Rafaela 13/06/2016
Thompson, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia / Jhon B. Thompson; tradução de Wagner Oliveira Brandão. 14. ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. 261 p.
Jhon B. Thompson é um sociólogo norte-americano e professor na universidade de Cambridge. A mídia e a ideologia estão entre seus principais objetos de estudo, onde analisa seus impactos na formação das sociedades modernas, ressaltando temas como a transformação do espaço-tempo, as novas formas de interação e os usos da comunicação. Dentre suas principais obras destacam-se "Ideologia e cultura moderna", “A mídia e a modernidade”, “Comerciantes da cultura” e “Livros na era digital”.
Em sua obra “A Mídia e a Modernidade: Uma Teoria Social da Mídia”, Thompson apresenta uma série de análises acerca dos impactos das mídias na era moderna, os processos pelas quais passaram e como elas tornaram-se intrínsecas à essa sociedade. O livro é dividido em oito capítulos, nos quais ele interliga vários temas detalhando as transformações dos meios comunicacionais e como essas transformações se materializam no meio social. O autor, portanto, expõe uma nova abordagem para as questões que englobam a era moderna, buscando entendê-la pela perspectiva dos meios midiáticos e ressaltando sua importância na formação das sociedades.
No início do livro, apresenta-se um prefácio e uma introdução. Nestes, Thompson expõe os objetivos que tinha ao compor essa obra. Em primeira instância, seu objetivo é colocar a mídia no centro do estudo das sociedades modernas, compreendendo fatos decorridos nesse período segundo a perspectiva dos meios comunicacionais.
O segundo objetivo é o desenvolvimento da sua teoria, analisando os meios, destacando as diferentes formas de interação e suas peculiaridades.
Nessa parte do livro o autor expõe a temática de forma geral, introduz o assunto e desenvolve sua teoria sucintamente, utilizando-se de aspectos sociais e políticos para justifica-la.
“A comunicação e o contexto social” é o tema do primeiro capítulo. Nele, Thompson trata das bases da produção, fluxo das formas simbólicas e analisa os fundamentos de teorias sociais da mídia já existentes, ressaltando como estas o levaram a sua própria linha de pensamento acerca do tema. Fala da necessidade de se contextualizar sociedade e comunicação, e como a mesma, tem afetado a compreensão do mundo, as interações sociais e a forma como vemos a história. Além de questionar a etimologia das palavras “comunicação” e “massa”, apontando falhas em teorias mais antigas e apresentando sua própria definição de comunicação.
No segundo capítulo, Thompson expõe “alguns aspectos-chave da mediação da cultura desde o final do século XV até os dias atuais” (p.77). Explanando a história da emergência das sociedades modernas e das inovações técnicas, concentrando-se no desenvolvimento da imprensa e na distribuição de formas simbólicas em larga escala, gerando a chamada “mediação da cultura” e provocando transformações em nível social, político, econômico e cultural.
O terceiro capítulo trata das formas de ação e interação existentes, com ênfase nas interações “mediada” e “quase mediada”. Segundo Thompson “o desenvolvimento dos meios de comunicação cria novas formas de ação e de interação e novos tipos de relacionamentos sociais” (p.119) o que faz surgir uma reorganização complexa nas formas de interação humana. Trata, também, do desenvolvimento dos meios e do acesso à informação, onde a comunicação não está mais intrínseca ao ambiente físico, desvinculando-se e abrindo horizontes e formas comunicacionais até então inexistentes.
Em seguida, o autor atenta-se para as questões da visibilidade, falando da relação entre o público e o privado, com foco na exposição dos indivíduos, uma forte característica da mídia; A visibilidade, o poder, a mídia e a publicidade são tópicos centrais deste capítulo. Segundo o autor a “mídia transformou a natureza do caráter público” (p.162), e esse fato se reflete tanto em caráter individual quanto global.
A globalização é um dos processos mais discutidos no mundo moderno devido sua alta escala e seu alcance em nível global. O capitulo 5 trata desse processo, onde o aborda e caracteriza a abrangência dos meios midiáticos e o alcance das informações veiculadas, tanto em relação ao amplo espaço quanto ao tempo mínimo. Com base nas análise feitas do processo, o autor reavalia a teoria do imperialismo cultural e busca uma teoria da globalização da mídia.
No sexto capítulo Thompson questiona a visão comum de tradição como sendo “coisa do passado” (p.233) e que o avanço das sociedades modernas não significa, essencialmente, que haja um declínio da tradição. Ele põe a tradição como um ponto a ser estudado e compreendido, tendo em vista que, em certos aspectos, são as tradições que moldam a sociedade e a forma como ela compreende a si mesma. As tradições, na era moderna, transformaram-se, rompendo com limitações interacionais de tempo espaço e adquirindo novas características.
Com o advento da interação quase mediada em grande escala, as relações tendem a virtualizar-se, a reciprocidade diminui, e os indivíduos (eu; self) são profundamente afetados por essa condição, intrínseca em seu cotidiano. O sétimo capítulo “o eu e a experiência num mundo mediado” trata dessa questão, analisando os impactos da mídia na formação dos indivíduos e na maneira como eles se relacionam, expondo aspectos positivos e negativos, tais como o fácil acesso às formas simbólicas e a sobrecarga de informações, respectivamente.
O capítulo final trata da reinvenção da publicidade. Nele destaca-se o papel que a mídia tem e deve ter, a reinvenção dessa mídia diante da sociedade moderna e do estado, e como a mídia modificou o entendimento de publicidade na política, mais aberta e visível.
Thompson, por fim, propõe a criação de uma ética de responsabilidade em âmbito global, onde os indivíduos devem valorizar e praticar o senso de responsabilidade pela humanidade e pelo mundo coletivo.
A Mídia e a Modernidade, desta forma, é uma obra de extremo valor, tanto por sua abordagem, - simples, porém criteriosa e analítica - quanto pela investigação social, apresentada por uma nova perspectiva, onde as mídias são base para a análise da sociedade. Essa relação entre sociedade e processos comunicacionais dá margem a uma série de outras investigações, fazendo com que o leitor não só receba as informações, mas reflita acerca do tema e observe sua própria vivência nos fatos apresentados.
O livro, portanto, destina-se majoritariamente a estudiosos das áreas sociais e comunicacionais, contudo, a forma pela qual o texto é produzido não restringe o público, podendo interessar a estudantes de variadas disciplinas, ou indivíduos em busca de informações acerca do tema tratado.
R.M.L.