Gramatura Alta 29/09/2015
Ficção de primeira
Através de um software que, inicialmente, teria como função o aperfeiçoamento do sistema judiciário brasileiro, Jeremias, um jovem prodígio da informática, foi além do planejado e revolucionou todo o país. Através do Condão, nome dado ao programa desenvolvido por ele, erradicou a fome e a pobreza, melhorou o sistema de saúde, criou drones que cuidam da limpeza e segurança, e definiu novas leis para todos no Brasil. Tornou-se o líder da nação.
Sem problemas, as pessoas passam a acreditar nas propagandas do governo e, aos poucos, ficam alienadas a ele. As relações humanas são abolidas, como o namoro, casamento, fidelidade, a criação de famílias estruturadas. Deixou-se de viver em coletividade, para viver individualmente.
"Nesse momento, Jan teve um sobressalto e seu coração disparou. Ficou com vontade de gritar que não era estéril, mas na verdade não sabia. Fora os encontros em simuladores, teve apenas três namoradas, uma delas no colégio. De resto, só encontros esporádicos. Nunca engravidara nenhuma delas. Mas não deixaria que a raça humana fosse extinta. Tentaria. Imploraria, se precisasse."
Isso, até que Edwardo, um programador, está fumando no telhado de um edifício e presencia o assassinato de dois jovens por drones, o que contraria a programação dessas máquinas, bem como as leis do Condão. A partir daí, inicia-se uma perseguição frenética, que envolve o melhor amigo de Edwardo, Jânio, um professor de história, e Sílvia, uma biogeneticista que namora Edwardo.
Conforme o trio tenta escapar, descobre as brechas que levam o sistema atual do governo para uma trama complexa engendrada por mentes mais inteligentes do que as deles. Toda a perfeição do sistema é colocada em dúvida, bem como o custo que a população está pagando pela suposta perfeição em que vivem.
Existe uma crítica voraz por trás da obra, que aponta para como as pessoas são facilmente manipuladas, e em como todo o bem tem seu preço. Aquele ditado que afirma que o poder consegue corromper, e o poder total, consegue corromper totalmente, é perfeitamente exemplificada quando chegamos ao final do livro.
"Então tudo parou. Homens, drones, androides. O próprio tempo pareceu parar. O ar, a água do rio. Tudo. Sentiram a mente invadida. Começara."
Às vezes, as boas ações, por melhores que sejam, ou por melhores intenções que tenham sido executadas, podem cobrar um custo demasiado alto. Não só pelo que abrangem, mas, também, pela forma como o resultado corrompe quem as executa. Não existe o bem total, nem o mal total. Tudo no universo existe em equilíbrio, do contrário, um lado exterminaria o outro. É uma lei da natureza. Quando algo se sobressai, ela compensa. Da mesma forma são as decisões humanas. A curto ou a longo prazo, o que fazemos de bom ou de mau, retorna para nós.
A distopia futurística criada por Giordano Mochel Netto é minuciosa, muito bem escrita e curiosa, por se passar em um país que necessita demasiado de um Condão, caso este não tivesse seu lado perverso, que corrompe todo o sistema e a população de uma forma bem mais sutil e perigosa do que o branco e preto de nossa sociedade atual.
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