Fernanda | @psiuvemler 10/05/2016Intenso e emocionante! | [Império Imaginário] O Livro dos Negros, de Lawrence HillAminata Diallo era uma menina inocente que, com pouco mais de 10 anos, vivia tranquilamente na vila de Bayo, na África, com seus pais. Seus dias se resumiam a acompanhar a mãe em seu trabalho como parteira e, à noite, se reunia com a família ao redor de uma fogueira, cada um com uma xícara de chá em mãos, e ouvia atentamente o pai ensiná-la a ler o Alcorão, mesmo que, na época, fosse proibido.
Em um dia normal, quando Aminata e sua mãe retornavam de um trabalho de parto, um grupo de pessoas atacou-as e, na tentativa de fugir, a mãe da menina acabou sendo assassinada; seu pai, que também havia sido capturado, teve o mesmo destino ao tentar salvá-las. A partir daí, só o que restou da aldeia foi a garota que, acorrentada, foi levada por diversos homens para longe de sua terra natal. Aminata conheceu cedo demais os navios negreiros e da pior maneira possível. Sem família, sem roupas, com fome e longe de casa, a menina precisará fazer de tudo para sobreviver e cumprir o único objetivo que toma sua mente: o desejo de voltar para casa.
Em O Livro dos Negros acompanhamos a trajetória de uma sobrevivente dos piores e mais repulsivos atos humanos: a venda de escravos. Aminata, ou Meena, cresceu e envelheceu longe de Bayo, acompanhando e sofrendo com as marcas que sua cor de pele determinou. A mulher conheceu os homens brancos e conviveu com eles, após ser vendida várias vezes. Uns eram melhores que outros, mas alguns eram verdadeiros monstros. Aminata passou por dificuldades inimagináveis ao ter sua feminilidade roubada quando foi estuprada pelo seu Senhor (dono dos escravos do navio que ela estava) e, mais adiante, foi separada do marido e teve seu filho vendido enquanto dormia.
Observamos a história de uma mulher que lutou por sua vida até conseguir a liberdade almejada por todos. Ela passou por diferentes terras, conheceu diversas pessoas, realizou inúmeros trabalhos e se tornou uma das mulheres mais fortes e sábias de seu tempo. Depois de deixar seu lar, muitas vezes se esforçou para continuar aprendendo a ler e, posteriormente, foi ensinada a escrever por uma mulher que a acolheu em sua casa. O fato de saber ler e escrever lhe proporcionou numerosos benefícios que foram vitais para que ela recebesse ajuda e não perecesse.
Após estar segura, livre e ter sua imagem reconhecida por tudo o que realizou, Aminata foi convidada por vários outros homens para se juntar à campanha abolicionista, de forma que pudesse contar sua própria história e impulsionar o movimento. E assim ela batalhou para nunca mais precisar presenciar o que viu nos navios negreiros e correu atrás da lei que proibia os seus de passarem por tais dores e humilhações.
Nada do que eu falar parece ser o suficiente para expressar todas as emoções que esta obra me proporcionou. Eu ri com os diálogos de Aminata nos momentos em que tinha alguma paz, chorei com todo o padecimento enfrentado por ela e me emocionei demais com cada reviravolta dessa mulher que, apesar de toda a desgraça, deu um pontapé na morte para continuar a empenhar-se por seus direitos. O Livro dos Negros é uma história dramática que nos expõe a acontecimentos reais encarados por personagens fictícios e que, a cada página, nos mostra as atrocidades que a humanidade vem provocando através dos tempos, mas que, apesar de tudo isso, sempre terá alguém para estender a mão e trabalhar pelo bem-estar do próximo, independentemente de sua situação.
Todos os personagens são incríveis de forma que é possível imaginar cada um contando sua versão da história. Nem todos os de pele branca eram vilões. Através do olhar de Aminata podemos perceber o que uma pessoa pode fazer contra os seus companheiros para sobreviver, quando esta se preocupa apenas com o próprio nariz. Muitos personagens entraram na vida da garota; iam desde pessoas que saíram de Bayo com ela até outras encontradas pelo caminho. Em vários momentos eu ficava com vontade de colocar todos em um abraço e dizer que ficaria tudo bem.
A história é narrada em primeira pessoa, intercalando a estrada percorrida por Aminata para chegar onde está e o presente momento em que todas as batalhas estão vencidas. Lawrence Hill se baseia no documento histórico de mesmo nome para compartilhar a luta das pessoas para entrar no livro dos negros e conseguir sua liberdade. Todo o enredo é tão envolvente que, em uma noite, após terminar de ler, tive pesadelos ao imaginar que muitas pessoas enfrentaram tudo aquilo e nem sequer sobreviveram. O Livro dos Negros conta com relatos pesados e nada coopera para que a leitura se torne mais agradável. Sempre que achamos que as coisas vão melhorar para Aminata, mais alguma catástrofe acontece e sabemos que nada estará resolvido até que ela cumpra seu destino ao lado dos abolicionistas.
O trabalho editorial realizado pela Primavera contribuiu para que a leitura se tornasse uma experiência maravilhosa. A capa, em preto e branco, chama a atenção para a linda mulher estampada e o título fica destacado em um laranja vivo. A diagramação é simples, mas encantadora. O livro é dividido em quatro partes, cada uma com cerca de quatro capítulos nomeados, e essas partes iniciam-se com uma página em preto. A fonte é de tamanho médio e as margens e espaçamento são de tamanhos confortáveis. O único ponto negativo ficou por conta da revisão, que deixou passar vários erros, mas isso em nada tira a grandeza do enredo.
O Livro dos Negros é uma obra que recomendo para quem procura uma trama mais impactante e emocionante, com fatos históricos e conquistas importantes para a humanidade. Esse é um livro que carregarei para sempre comigo, contando para quem quiser ouvir tudo o que foi enfrentado por Aminata. É uma obra que, em minha opinião, todos deveriam ter a oportunidade de conhecer, pois as lições adquiridas são valiosas.
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