O caminho estreito para os confins do norte

O caminho estreito para os confins do norte Richard Flanagan




Resenhas - O Caminho Estreito Para os Confins do Norte


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Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

O caminho estreito para os confins do norte, Richard Flanagan - Nota 8/10
Mais uma boa surpresa que conheci pela @taglivros! Por meio de uma narrativa que oscila entre o presente promissor do protagonista, que trabalha como cirurgião, e o seu passado marcado pelo sofrimento no campo de trabalho forçado, o leitor acompanha a vida de Dorido Evans e, sobretudo, os terrores da guerra. O cenário é, em grande parte, a construção da estrada de ferro de Thai-Burma, também conhecida como a “Ferrovia da Morte”, pelos prisioneiros de guerra. Comandados pelo Império Japonês, os prisioneiros trabalhavam em condições degradantes, sem qualquer forma de higiene, sem alimentação adequada e acometidos por uma violência brutal. Também prisioneiro, Dorrigo é o médico responsável pelos demais colegas e, por isso, se depara a todo momento com o sofrimento e a crueldade em seu extremo! É uma leitura pesada e impactante… O autor não mede as palavras para escancarar as verdadeiras condições do campo de trabalho! No começo tive um pouco de dificuldades em acompanhar as idas e vindas do protagonista no passado e presente, mas, depois que a leitura “pega”, não consegui mais largar o livro… A escrita é fluida e extremamente intrigante! Como nunca tinha lido muita coisa sobre a 2a Guerra Mundial na Ásia, me interessei pelo contexto histórico tratado. Recomendo!

site: https://www.instagram.com/book.ster
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Gigio 12/01/2024

Desconhecia completamente o alcance da segunda Guerra Mundial fora da Europa. Fiquei impressionado pelas atrocidades cometidas pelos Japoneses com os prisioneiros de guerra Australianos e de outras nacionalidades. O sofrimento e as privações a que foram submetidos são dignos de um campo de concentração nazista. Ainda me espanto com o quanto de maldade os humanos são capazes de produzir contra seus próprios semelhantes.
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André Vedder 09/09/2021

Para "reler a própria alma"
Sempre que ouvimos falar em alguma das grandes Guerras, automaticamente nos vêm à mente tudo de ruim que representa uma tragédia desse tipo. Mas são livros como este que nos levam ao âmago do estrago feito por uma guerra.
Em particular aqui, temos como pano de fundo a construção da Estrada de ferro de Thai-Bhurma, também conhecida como a Ferrovia da Morte, construída na Tailândia pelo Império do Japão, por escravos asiáticos e prisioneiros de guerra, que é onde entra os australianos e consequentemente nosso personagem principal da história.
O escritor usa uma narrativa não linear muito bem desenvolvida, e pra mim sua genialidade consiste no fato de aparte a situação vivida por esses trabalhadores forçados, e toda a crueldade envolvida, temos um antes e um pós guerra. E é aí que o autor foi diferenciado na minha opinião, pois construiu personagens humanos, sem criar o fácil clichê do "mocinho e vilão". Personagens esses que emocionam das mais variadas maneiras.
Richard Flanegan nos brinda com uma história muito além de um livro sobre a guerra, mas sim sobre seres humanos, ou em certos momentos, desumanos. No próprio livro tem uma frase que melhor o descreve: "Um bom livro, ele concluíra, nos deixa querendo relê-lo. Um grande livro nos compele a reler a própria alma." É isso.

"Um homem feliz não tem passado, enquanto um infeliz não tem outra coisa."

"Ele não acreditava em virtude. Virtude era a vaidade bem vestida e esperando aplausos."

"É nossa fé em ilusões que torna a vida possível."

"Talvez o inferno seja isso, concluiu Dorrigo, uma repetição eterna do mesmo fracasso."



"
Natália Carolina 09/09/2021minha estante
Adorei a resenha e fiquei com vontade de ler


André Vedder 10/09/2021minha estante
:-) que bom Natália!




