Renata CCS 20/07/2016E alguém ainda precisa de motivo para amar Mr. Darcy?.
“A (nova) leitura nos dá uma releitura de nós mesmos. E cada palavra lida, seja onde for, acrescenta sabedoria”. (Paola Rhoden)
Uma boa releitura irá depender do bom entendimento da leitura da obra, de explanar bem aquilo que foi lido e colocar a criatividade em ação. O mais importante é conceber algo novo, sem perder o vínculo com a fonte que serviu de inspiração. Muitos fãs acabam torcendo o nariz para releituras de seus livros mais queridos. Eu me incluo nesse grupo. Quando me deparei com O DIÁRIO DE MR. DARCY, da autora Amanda Grange, fiquei interessada, pois sempre tive a curiosidade de ver o lado Darcy da história, mas também fique receosa. Afinal, “Orgulho e Preconceito” é um clássico. O meu mais querido clássico.
A curiosidade venceu, deixei o meu orgulho e preconceito de lado, e parti para a leitura. Vamos lá. Na obra de Jane Austen, a história é contada sobre a perspectiva de Lizzie, mas nunca deixou as emoções de Darcy passarem despercebidas. Amanda Grange conseguiu, em minha opinião, reescrever o livro sobre os olhos de Darcy sem descaracterizar a história. Ela nos apresenta um Darcy bem próximo do de Austen: muitíssimo exigente consigo mesmo, extremamente protetor em relação à irmã e amigos, e também a inicial indiferença por Lizzie que, aos poucos, vai se tornando a paixão que vemos em “Orgulho e Preconceito”.
Grange conseguiu ser coerente em relação à obra original e, embora esteja longe de alcançar o charme, a sagacidade e a sutil ironia da escrita de Austen, a leitura é agradável e flui de maneira leve, utilizando de uma linguagem mais contemporânea, mas dentro de certa formalidade, já que a inspiração vem de um livro escrito há mais de 200 anos. Também me pareceu um tanto fantasioso o fato de Darcy manter um diário e imaginei que a história poderia ser contada em forma de cartas trocadas entre familiares e amigos, já que ele regularmente escrevia cartas na obra original.
O livro começa alguns meses antes do início da narrativa de “Orgulho e Preconceito”, quando Darcy teve problemas com sua irmã caçula, Georgiana, e George Wickham, o desprezível oficial que no futuro será novamente um estorvo na vida de Darcy e de Lizzie, e termina algum tempo depois do casamento dos protagonistas, focando a relação com as famílias e até uma certa conciliação do casal com Lady Catherine De Bourgh, a tia de Darcy.
Foi interessante ler algumas partes que não foram mencionados no livro de Jane Austen, como a intromissão de Darcy em relação a Bingley, seu melhor amigo, fazer a corte à Jane, a irmã mais velha de Lizzie, e também o encontro de Darcy com Wickham com os detalhes da negociação do casamento com Lydia, a irmã caçula de Lizzie que foge com o oficial.
“Orgulho e Preconceito” tem inspirado diversas releituras – algumas lamentavelmente duvidosas – mas a de Grange, mesmo tendo se equivocado em algumas situações, é elegante e, talvez, a mais bem-sucedida até o momento.
Não é uma leitura imprescindível para o fãs de Jane Austen, mas é uma boa oportunidade de se apaixonar por Mr. Darcy novamente.