Analuz 20/06/2021
Quadrinho x Série
Em Sweet Tooth temos um mundo devastado por um vírus que matou boa parte da população, e cuja uma nova geração de crianças humanas híbridas com animais aparenta ser imune à doença que este trás. Dentre estas crianças, está Gus, o protagonista da história: um menino metade garoto e metade cervo, cuja jornada acompanhamos desde os frames iniciais. Logo neste primeiro volume, é possível detectar umas pistas sobre o que teria motivado o surgimento do vírus, assim como sua associação com as estranhas crianças que têm nascido (mesmo que, nas próximas publicações, venha-se a descobrir que o buraco é muito mais embaixo, saindo um pouco do campo da ficção científica e adentrando também na fantasia mitológica).
Devo dizer que o traço de Jeff Lemire não é dos mais atrativos, ainda que o seu nome, enquanto roteirista, seja um dos que mais brilhe na atualidade. Com uma arte inusitada para o formato dos quadrinhos, o autor causa certa estranheza que, surpreendentemente, combina em MUITO com o tom sombrio do quadrinho, mas que se difere do da adaptação. Com isso, creio que a própria estética do autor e a narrativa dark da HQ tenham sido os motivantes para que um projeto de adaptação tivesse sido rejeitado antes de ser adotado pela Netflix e por Robert Downey Jr. e sua esposa, enquanto produtores.
E que bom que veio a adaptação! E que bom, também, que houve certas mudanças na melancolia implícita de Lemire (que, aliás, usa o elemento como tempero para praticamente todas as suas obras). Assim, temos um mundo devastado, mas no qual ainda existem elementos puros e, de certo modo, adoráveis. E o grande destaque, é claro, vai para a seleção de Christian Convery (provavelmente uma das crianças mais fofas do universo) para interpretar o protagonista, diferindo TOTALMENTE do menino-cervo magricela dos quadrinhos (ainda bem!!!).
Ainda em relação às mudanças, é inegável que a série é muito mais palatável, com um tom que lembra até um conto de fadas ao incluir um narrador à história e personagens extremamente cativantes, como Bear e Aimee. Não que o aspecto melancólico seja um ponto negativo no quadrinho (aliás, também funciona muito bem), mas creio que a implementação de mudanças foi uma escolha muito acertada em pleno 2021 pandêmico. Ao optar por características diferentes, a Netflix nos afasta um pouco da triste realidade, ainda que a adaptação se trate de uma distopia que gira em torno de um vírus letal e de pessoas desesperadas por conta do mesmo. O próprio Jepperd (ou Big Man) da série chega a ser cativante, apesar de seu passado terrível e das escolhas que já fez!
Dentre outras diferenças que me agradaram, está a figura do pai de Gus. Na obra original, trata-se, praticamente, de um fanático religioso que escreveu o próprio evangelho em meio às suas crenças loucas. Já, na série, é apenas um cara comum, que vê sua vida mudar em questão de horas e tem absolutamente tudo pra fazer as escolhas mais confortáveis e, ainda assim, não as faz, sendo o personagem mais heroico de toda a história.
Sobre a existência da personagem da Birdie, que representa o mais próximo do que seria a mãe de Gus na adaptação, eu ainda tenho um pé atrás sobre como esta será desenvolvida mais adiante, uma vez que foi criada exclusivamente para a série e aparenta ser o elo que atará os aspectos científicos, especulativos e mitológicos do enredo.
Mesmo que a adaptação siga caminhos diferentes da HQ, creio que ambas conduzirão para um mesmo fim. E isto fica implícito na conclusão da temporada (com a cena ambientada no que parece ser o Alaska), que dá um gancho para uma continuação da história. Ao mesmo tempo, a cena em questão também dá as mãos para a história dos quadrinhos, dando uma esperança de que não haverá pontas soltas na conclusão da série.
Sobre o futuro da série, não existem dúvidas de que esta será renovada, dado o sucesso da temporada de estreia e o carisma dos personagens (em especial, é claro, do garotinho Gus). Com isso, eu realmente torço para que não se delonguem na narrativa, atendo-se a 2 ou 3 temporadas no máximo, uma vez que os quadrinhos de "Sweet Tooth" possuem um arco fechado.
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