jg 03/06/2013
Vou fazer um relato um pouco pessoal, mas acho que pode se referir ao livro de maneira geral.
Comecei a ler ele e demorei quase um ano pra terminar, mas é verdade que li alguns livros nesse meio tempo. Em parte foi pela falta de tempo ou pela própria falta do livro, já que tava emprestando ele da biblioteca e tive que devolver.
Como nos seus outros livros, é impressionante a quantidade de dados, histórias e pesquisas que o Jared Diamond conseguiu juntar nesse trabalho, muito interessante mesmo tomando cada capítulo por si só, onde ele narra histórias de colapso ou sucesso em sociedades específicas do passado ou atuais. Uma nota de louvor para a Ilha de Páscoa, umas das histórias mais famosas, mais misteriosas e interessantes. Também para a ilha de Tikopia, que apresentou soluções aos problemas ambientais numa perspectiva de baixo para cima, ao contrário dos outros cases de sucesso onde foi necessário um grau de autoritarismo e poder concentrado.
Isso já me remete a uma análise mais genérica que eu tenho do livro e minha principal crítica, que é a crença do autor numa suposta neutralidade social, a ausência de uma leitura de classes e de como é intrínseco ao sistema econômico-político em que vivemos a destruição ambiental. Isso tá evidente o tempo todo, mas como exemplo, só se referir aos elogios que ele faz a diversas empresas e ramos da economia danosos, como determinadas empresas petrolíferas que seriam melhores que as concorrentes em termos ambientais.
Ou seja, está claro que pra ele poderemos suavizar o capitalismo e guiar as empresas para um patamar ecológico através do consumo consciente e de ONGs ambientalistas. Não vou me alongar aqui sobre por que acho isso um equívoco tremendo, apenas pontuar que o capitalismo não é uma organização da vida social, muito pelo contrário, é sim o desgoverno de toda vida econômica e social que segue apenas os interesses da multiplicação do capital. Assim, não há como pensar em gerir a sociedade de maneira sustentável enquanto se vive no sistema capitalista, pois é da sua natureza apenas fazer o necessário para lucrar mais e mais. Além disso, esse sistema social complexo se reproduz através da ideologia que promove e do interesse de classe existente em seus maiores beneficiários, os mesmos que comandam grandes empresas e Estados. Ele não mudará substancialmente de maneira ordeira, gradual e pacífica - será necessário uma ruptura, do tipo que Diamond não quer pensar a respeito.
Enfim, vale a pena ler esse livro quem tem interesse em pensar nossa relação com a natureza e chances de sobrevivência no futuro, acho que é um ótimo exercício comparativo entre sociedades e é muito bom conhecer como outras culturas lidaram com problemas ambientais similares. No entanto, não é um bom guia para uma atuação consequente na transformação dessa mesma sociedade que ele dá subsídios para atacar (ou temer), uma sociedade que usa seus recursos naturais além do limite e que, caminhe como está indo hoje, terminará por colapsar.