Gisa 01/02/2021

Um livro sobre a visão asiática da segunda Guerra mundial que expõe a complexidade dos seres humanos e da própria guerra. Sobre amor, sobrevivência, desumanização, sobre nossa própria vulnerabilidade e sobre as dicotomias: pode um comandante abusador e cruel, amar poesia? Parece que sim.
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ElisaCazorla 27/04/2016

Eis o protagonista: a guerra
O que mais gostei aqui foi a narrativa fluída. Embora denso, não nos cansamos enquanto lemos este livro. O autor não segue os acontecimentos da vida dos personagens de forma cronológica, isso também é ponto positivo. Os personagens estão sempre pensando no passado e, quando imersos neste passado, relembram sua infância - o passado do passado. Cada capítulo pode ser de um personagem diferente e demora um pouco até entendermos onde eles se encontram, além de serem todos afetados pela guerra de alguma forma.
Penso que o autor quis colocar a guerra como personagem principal. O terrível da guerra. O retrato mais íntimo da guerra sem rodeios e sem ter qualquer pena do leitor. A parte mais longa do livro também é a mais dolorida, repleta de cheiros, excrementos, náuseas, violência horripilante, relato cru e pungente dos horrores da guerra. Mas, principalmente, como a guerra transforma, afeta e convive com suas vítimas de formas diferentes.
Lemos sobre como as diferentes maneiras de entender a guerra afetam cada um dos personagens. Eis a guerra! É a guerra que faz os monstros ou são os monstros que fazem a guerra? Quem são as verdadeiras vítimas e quem são os carrascos? Há, afinal, vítimas ou apenas carrascos?
Que livro denso! Não esperava nada disso. Fui surpreendida! Todo o livro é muito bom.
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Margallyne 03/05/2021

Começa entediante, no meio tu fica tenso e no final você só agradece por ter lido esse livro maravilhoso! Persistam!
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Lilian 16/04/2021

Sobre a guerra
O livro conta um trecho da Segunda Guerra Mundial, especialmente a participação de Japão e Austrália. Mas fala também de amor e de como a vida segue após a guerra.
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Flavia.Borges 02/04/2020

Livro que me fez adentrar em cenários sombrios de guerra, com a frieza necessária para sentir o impacto de uma guerra e a interrupção na continuidade da vida de Dorrigo e tantos outros. Apesar disso, é narrado através se sentimentos íntimos. Algumas partes do livro percebi a leitura truncada, mas manteve o interesse até o final.
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Marcos.Alexandre 03/07/2021

Livro lido de uma maneira despretensiosa como parte de um desafio. Mas surpreendeu. Narra a história de soldados australianos prisioneiros em campos de concentração japoneses na segunda guerra e usados como mão de obra na construção de uma ferrovia nas selvas da Tailândia. Fato histórico também retratado no filme clássico A Ponte do Rio Kwai. Numa guerra, mesmo o lado vencedor tem historias trágicas para contar. No futuro com certeza uma releitura com mais calma. Inesquecível.
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V_______ 27/11/2021

O Caminho Estreito Para os Confins do Norte
Dorrigo Evans, jovem médico militar australiano que acaba sendo capturado pelo exército japonês durante a segunda guerra mundial e levado como prisioneiro de guerra para trabalhar na construção de uma ferrovia que ligaria o Sião (atual Tailândia) a Birmânia (atual Mianmar), estrategicamente fundamentado para a empreitada japonesa. Essa estrada entrou para a história como a Ferrovia da Morte, devido as milhares de vidas perdidas na sua construção. Hoje considerado um herói de guerra, Dorrigo leva uma vida profissionalmente bem sucedida, mas pessoal amargurada pelas tantas vidas de companheiros perdidas e o grande amor de sua vida que não pôde realizar, um romance secreto com a esposa de seu tio.
O livro demora para ficar interessante, sinceramente só começou a me prender depois de umas 200 páginas, mas depois fica tão bom que compensa o início fraco, para quem gosta de marcar, esse é um livro com excelentes frases. Deixo como advertência que é preciso estômago para essa leitura, os horrores da guerra não são amenizados aqui, muito pelo contrário. Enfim, é uma ótima leitura, desde que tenha paciência com o início.
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Thalya 18/04/2021

Existência, resistência e guerra: ciclo de dor, sofrimento e luto
"Mas ele não soubera o que quisera dizer e ficara assustado por não saber para onde seus pensamentos o estavam levando. Sendo assim, será que ele tinha tão pouco controle sobre a própria vida? Ele se lembrou de nadar na praia uma manhã, esperando que ela voltasse da cidade. Uma correnteza o havia apanhado e arrastado algumas centenas de jardas até ele conseguir escapar".

Depois de mais de um mês de leitura, terminei o livro com muitas reflexões e incertezas. Contudo, uma coisa que tenho certeza: não é uma obra para pessoas que estão imersas em dificuldades ou muitas dores. Ainda mais nesse momento. Mas pode ser, que para alguns, da angústia e da náusea que o romance traz, surjam resistência e ressignificações da existência.

