Marcela 11/02/2020
Após uma primeira parte bastante extensa e de ritmo meio maçante, que focou nos vários acontecimentos e desventuras que cercaram os casamentos Fraser-MacKenzie (Brianna e Roger) e Cameron-Innes (Jocasta e Duncan), a segunda parte de A Cruz de Fogo traz novo fôlego à narrativa da série, resgatando a dinâmica familiar na Cordilheira dos Frasers em meio a uma constante luta pela sobrevivência, seja por meio de batalhas homem x homem, típica de guerreiros, ou pelo homem x natureza selvagem, típica dos desbravadores.
É ótimo ver o quanto os personagens mudaram e o quanto de sua essência foi preservada ao longo dos anos. Jamie e Claire, por exemplo, não são mais aqueles jovens insubordinados de 20 anos atrás, mas depois de todos os desafios que enfrentaram, a devoção um ao outro e o vigor em lutar pelo que acreditam só fica mais forte... e, mais uma vez, os dois protagonizam cenas bastante bonitas, com diálogos memoráveis sobre os seus sentimentos e a maturidade (reforçada, também, pelo fato de que são avós de nada menos que três crianças - entre os filhos de Fergus e o de Brianna). Em relação a Brianna e Roger, senti que eles também foram mais estáveis e maduros nessa segunda parte que na primeira, onde ainda parecia que o relacionamento deles se baseava em desejo sexual, frustração e uma desconfiança velada devido à incerteza sobre a paternidade de Jemmy. Fergus e Marsali também aparecem mais aqui, mas ainda assim, sinto que têm pouco espaço em relação à história em geral, o que é uma pena pois amo o Fergus desde sua primeira aparição em A Libélula no Âmbar, ainda criança na França.
A história completa de A Cruz de Fogo abrange um período de cerca de dois anos (vai de fins de 1770 a meados de 1772) e, ao longo deste tempo, entre vários desafios, acompanhamos também como a relação entre Jamie e Roger se estreita e como este último evolui enquanto personagem, deixando de lado suas inseguranças em relação à própria vulnerabilidade para se adaptar ao cenário e lutar por sua família. Brianna também mostra sua força, determinação e criatividade em diversos momentos, se consolidando definitivamente como uma ótima personagem feminina. Além disso, aguns mistérios que foram colocados no início da narrativa são finalmente desvendados, o que torna o recurso da passagem dos meses interessante pois vemos como a trama é elaborada de uma forma humana e realista, pois, mesmo em meio a especulações e dúvidas em aberto, os personagens tiveram que deixar essas inquietações de lado por um bom tempo para lidar com outros problemas que foram aparecendo pelo caminho. Com uma narrativa complexa e cheia de detalhes intrincados, o quinto volume de Outlander reforça como a autora, Diana Gabaldon, é, de fato, uma excelente contadora de histórias.