Lennon.Lima 12/10/2017
Escrita pela jornalista Claudia Trevisan, que há vários anos é correspondente internacional na China para grandes jornais brasileiros, a narrativa começa quebrando a linearidade clássica de descrever um princípio remoto e culminar no presente familiar. Presente e passado transitam conforme a necessidade do aspecto escolhido a se destrinchar da cultura chinesa formando um mosaico atrativo que percorre a história milenar da civilização.
Considero escolha sábia ao considerar a quantidade de material a se tratar, o limite de texto que provavelmente se estabeleceu para a publicação e o que deve despertar maior interesse: os hábitos e costumes de uma China contemporânea sob um regime comunista, mas de política econômica capitalista.
O gigantesco aporte financeiro introduzido nos últimos anos devido a abertura da economia sem dúvida é o grande responsável pela transformação do cotidiano dos chineses metropolitanos. A leitura expõe que o país asiático é a mais nova capital dos endinheirados, dos deslumbrados endinheirados. Os chineses gostam de ostentar sem constrangimento algum o poderio financeiro de que dispõem, fazendo questão de comprar produtos das marcas mais valiosas e até importando artefatos que encontram facilmente dentro dos limites do próprio território. Tudo na China é grandioso. Deve ser grandioso. Os prédios devem ser os maiores do mundo, os parques de diversões, as atrações turísticas, os estádios de esportes, etc. É uma maneira de demonstrar a pujança ilimitada da nação mais populosa do mundo no século XXI.
Chama atenção também a mutação célere das grandes metrópoles para se condicionar a nova realidade industrial e consumista proporcionando obras urbanísticas cada vez mais arrojadas e complexas, desfigurando a paisagem de centros históricos; estabelecendo um conflito entre o tradicional e o moderno; gerando descontentamentos em camadas mais conservadoras e deslumbre aos desapegados a tais tradições.
Outro aspecto curioso são as superstições dos chineses. Os números "4" e "13" são evitados por serem considerados de má fortuna, O "4" é temido por sua pronúncia ser muita parecida com a pronúncia da palavra "morte". Em razão disso, os prédios têm os andares dos respectivos números "ignorados", o mesmo se aplica com as terminações dos números dos apartamentos. O número "8" é o queridinho por ser considerado símbolo de prosperidade, riqueza. Não à toa, a data de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim foi em 8/08/2008. Os valores dos números de celulares com o digito 8 valem o triplo dos que os que não o têm e, obviamente, os de dígitos 4 e 13 são os mais baratos por causa da baixa procura.
O atual governo Chinês vive uma batalha para desestimular hábitos adquiridos na Revolução Cultural que são um tanto chocantes para os ocidentais. Batalha que se intensificou com a chegada dos Jogos Olímpicos e com o país despertando cada vez mais atenção dos olhos do mundo. Sob o regime de Mao-Tsé-Tung, os "quatro velhos" - velhas ideias, velhos hábitos, velhos costumes e velha cultura - sofreram ataque brutal com o objetivo de "reeducar" a população. O incentivo era para que se distinguissem dos ocidentais burgueses, até nos modos, aprovando práticas como cuspir no chão ou arrotar depois das refeições, hábitos que perduram, mas, como dito, passaram a ser combatidas.
A mulher sofre um grande desprestígio na cultura chinesa. Tema que envolve questões de pensamento filosófico do venerado Confúcio como de questão econômica. Na China, reza a tradição de que o filho é responsável por cuidar dos pais na velhice, já a filha é obrigada a cuidar dos sogros. Como a demografia é um assunto caro no país e é de conhecimento geral a restrição imposta no número de filhos por habitante, a preferência sempre é dada aos meninos, ocasionando em milhares de abortos e abandonos quando da ciência do sexo indesejado da criança. Tal cenário estabelece a situação tensa de uma maioria masculina dentro do território nacional instaurando um mercado negro de sequestros, compra, venda e prostituição de mulheres.
A exemplo da publicação anterior o relato abrange muitos outros assuntos dedicando atenção as artes como cinema, literatura, teatro; a Revolução Comunista, religiões, idioma, etc.
Um excelente livro.
site: https://cartolacultural.wordpress.com/2016/12/24/descobrindo-povos-e-civilizacoes/