Coruja 20/06/2011Já vimos os gregos... e o bardo. Em termos de teatro, é deles que primeiro me lembro, afinal, os gregos inventaram o teatro e Shakespeare inventou o humano. Mas, para completar a lista do Desafio Literário 2011, ainda faltava um título e eu não queria me repetir.
Estava nesse dilema, pesquisando um título ali, um autor aqui, quando liguei a TV e zapeando pelos canais dei de cara com Colin Firth. Não sabia do que se tratava o filme, que já estava lá para o final e havia qualquer coisa de muito bizarra naquele enredo (especialmente para quem pegara o bonde andando como eu) – mas o que importava? Era o Colin!
Quando dos créditos finais, descobri que o filme se chamava The Importance of Being Earnest (na tradução absolutamente nada a ver, Armadilhas do Amor), baseado na obra de Oscar Wilde. Uma coisa se seguiu a outra e não demorou muito para descobrir que se tratava originalmente de uma peça e ela entrar para a minha lista.
Pronto: tinha já o terceiro título. Só faltava arranjar o livro. Fui às compras e encontrei esse volume por vinte e seis reais em português... e dois e oitenta em inglês. Qualquer dia desses acabarei escrevendo de novo sobre essa abusividade que são os preços de livros no Brasil...
A peça é curta – li em menos de uma hora – e deliciosamente nonsense. Meu pai do céu, não há um único personagem dessa história que não seja moralmente dúbio, já com um pé na insanidade. Não há, realmente, quem se salve: Jack e Algernon são dois charmosos canalhas; Gwendolen parece ter um incêndio ocorrendo debaixo das saias e petticoats; Cecily não é simplesmente sonhadora, mas delirante e Lady Bracknell é uma das criaturas mais frívolas que já li na vida.
E é com um elenco desse calibre que Wilde tece uma verdadeira comédia de erros – que me faz pensar a certas alturas em Noite de Reis e Sonho de Uma Noite de Verão - onde uma mentira se soma a outra, provocando uma avalanche que desemboca no absurdo.
É por essas e outras que adoro o bom humor britânico. God Save the Queen!
Jack Worthing, um cavalheiro de Hertfordshire, tem um irmão imaginário chamado Ernest – na tradução, Prudente. Este Ernest imaginário é um camarada irresponsável, que vive se metendo em confusões e fazendo dívidas, obrigando Jack a se ausentar o campo e de suas obrigações como tutor da jovem Cecily, para ir a Londres dar um jeito no irmão.
Tão logo chega em Londres, contudo, Jack se transforma no próprio Ernest, que é como ele se apresenta aos amigos da cidade, incluindo Algernon, primo da bela Gwendolen, em que Jack/Ernest está de olho.
Por motivos diversos, Algernon – ou Algie para os íntimos – acaba por descobrir o expediente de Jack, declarando-o assim um seguidor do Bunburismo. Mas hein? Bunburismo? O que é isso? É de comer?
Assim como Jack inventou Ernest para poder fugir de suas responsabilidade no campo para a cidade, Algie inventou um amigo inválido chamado Bunbury para poder fugir de suas dídidas na cidade para o campo.
Agie também descobre sobre Cecily, partindo para Hertfordshire a fim de conhecer a moça – que é uma fabulosa herdeira – lá apresentando-se como... Ernest, o irmão perdido de Jack. Isso enquanto Jack, que tenta cortejar Gwendolen, enfrenta a futura sogra e revela uma triste história de vida: ele não sabe quem são seus pais, pois os perdeu quando bebê, tendo sido achado numa mala numa estação de trem pelo avô de Cecily, que o adotou.
Claro que isso acaba com suas chances junto a Lady Bracknell. Não que isso impeça Gwendolen de ir atrás de seu amado Ernest. E aí teremos Cecily apaixonada por Algerno/Ernest e Gwendolen apaixonada por Ernest/Jack se encontrando e então...
Não vou contar. Vocês terão de ler. Ou assistir. Ou fazer os dois, como eu fiz. Afinal, além de todos os outros motivos que já dei, tem o Colin... Você vai perder a oportunidade?