jota 03/05/2021BOM: Yalom narra casos psiquiátricos relacionados ao medo da morte, doenças terminais, problemas de relacionamento, questões existenciais e outrasLido entre 26/04 e 01/05/2021. Avaliação da leitura: 3,5
Criaturas de Um Dia contempla dez relatos psiquiátricos sendo que o título do livro foi retirado do último capítulo. Quem aparece em todos eles é seu autor, Irvin D. Yalom, escritor e psiquiatra americano, muito conhecido por Quando Nietzsche Chorou e outros destacados romances. Também publicou várias obras relacionadas a psiquiatria e psicologia, de leitura bastante acessível até mesmo para leitores comuns, como Mentiras no Divã e Vou Chamar a Polícia, dois livros que me agradaram, assim como a ficção sobre Nietzsche. Não é bem o caso de Criaturas de Um Dia, a continuação de O Carrasco do Amor, que li em 2017.
Como aquele, esse também traz histórias sobre pacientes com variados problemas, que buscaram no autor solução para suas angústias ou sofrimento. Nos dois livros são narrados casos psiquiátricos singulares, que Yalom tratou e resolveu totalmente ou ao menos em parte. As histórias tratam principalmente de medo da morte, doenças terminais, especialmente câncer, problemas de relacionamento, de falta de criatividade, questões existenciais etc. Ainda que curiosas, algumas delas me pareceram apenas medianamente interessantes como literatura, mesmo porque são mais destinadas a terapeutas e pessoas com aprofundado interesse na psique humana e no crescimento pessoal. Eu as li apenas para passar o tempo, mas não posso negar que algumas são tocantes, comoventes mesmo.
Esse título, Criaturas de Um Dia, vem de uma citação retirada de Meditações, livro de reflexões filosóficas de Marco Aurélio, imperador romano do século II. Um paciente do dr. Yalom portava sempre consigo seu exemplar. O trecho selecionado diz: “Somos todos criaturas de um dia, tanto os que lembram quanto os que são lembrados. Tudo é efêmero, tanto a lembrança quanto o objeto da lembrança. Em breve você terá esquecido o mundo e o mundo o terá esquecido. Nunca esqueça que logo você não será ninguém nem estará em lugar algum.” Daí que somos criaturas de um dia; comparadas à história da humanidade nossas vidas são extremamente curtas e cada pessoa deve viver de modo digno, pregava Marco Aurélio. O texto traz outras interessantes citações de Meditações e nesse caso o objetivo do psiquiatra foi demonstrar como seu paciente encontrou a si próprio imitando a prática de um antigo imperador.
Os demais casos estão resumidos por Yalom no Epílogo: “Em diversas ocasiões, os pacientes destas histórias se beneficiaram com algo que eu não conseguiria prever. Um paciente me sagra como testemunha de que uma pessoa significativa o considerou importante. A sensação de realidade fraturada de um paciente é reparada por um encontro autêntico com seu terapeuta. Outro nota que a vida real é vivida no presente. A vida de outro paciente é mudada quando lhe recomendo um organizador doméstico. Uma enfermeira é apresentada ao seu melhor eu. Uma escritora emudecida encontra sua voz. Os últimos dias de uma paciente agonizante são impregnados de sentido quando ela serve de pioneira da morte para seus amigos e sua família. Uma paciente, que também é terapeuta, percebe que o diagnóstico pode prejudicar e distorcer a compreensão.” Yalom acrescenta que suas histórias têm fundo pedagógico, são lições vivas de psicoterapia nem sempre encontráveis nos cursos das universidades. Talvez nem nos livros de outros psiquiatras, eu diria. Aproveitem, pois...