spoiler visualizarGatita 17/02/2022
Em resumo: assuntos densos e sérios tratados com a profundidade de um pires reto
A ideia como um todo até que é boa. Quando eu avalio com poucas estrelas os livros que leio, raramente (ou nunca) é por causa da história EM SI, mas por sua execução.
Afinal, não existem histórias ruins... O que existem são maneiras ruins de se contar uma história.
"THEUS" infelizmente é um desses casos. Poderia ser um arraso, pois fala de preconceito, de descoberta, de "cura gay", e também aborda a polêmica de trisais - assunto no mínimo interessante, mas que foi tratado com leviandade, dando a entender que homossexuais são ninfomaníacos, como se eles não conseguissem ter um relacionamento monogâmico fiel por serem "livres" e quererem "provar" tudo que têm direito (ah, pelo amor de São Crispim, não é mesmo?).
Por isso, o problema aqui não está no conteúdo, mas na execução. A escrita do autor é tecnicamente correta (o mínimo que se espera de um jornalista), mas a forma de narrar e de criar os personagens é inconsistente. Os diálogos são RASOS (bobinhos, até), sem a essência dos interlocutores, sabe? Não fazem a história andar e nem apresentam algo novo sobre os personagens. E falo isso porque os diálogos aqui parecem ter sido tirados de uma REPRODUÇÃO LITERAL do dia a dia de uma pessoa.
Deixe-me explicar: se você pegar um gravador e deixar numa sala com pessoas, depois reproduzir tudo aquilo num texto com diálogos, vai obter uns 90% de lixo. Afinal, tem muito "papo de elevador" nas conversas do dia a dia que não dizem nada sobre a verdadeira essência dos interlocutores.
Em um livro que tenha intenção de prender leitores (seja pelo drama, seja pelo entretenimento) colocar cenas com "papo de elevador" é quase um crime. Afinal, nos livros, O DIÁLOGO NÃO É UMA CONVERSA: É UM DISCURSO.
Aprendi isso com Flávia Iriarte, diva maravilhosa e professora de Escrita Criativa. Outro professor que admiro pela didática em storytelling é André Vianco. Ele também já ensinou coisa semelhante, como a técnica dos comportamentos dominantes, que precisam exalar em cada fala e em cada ação do personagem.
Mas isso não acontece aqui...
Em Theus vemos diálogos e ações desnecessárias às cenas, e isso faz com que algumas sequências fiquem meio "bestinhas" e até inconsistentes (destruindo a "suspenção de descrença").
(A PARTIR DAQUI, CONTÉM SPOILER)
Um exemplo é um relacionamento que teria sido INCRÍVEL se não fosse o babaca que não acredita em amor, mas sim em amizade. Acha que "amor morre com o tempo, mas amizade é para sempre".
É como se este livro pregasse que AMOR entre homossexuais não existisse. É como se o autor não acreditasse que possa haver um relacionamento verdadeiro (e monogâmico) entre dois homens. Apenas safadeza e brotheragem.
Segui lendo apenas porque fiquei curiosa pra saber no que ia dar... Mas além de ter sido difícil engolir o "durante", o final foi simplesmente intragável. E nem falo pelo drama da morte e de o casal não ter ficado junto. Mas sim pelo motivo retardado (citado acima) de o Gabriel não ter se declarado.
É complicado falar sobre Theus... Porque de fato a história tinha tudo pra ser ótima (por abordar questões importantes), mas essa execução sem CONSCIÊNCIA NARRATIVA e com LEVIANDADE ao tratar o AMOR acabou sendo um chute doloroso no saco.
Sério... Com isso tudo, fica difícil defender o livro.
Se tem uma lição que esse livro ensina é: larga de ser babaca e vai se declarar antes que você morra e estrague tudo, seu imbecil.