MiCandeloro 11/07/2015
Misterioso, divertido e muito bem escrito!
Jack Peak era um autor de muito sucesso, que ficou famoso depois de escrever uma série de livros bem humorados, conquistando diversos leitores ao redor do mundo. O problema é que ele não estava satisfeito em criar apenas obras de mero entretenimento. Peak queria mais. Assim, começou a publicar livros mais adultos e sombrios, afundando consideravelmente a sua carreira.
Desesperado para encontrar a "ideia perfeita" para a sua próxima história, Jack se tornou obcecado pelas coincidências. Ele estava decidido, queria escrever sobre elas, mas não sabia como transformá-las em uma trama interessante. Assim, saiu pelo mundo afora, em busca das coincidências mais malucas, e passou a estudar os grandes físicos e psicanalistas, anotando todos os seus pensamentos no livro breu.
Quando Laureth, filha de Peak, recebeu um e-mail de um completo estranho, dizendo estar em posse do livro breu do seu pai e pedindo pela recompensa, entrou em pânico. Jack jamais se separaria do seu caderno de anotações. Onde ele estava? E por que não atendia ao telefone? O mais estranho disso tudo era o fato do livro breu estar nos Estados Unidos, enquanto a família Peak morava na Inglaterra.
Laureth estava determinada a desvendar este mistério e encontrar o pai, mas antes, precisava ir até Nova York resgatar o livro breu e salvar o trabalho de anos de Jack Peak. Mas Laureth não podia embarcar nessa aventura sozinha. A menina era cega, e sabia que a mãe seria completamente contra à sua jornada. Sendo assim, optou por "sequestrar" Benjamin, seu irmão, de apenas 7 anos, e o incumbiu da tarefa de ser seus olhos e seu guia nessa eletrizante viagem.
O que será que pode acontecer a uma jovem cega, a uma criança um tanto quanto peculiar, no meio de uma cidade grande, sem conhecer ninguém, em busca de um pai perdido?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Ela não é invisível é um daqueles livros que, primeiramente, me seduziu pela capa. Depois, bastou eu ler a sinopse para ficar completamente intrigada com uma trama que prometia, ao menos, ser ousada e diferente. O que não imaginava é que fosse cair de amores logo nas primeiras linhas.
Narrado em primeira pessoa por Laureth, conhecemos a angústia vivida pela personagem em razão do sumiço do seu pai. Ambos sempre foram muito ligados e, apesar de terem ficado um pouco afastados por um tempo, em decorrência das viagens de Jack e dos estudos de Laureth, a menina se preocupava com ele.
Laureth nasceu numa família um tanto quanto excêntrica. Jack era um homem muito imaginativo e empolgado, que adorava coisas diferentes. Tanto é que deu à filha o nome de um ingrediente de frasco de xampu. Benjamin também tinha as suas peculiaridades. Ele sofria do que os pais apelidaram de Efeito Benjamin, já que estragava todos os aparelhos eletrônicos dos quais se aproximava, de mesmo modo que o físico Wolfgang Pauli. Justamente por isso, Ben cresceu muito solitário, já que nunca podia jogar videogame ou computador com os amiguinhos, e encontrou refúgio nos livros e no seu melhor amigo, Stan, um corvo de pelúcia.
Benjamin amava a irmã e, desde cedo, aprendeu a guiá-la de uma maneira tão natural, a ponto de ninguém perceber que era ele quem dava as coordenadas a ela. Laureth, apesar de ter nascido cega, nunca sentiu falta da visão e sempre se virou. A única coisa da qual detestava, era se sentir invisível frente aos demais que, ou a ignoravam deliberadamente, ou a tratavam como uma coitada e incapaz. Justamente por isso, não teve alternativa a não ser levar o irmão na viagem para Nova York, porque sabia que não a deixariam viajar sozinha.
"(...) não dá para sentir falta de algo que a gente nunca teve, (...). Não me importo em ser cega. O que me incomoda são as pessoas me tratando como se eu fosse idiota."
Quando a aventura dos irmãos começa, somos tragados para um mundo de muito mistério e confusão. Página por página, acompanhamos não só as dificuldades de uma menina cega e de uma criança ao se virarem numa cidade tão grande e tão estranha, como temos vislumbres de algumas das páginas do livro breu e das anotações pessoais de Jack Peak a respeito de todas as descobertas que ele fez sobre as coincidências.
Confesso que essas foram algumas das partes que mais gostei na história, já que o autor fez questão de incluir dados reais e mencionou diversos físicos, matemáticos e psicanalistas, nos ensinando suas teorias e nos contando um pouco mais sobre as suas contribuições para o mundo da ciência. Todos os dados são tão interessantes, que ficaram martelando horas a fio na minha cabeça, prestes a me fazer criar várias teorias da conspiração, de mesmo modo como aconteceu com Laureth.
Marcus soube equilibrar divinamente sua escrita jovem, descontraída, bem-humorada e levemente dramática, com momentos de certa tensão e outros tantos de reflexão, elaborados de maneira mais adulta. Achei fantástico poder ler, pela primeira vez, uma obra com uma protagonista cega e compreender como é a vida de um deficiente visual, de mesmo modo que também adorei acompanhar a jornada de um escritor meio amalucado e dos seus grandes desafios para escrever um livro.
Como o mistério em torno do sumiço de Jack durou praticamente a trama inteira, fiquei temerosa para saber como o autor concluiria o livro. Não vou dizer que foi o melhor desfecho, mas me satisfiz com o rumo que a narrativa tomou. Talvez a intenção de Marcus tenha sido nos mostrar o quanto somos capazes de nos entregar à uma história de tal modo que desenvolvemos as nossas próprias deduções e acreditamos nelas como se fossem uma verdade absoluta, nos deixando envolver com a magia da ficção.
Este, certamente, foi o melhor livro jovem adulto que li no ano. Foi impossível não me apaixonar pelos personagens, não me envolver nos enigmas contidos no enredo e não me deliciar com tudo o que aprendi com as obsessões de Peak. Por ter capítulos curtos e bem pontuados, a leitura fluiu tão bem que, quando percebi, já tinha terminado de ler o exemplar.
Ela não é invisível fala sobre o amor de uma filha por um pai, a cumplicidade de dois irmãos e a coragem que temos dentro de nós para transpormos limites. Além disso, nos deixa com muitas pulgas atrás da orelha em relação às coincidências que, todos os dias, acontecem com a gente. Será que elas existem de verdade?
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