Palavras Cruzadas

Palavras Cruzadas Guiomar de Grammont




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Toni 12/11/2019

O romance trata da Guerrilha do Araguaia, episódio de um massacre — terminantemente negado pelos militares até meados da década de 1990 — empreendido pelas forças armadas contra mais de 60 guerrilheiros durante a ditadura brasileira (ainda não há consenso sobre o total de mortos). A história dessas vítimas da repressão é a história de corpos sem sepulturas, filhos e irmãs que nunca retornaram, familiares eternamente aguardando um luto impossível de ser elaborado. Situado em nossa desmemoriada democracia, o romance de Grammont apresenta uma jovem jornalista, Sofia, em busca de notícias de seu irmão desaparecido político na Guerrilha.

O desenvolvimento do enredo é bem novelesco, mas isso não deve ser compreendido como algo negativo. Sem ceder a dicotomias fáceis (guerrilheiro-bom, militar-mau), Grammont entrega uma narrativa bem articulada, repleta de arestas intencionalmente afiadas para incomodar a gregos e troianos, revelando aos poucos os mistérios da trama (alguns bastante óbvios) sem cansar ou menosprezar a inteligência do leitor.

O mais importante, no entanto, é a maneira como o livro consegue tratar diferentes esferas do trauma da ditadura com igual competência através de pontos de vista diversos: a vida na guerrilha, a busca por um desaparecido, os efeitos devastadores nos familiares, o sequestro de bebês por militares, a podridão insepulta da violência de estado. Se tomado alegoricamente, podemos até sugerir que a personagem da mãe, Luísa, representa a Memória Brasileira constantemente ignorada, quando não silenciada, que para ser ouvida precisa se valer de artifícios labirínticos que estimulem seus filhos a buscar uma verdade bastante esquiva.

Contra o esquecimento imposto pela Anistia—alô, Damares!—, contra a amnésia coletiva que impede a revisão do passado e o exorcismo da dor, somente a memória, a narrativa, o entendimento são capazes de tornar possível “uma reconciliação com o mundo, para poder continuar vivendo, depois do horror”. Ou seja, é preciso lembrar para “esquecer”. #palavrascruzadas #guiomardegrammont #editorarocco #duramemória
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