"Minha única ideia, Dorrigo havia confessado, é avançar e investir contra o moinho de vento. Taylor dera uma risada, mas Dorrigo quisera dizer aquilo mesmo. É nossa fé em ilusões que torna a vida possível, Squizzy, ele havia explicado (...). Era tudo ridículo e, no entanto, viver, ele dizia a si mesmo, requeria acima de tudo uma crença ridícula de que se poderia viver".

Além disso, não é uma leitura completamente trágica, obviamente. Há beleza ou a procura por ver beleza; a esperança que não abandona a mente da humanidade. Dorrigo Evans é o personagem chave dessa busca. E com ele aparecem outros tantos narradores e narradoras, pululando a história de vida, de vozes. E de esperança. Essas características o transformam em um romance polifônico, como analisou Mikhail Bakhtin sobre a produção de Dostoievski.

A crueza com as quais Flanagan faz uso durante sua narração e a descrição dos sofrimentos cotidianos dos australianos prisioneiros de guerra, é difícil de ser digerida. E a indigestão perpassa toda a narração da construção da famosa Ferrovia da Morte, a Thai-Burma que ligava Bangkok, Tailândia, Rangum e Birmânia (atualmente Myanmar).Construção vale lembrar, empreendida pelo Império Japonês durante a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente, em 1943.

O uso dessa linguagem crua, direta e seca incomoda, cutuca as feridas esquecidas da memória. Exatamente por essa razão, a leitura se torna dolorosa. Como os personagens, ou melhor, os prisioneiros, é quase impossível fugir dessas imagens suscitadas. E só de imaginar que estamos diante de um Romance Histórico, nosso estômago embrulha.

Relembramos das nossas próprias memórias. E o que faremos com elas?

"Por um instante, ele pensou ter captado a verdade de um mundo aterrador no qual não se podia escapar do horror, no qual a violência era eterna, a grande e única verdade, maior do que as civilizações que ele criara, maior do qualquer deus que o homem adorava, pois era o único deus verdadeiro. Era como se o homem existisse apenas para transmitir a violência a fim de garantir de que seu domínio fosse eterno. (...)"

Privados de alimentação, higiene básica, saneamento e descanso, muitos morrem durante a empreitada e esse trauma acarreta na dor que o protagonista carrega durante sua vida, tal como leremos logo no início, quando já o conheceremos mais velho, solitário e amargurado. Fica claro que essa é uma narrativa de cunho histórico com uma outra perspectiva sobre a tal temida e famigerada, Segunda Guerra Mundial.

Entretanto, para além desse pano de fundo e contexto histórico, teremos a história de amor entre Dorrigo e Amy, a mulher de seu tio. Um amor proibido. Um elemento que pareceria clichê, mas que é explorado de forma fenomenal pelo autor australiano quando apresenta descrições que nos conectam e nos tornam conscientes dos pensamentos do casal.

Por fim, enfatizo que vale a pena conferir o aprofundamento de perspectivas, de histórias, de dores e o limiar entre passado e presente surgindo constantemente para nós, leitoras e leitores, enquanto lemos e conhecemos mais uma nuance de um fato histórico.
Boa leitura!
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Tayene 22/06/2016

Uma rica tapeçaria
Comparado pelo The Guardian com uma rica tapeçaria, pode-se dizer que é exatamente o que O caminho estreito para os confins do Norte é. Um livro, que ao falar da II Guerra Mundial sob o ponto de vista de diversos personagens-atores à luz de uma inaudita história de amor, parece brincar com a memória do leitor, assim como faz com a dos personagens.

À priori, a leitura do livro pode ser difícil, pois fatos são narrados de forma não lineares, ora apresentando o protagonista no passado, ora passando para o presente, expondo fatos, para em seguida cruzá-los com outros e, aos poucos, ligar os pontos ou linhas à medida que o leitor avança na leitura. Ao chegar neste ponto, o difícil será largar o livro.

O romance de Richard Flanagan, embora tenha como protagonista Dorrigo Evans – um médico-cirurgião tasmaniano, oficial do Exército australiano e ex-prisioneiro de guerra forçado a trabalhar na construção da Ferrovia da Morte – se destaca justamente por não ser o herói ideal – título este que, talvez, caiba ao brilhante Darky (Frank) Gardiner.

