é vencida. Não foi por outro motivo que Lao-Tsé disse que a vida autêntica se parece com a água, que a tudo se adapta porque a tudo se submete". Pág. 44
"Isso tudo depende de que, esquecidos por completo de nós mesmos e livres de toda intenção, nos adaptemos ao acontecer: a execução de algo exterior desenvolve-se com toda a espontaneidade, prescindindo da reflexão controladora". Pág. 59
"Logo, o tiro não depende do arco, mas da presença de espírito, da vivacidade e da atenção com que é manejado". Pág. 78
"Espere pacientemente o que vier e como vier!" Pág. 72
"[...] o mestre verdadeiro revela sua coragem com atitudes, jamais com palavras". Pág. 101
"São raras as pessoas que conseguem manter uma inabalável impassibilidade, e que só por isso devem ser chamadas de mestres". Pág. 101