Ju Zanotti 13/02/2017 Não dá para fazer um breve resumo de Cidade em Chamas, essa é uma obra tão extensa e cheia de detalhes e caminhos que o pouco que eu poderia falar seria nada. O que posso dizer é que ela imprimi no leitor a sensação da Nova York dos anos 70, que os personagens transpiram aquela sensação de liberdade e que na maioria dos momentos as histórias se tornam bem interessantes, ao menos quando não se liga essencialmente em filosofia e paranoias, o que acontece muitas vezes. Eu queria realmente poder vir aqui e falar muito bem do livro, porque ele tem potencial, mas me sinto podada ao lembrar todo o sofrimento que passei durante quase um mês para terminar a leitura.
"Agora a gente está no fim dos anos 70, a destruição da viagem, com as contradições internas desmoronando e estrondando, o retorno dos reprimidos. É o sistema, que engoliu tudo, tendo a sua indigestão. Pelo milagre da dialética surge uma terceira via, que é você dar um cutucãozinho. Você melhora as coisas, as pessoas relaxam. Você piora as coisas, elas se rebelam. Assim, as coisas têm que piorar antes de melhorar. Assim está escrito."
A verdade é que alguns livros acabam se tornando um parto e este foi o caso de Cidade em Chamas, apesar de não ser uma história ruim a leitura é cansativa, o livro é extenso demais e alguns personagens não tão cativantes e, para piorar, a narrativa alternada complica ainda mais a identificação do leitor. Ao menos para mim isso foi um problema, visto que eu estava mais interessada na história de alguns do que na de outros. Contudo, todos os personagens dessa obra acabam se entrelaçando em algum momento e é essencial prestar atenção a tudo para que não se perca nada mais para frente. Dançando em volta do crime que vitimou Sam Carmine os personagens mesmo sem saber acabam fazendo aprte de uma trama muito maior do que inicialmente se apresenta. Interligada entre diversos personagens e com a presença essencial de interlúdios o autor cria uma trama que promete pregar o leitor as páginas, mas que para mim não funcionou. O problema maior é que são tantos personagens e tantas história que isso torna tudo ainda mais cansativo. Mas no fim, e o melhor de tudo, é que o livro não é ruim.
A minha decepção está ligada a comparação inicial que fizeram de Cidade em Chamas com relação aos livros de Jonathan Franzen, não li muitos livros do autor, mas ao ler "Liberdade" eu rapidamente me vi interessada na trama, que apesar de cotidiana trazia um certo mistério e era isso que eu esperava da história de Garth Risk Hallberg, mas apesar de ter encontrado exatamente estes elementos senti que comparar ambos os autores não é bem uma sacada esperta. Ao passo que Franzen estimula a curiosidade do leitor Hallberg a mingua. São tantos detalhes, tantas histórias e tantos personagens diferentes que o que os ligava não chamava realmente atenção.
Apesar de tudo o clima da obra é exatamente o que ela vende, a história transpira o punk que era tão intrínseco a sociedade dos anos 70. É perceptível o clima revolucionário da época, contudo nada disso foi suficiente para mudar a ideia que absorvi de que a história não estava levando a lugar nenhum. Mas o que mais me deixou cansada nesta leitura é que o autor não identifica seus personagens logo no início dos capítulos e isso acaba prejudicando o leitor na hora de identificar o que está realmente acontecendo ali, eu começava a ler o capitulo e não fazia a menor ideia do que estava acontecendo e com quem, o que tornou a ambientação algo fraco também, já que eu não consegui me situar.
Enfim, Cidade em Chamas é um livro para ser lido com calma, muita calma, precisa ser absorvido, aquele tipo de história que você pega para ler com a cabeça limpa e sem muitas preocupações, já que ela é bem dispersível. Tive a sensação de que algo ficou faltando e o fato de isso acontecer mesmo a história tendo 1040 páginas é inconcebível para mim, no geral apesar de ser um bom livro acabou sendo mais uma decepção. A capa, a diagramação e o cuidado da editora provavelmente foram responsáveis por uma estrela a mais nesta leitura, pois definitivamente está tudo muito bem feito. Agora só me resta pensar que talvez não tenha lido este livro em um bom momento, no mais não deixo de indicar, pois pode ser uma leitura totalmente diferente para você que está aqui lendo essas críticas.
"E você, lá fora: de alguma maneira você não está aqui comigo? Quer dizer, quem ainda não sonha com um mundo diferente deste aqui? Quem dentre nós — se isso quer dizer abandonar a insanidade, o mistério, a beleza totalmente inútil de um milhão de Nova Yorks um dia possíveis — está sequer disposto a desistir da esperança?"