Entre personagens prisioneiros de guerra, considerados menos que homens, guardas japoneses e todas as mulheres que cruzam o caminho de Evans, o autor transpõe o que se espera de um usual romance de guerra ao não se limitar ao tema dicotômico "bom versus mau", falando também sobre culpa, amor, responsabilidade, motivos, redenção, memória e, sobretudo, poesia. Segundo A. C. Grayling, filósofo britânico que participou da banca avaliadora do Booker Prize, a obra de Flanagan "é um livro sobre pessoas, suas experiências e relacionamentos.

A narrativa é atemporal e universal, mas o grande significado da história é não ter significado. Porque, embora O caminho estreito para os confins do Norte seja uma tapeçaria, representa com certeza uma tapeçaria inacabada, na qual alguns pontos ou linhas não se cruzam, assim como na vida real.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 15/07/2018

A Estupidez Da Guerra
Vencedor do Man Booker Prize e sexto romance de Richard Flanagan, "O Caminho Estreito Para os Confins do Norte", é um livro ambicioso e brutal que reúne ficção e realidade para abordar as "areias movediças da moralidade" humana em tempos de crise.

Girando em torno construção da Estrada de Ferro da Morte Thai-Burma em 1943, construída por prisioneiros de guerra sob comando do exército japonês, seu título foi extraído do mais famoso poema de Matsuo Bash?, contraditoriamente, um haiku sobre a capacidade humana para apreciar e promover a beleza ao seu redor.

Esse assunto não foi escolhido por acaso. Na verdade, o livro é uma homenagem ao pai do escritor, um oficial australiano que sobreviveu a essa insana aventura, abrindo caminho pela selva sob o opressivo calor e as constantes monções. Mantidos sob condições deploráveis, esses homens passaram fome, não tinham um abrigo decente e nenhuma condição de higiene. Viviam infestados de piolhos, expostos a cólera, malária, enfim, uma série interminável de doenças, enquanto a morte os espreitava. Aliás, contando unicamente com a sorte além da resistência física e moral, qualquer deslize poderia levá-los a severos castigos que iam de uma boa surra até a decapitação.

Alternando passado e presente, seu protagonista é Dorrigo Evans, um renomado cirurgião assombrado pelas lembranças desse período e por um fracassado caso amoroso com Amy, a mulher de seu tio. Considerado um herói, ele é um homem consciente de suas limitações e defeitos que sente-se desconfortável interpretando esse papel. Esse assunto aponta para uma pertinente análise sobre a estreita relação da bondade e da bestialidade, quando está em jogo a própria sobrevivência.

Evans também é um homem letrado, apreciador da obra de Tennyson e, especialmente, do seu poema "Ulisses" que é várias vezes citado ao longo da leitura. Na realidade, essa narrativa nada mais é do que a recriação de uma "odisseia", pondo a prova seu caráter épico e trazendo à luz o difícil retorno e readaptação ao lar dos sobreviventes de uma batalha onde só há perdedores.

Para finalizar, esteja preparado para enfrentar uma leitura angustiante, capaz de revirar o estômago ou exigir uma pausa para você poder seguir adiante, mas não desista, pois ao mesmo tempo, trata-se de um dos mais comoventes relatos sobre a estupidez da guerra.

"Um homem feliz não tem passado, enquanto um homem infeliz não tem mais nada."
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Rodrigo1001 25/05/2018

Cortante como uma navalha! (Sem spoilers)
Há poucas semanas postei uma resenha sobre o livro Desonra de J.M. Coetzee que dizia mais ou menos assim:

“[...] já vou avisando que este é um livro muito forte, que requer uma boa dose de estômago. Causa um tremendo desconforto, nos deixa inquietos, deprimidos e desperta muita raiva”.

Coincidência ou não, estas mesmas palavras caem como uma luva para O Caminho Estreito Para os Confins do Norte, com o agravante de que, aqui, neste livro, elas são elevadas para um patamar ainda mais visceral.

Sendo essencialmente um relato sobre a barbárie da guerra, o autor conseguiu produzir um livro que tem todo o potencial para se tornar um grande clássico no futuro. Com um estilo pontuado por frases envolventes e uma prosa feroz e tocante, a história começa tímida e um pouco confusa por conta de avanços e retrocessos na linha do tempo. Mesclando ficção e realidade, tudo vai ficando mais denso a medida que acompanhamos a vida do protagonista e de seus amigos.

