Vanessa Vieira 20/03/2017
Ana Karênina Volume 1 - Tolstói
O livro Ana Karênina, do escritor russo Tolstói, nos traz um romance profundo e bem tecido que tem como tema principal a infidelidade e que também retrata família, casamento, desejos carnais, paixão e as diferenças entre a vida no campo e na cidade. Seus personagens são marcantes, fortes e bem delineados, tornando a trama extremamente panorâmica e rica.
O cerne principal do livro é o relacionamento extraconjugal de Ana Karênina - esposa do aristocrata russo Alexei Karenin - e o oficial de cavalaria Conde Vronsky. Ana parte de São Petersburgo para visitar seu irmão Stiva, que se encontra com o casamento em crise. Dolly, sua esposa, após descobrir que o marido está tendo um caso com a preceptora da família, fica completamente desconcertada e o matrimônio deles é profundamente abalado. Ana vêm com o objetivo de conversar com a cunhada e persuadi-la a não se separar de seu irmão, alegando que a infidelidade de certa forma faz parte do universo masculino e induzindo-a a perdoar Stiva. O que a protagonista não imaginava é que essa sua intervenção seria na verdade um reflexo da sua posterior situação.
Depois de conhecer o Conde Vronsky assim que desembarcou do trem em Moscou e consecutivamente o caminho dos dois irem se cruzando e se estreitando cada vez mais, Ana não resiste às investidas do oficial de cavalaria e os dois iniciam um romance intenso e proibido. A história de amor deles abala toda a sociedade russa e coloca Alexei Karenin em uma situação complicada e humilhante. Paralelamente à isso, conhecemos também Konstatin Levin, um proprietário de terras apaixonado por Kitty, irmã de Dolly. Ele chega a propor até mesmo casamento a moça, que o rejeita por estar encantada pelo Conde Vronsky e sente pela primeira vez em sua vida a dor da desilusão e do amor não correspondido.
Ana Karênina é um livro intenso, profundo e complexo. E eu digo complexo de forma positiva, pois, por mais que Tolstói use até mesmo de uma linguagem rebuscada e um tanto requintada, o autor sabe como ninguém desnudar a alma humana e apurar com afinco todos os seus defeitos e qualidades. Seus personagens são fortes, nada ponderados e comedidos e com uma intensidade que consegue saltar das páginas e impactar o leitor capítulo após capítulo. Narrado em terceira pessoa de um modo bastante amplo e detalhado, o enredo é arrebatador e pouco a pouco nos conduz por um abismo de mentiras e destruição.
"Todas as famílias felizes são parecidas entre si. As infelizes são infelizes cada uma a sua maneira."
Ana é uma personagem intrigante e que se entrega a paixão como uma folha caída baila ao sabor do vento. Acho que é muito complicado julgá-la ou tentar rotulá-la como mocinha ou vilã, mas o fato é que ela se torna uma verdadeira mártir diante dos acontecimentos e apesar deste primeiro volume dar mais ênfase a sua paixão despudorada e abnegada por Vronsky, é quase visível que na segunda parte se inicia o declínio da protagonista, já apontado por indícios de paranoia e possessividade.
"Quero que compreendas que, desde o momento em que comecei a amar-te, tudo na vida se transformou para mim. Aos meus olhos nada mais existe além do teu amor. Se puder contar com ele, sinto-me elevada e tão firme que nada poderá me humilhar. Orgulho-me da minha situação."
Vronsky me pareceu galanteador demais e os seus sentimentos por Ana são sobrepujados pelas pressões exercidas pela aristocracia russa e por sua própria insegurança. Por mais que ele acredite amá-la, é visível o quanto ele preza sua vida social, ao contrário de Ana que abriu mão de tudo para seguir o amante, inclusive do marido e do filho, se tornando praticamente uma escória da sociedade. Alexei Karenin mostra uma ambiguidade impressionante e os seus sentimentos são perfeitamente compreensíveis para o leitor, ostentando todo seu ódio pela situação, bem como seu amor benevolente e resiliente por aqueles que o feriram. Por mais que eu tenha esperado uma postura mais enérgica e contundente por parte do personagem, admirei sua complacência e sabedoria.
Resumidamente, Ana Karênina é uma obra intensa, perturbadora e absurdamente humana. Creio que as minhas palavras são rasas e até mesmo obtusas demais para expressar todo o teor e amplitude do romance de Tolstói e prefiro também não me estender muito, visto que ainda não li o segundo volume de Ana Karênina e pretendo poupar alguns detalhes para a próxima resenha, mas o fato é que nos deparamos com a alma humana exposta de um modo tão nu e cru de maneira a nos chocar e também a nos comover. A capa é simples e feita em um material semelhante a couro e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho, revisão de qualidade e tradução impecável feita por Manuel Siqueira Paranhos. Recomendo ☺
site: http://www.newsnessa.com/2017/03/resenha-ana-karenina-volume-1-tolstoi.html