Luciana Fátima 18/03/2016
A RECONSTRUÇÃO DA LIRA
[trecho do prefácio, escrito por Bruno Anselmi Matangrano]
"Delírio, Poesia e Morte - A Solidão de Álvares de Azevedo é, como explicita o subtítulo, uma biografia romanceada, mas mais do que isso, é um exercício de sensibilidade, no qual fica nítido que a autora não poupou esforços para recriar em seu narrador o legítimo poeta ultrarromântico. Os sentimentos de Azevedo, bem como suas impressões e gostos estão aqui reproduzidos de tal modo que a voz de um se coloca na de outro, fundindo-se.
Um exemplo disso parece estar no prefácio a O Conde Lopo, no qual o poeta diz que "o fim da poesia é o belo. / Belo material, belo moral; do belo por assim dizer mimoso, até esse belo arrebatador que se chama sublime [...] - Pois o que é o sublime senão o grau mais ardente do belo?..." Com este trecho em mente (e sabendo do gosto pela morte do autor), quando lemos, em dado momento, a voz do Álvares de Luciana dizer: "Mas não é bela a morte? E como é caprichosa! Imagino-a deslizando em meio à névoa e recolhendo a alma daquele pobre diabo para aquecê-la com seus beijos". Torna-se evidente o quanto se fundiram as duas vozes. O eco de uma está evidente na outra. O Álvares-narrador realmente captou a alma do Álvares-poeta, fundindo um ao outro, de modo que ao leitor soem como uma só verdade.
A lira foi reconstruída. As duas vozes se tornaram uma só."
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