Gabi 07/09/2015
"Este papel olha para mim como se soubesse da terrível influência que exerce!" (Pág. 13)
Por se tratar de um conto, não é possível apresentar muitas informações sobre, afinal, qualquer coisa pode ser considerada spoiler. Mesmo assim, resolvi fazer esse post, ainda na coluna de resenhas, para falar um pouco sobre essa história curta, mas capaz de proporcionar diferentes críticas e reflexões.
Com um caráter autobiográfico, a obra retrata uma situação um tanto esquisita vivida pela autora que, após ser diagnosticada pelo marido e pelo irmão, ambos médicos, com uma temporária depressão nervosa, segundo eles sem gravidade, é levada para um sítio, onde deve passar um período de "repouso", para que assim possa se recuperar dessa ligeira tendência histérica que a afeta. Sendo obrigada a permanecer no quarto, sem contato com pessoas além de John, seu marido, e Jennie, responsável por cuidar da casa, e sem permissão para fazer algo que não seja repousar, com exceção do momento em que sua família lhe visita, a mulher começa a observar o local. Entre todos os aspectos, o que mais lhe chama a atenção, e causa até certo incômodo inicialmente, é um papel de parede amarelo, que a cada momento parece apresentar uma nova característica, sempre seguindo um padrão.
Apesar da premissa um tanto confusa, O Papel de Parede Amarelo critica a situação da mulher na época em que esse conto foi escrito (final do século XIX), quando a submissão era a única característica do sexo feminino vista pela sociedade. Em várias ocasiões percebemos como a protagonista é submissa ao marido, ao aceitar todas as suas imposições mesmo que elas não soem coerentes para as suas condições. Um exemplo dessas medidas impostas por John (que na realidade foram impostas pelo médico da autora, pois quando Charlotte teve uma séria crise psicológica, ele orientou que ela ficasse em casa, proibida de exercer qualquer atividade, o que só piorou o seu estado) é o fato da esposa ser proibida de escrever, como se isso fosse capaz de exercer alguma influência negativa no seu estado mental.
Além disso, podemos refletir através da visão do papel de parede. Em cada instante, a mulher identificava algo de novo nesse artefato da decoração de seu quarto. Mesmo caracterizando um momento de insanidade da nossa autora e protagonista, isso nos mostra que a ideia de que podem existir diferentes modos de enxergar algo ou alguém, maneiras distintas de pensar sobre uma mesma coisa, está inteiramente correta. Algo pode ser ou não simples de compreender, vai depender dos olhos de quem vê. Até mesmo um papel de parede amarelo.
A leitura é bem rápida, em formato de depoimento, uma espécie de desabafo, onde acompanhamos a maneira como a autora se sentia na situação em que se encontrava naquele período. São 39 páginas (ou mesmo dez, dependendo da edição/do e-book) que merecem a nossa atenção e reflexão. Super recomendo.
site: http://frases-perdidas.blogspot.com.br/2015/09/minha-estante-40o-papel-de-parede.html