Já no início, temi que a parte ficcional do livro eclipsasse a porção verídica da história, mas, felizmente, isso não ocorreu. O livro é apoiado nas lembranças do pai do autor, que foi prisioneiro de guerra durante a construção de uma ferrovia que ligava o Sião (hoje Tailândia) à Birmânia (hoje Myanmar). Essa ferrovia ficou mundialmente conhecida como “A Ferrovia da Morte” já que mais de 100.000 soldados morreram durante sua construção. O autor levou 12 longos anos para escrever o livro, fez 5 rascunhos diferentes, foi ao Japão entrevistar algozes, remexeu em arquivos históricos. Um trabalhão!

O bom disso tudo é que seu esforço foi mais do que recompensando.

Premiações à parte, foi um prazer imenso ler O Caminho Estreito para os Confins do Norte. Mesmo a lentidão do início desaparece dentro do mérito da obra. As características dos personagens, suas psiquês, são descritas com uma realidade impressionante. O livro penetra fundo na alma do leitor. Incomoda tanto que chega a causar náusea. A parte ficcional da história, um romance, se encaixou muito bem no contexto e finalizou muito, muito longe do que pode ser considerado clichê. O desfecho, a propósito, é impactante.

Enfim, eu poderia escrever sobre este livro a noite inteira, mas sinto que ainda não faria jus aos sentimentos que me despertou. Com ele, entendi que a obscenidade da guerra não é apenas o sofrimento que inflige às pessoas, mas o fato de obrigar pessoas boas a praticarem sofrimento e a terem de lidar com essa culpa depois. Afinal, o que faz um torturador quando chega em casa?

Para transcender o horror e encontrar a luz, percebi que Flanagan resolveu escrever este livro quase como um relato histórico, um grito de liberdade. A questão de como os japoneses entendem o conceito de honra, as diferenças do comportamento ocidental e oriental, a crueldade, o esquecimento que vem com o tempo como um bálsamo para se lidar com os traumas. O livro trata desses temas com profundidade e elegância.

Como último fato trágico e inusitado, depois de ter ajudado o filho com seus relatos sobre a ferrovia da morte, o pai do autor – prisioneiro nº 335 a quem a obra é dedicada – faleceu justamento no dia do lançamento do livro... a ironia mais amarga a coroar um livro já essencialmente triste.

Leva 5 de 5 estrelas.

Passagem interessante:

“É acreditar na realidade que acaba com a gente toda vez” (pg. 263)
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Cintia Fernandes 09/06/2016

Tentando agarrar a luz...
A primeira frase do livro “Por que no princípio das coisas sempre a luz”, trata de um assunto que o autor vai abordar constantemente, sempre que algo for relacionado com a Austrália, a infância e juventude do protagonista, “Luz”, mas para por aí, pois é um livro sobre a Guerra e tudo que dela resulta.

A humanidade sempre conviveu com, ou em guerras, pelos motivos mais diversos: luta por território, intolerância étnica ou religiosa, divergências políticas, etc. Um dos maiores e mais sangrentos conflitos de toda a história da humanidade ocorreu em decorrência da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entre os principais motivos que levaram a explosão dessa grande guerra estavam as intenções expansionista de países como Alemanha, Itália e Japão.

O livro relata uma parte pouco conhecida, pelo menos eu não conhecia, da Segunda Guerra, a história dos prisioneiros de guerra australianos do Império Japonês, forçados a trabalhar na construção da “Ferrovia da Morte”. Prisioneiros de guerra são, ou deveriam ser, protegidos pelas leis estabelecidas nas convenções de Haia e de Genebra de quaisquer violências, indignidades ou experiências biológicas. Contudo, o Império Japonês nunca assinou nenhuma das Convenções de Genebra, o livro relata como esses prisioneiros tiveram que enfrentar a escravidão, a fome, torturas, humilhações e doenças como cólera e leishmaniose.

A história se desenrola em torno de Dorrigo Evans, ou “Amigão” (maneira como era chamado por seus comandados no campo de prisioneiros), um médico-cirurgião e oficial-comandante australiano. Somos transportados magistralmente tanto para “a linha”, como era chamada a construção da ferrovia e sua chuva torrencial, como para a Austrália contemporânea permeada pela luz solar.

Gostei muito do livro e da escrita poética de Richard Flanagan, ambos me encantaram, mas preciso confessar que muitas vezes não tinha vontade de retomar a leitura. Os relatos das crueldades, e principalmente, de como as diversas doenças matavam de forma lenta e brutal seres humanos famintos me chocaram, muitas vezes senti repulsa, outras tantas o sentimento era de incredulidade em ver até que ponto o ser humano é capaz de chegar.


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