Mari Siqueira 03/01/2017Um romance dark (dark novel) sobre vingança e poder não pode ser nada menos que arrebatador. Assim como seu protagonista, Depravado tem um lado sensual, interessante e sedutor, mas também tem muitas falhas que forçam seu lado obscuro, selvagem e violento. Com uma narrativa intensa, essa é uma daquelas histórias para amar ou odiar, o mesmo acontece com o homem misterioso que dá nome ao livro.
Repleta de clichês, fetiches e desejos femininos, Depravado foi escrito para mulheres que não tem medo de falar sobre sexo e de explicitar suas preferências. É uma narrativa pós cinquenta tons de cinza que explora ao máximo a fantasia do sexo com alguém misterioso e, por isso, nada indicada para pessoas conservadoras. Confesso que eu estava bem empolgada para começar essa leitura, mas recebi um balde de água fria no decorrer da trama.
A ideia por trás do livro é, já, bastante desgastada, mas ainda renderia uma boa história. O problema foi que Jaimie Roberts envolveu muitos clichês em cenas toscamente irreais e o resultado não convenceu. Gostei de muitos elementos, mas também detestei tantos outros. As cenas de ação eram totalmente forçadas, uma mistura ruim de o Poderoso Chefão com Missão Impossível, onde nada fazia muito sentido.
Romance erótico, o contexto em que acontecia o sexo também não era nada convincente. Um tipo de "estupro consensual", a relação entre os protagonistas era assim, bizarra. Um estranho - apelidado Lótus - chegava na calada da noite, transava com a garota - de forma bem violenta, e até aí ok, porque ela gostava de sexo selvagem - e saía escondido, voltando quando estivesse afim. Tyler, a garota, simplesmente permitia que um cara qualquer continuasse vindo e fazendo o que bem entendesse com ela sem nem ao menos saber quem ele era.
Além disso, antes das relações sexuais, Lótus/Dean esteve por três anos perseguindo e observando Tyler. Ele invadia sua casa, trocava as coisas de lugar e a provocava e ela achava tudo lindo, afinal, é sempre bom ter companhia.
O fetiche do desconhecido é compreensível, mas aceitar que alguém a persiga, interfira na sua rotina, invada sua casa e sua privacidade e ainda o considere especial por isso é um pouco demais. Quando li que ela adorava o fato do "estranho" virar seu carro de lado na vaga, simplesmente fechei o livro e voltei depois. É surreal! Garota, tem um maldito psicopata atrás de você e ele tem entrado na sua casa todos os dias por anos. Qual é o seu problema?
Enfim... Tyler se apaixona pelo homem que vem - perdão pela expressão - f***-la todas as noites, mas nunca a beija. Aos poucos, vamos percebendo que o "estranho" é um ex-namorado que voltou para se vingar. Essa parte da história é até que plausível, mas o desenrolar catastrófico da vingança chega a ser cômico. As coisas vão ficando tão óbvias quanto final de novela e o nem os personagens secundários - planos demais - conseguem segurar as inúmeras falhas no enredo.
Se eu pudesse resumir o livro de Jaimie Roberts, diria que é uma boa história, mas pessimamente aproveitada. A vingança está destinada a fracassar, sempre, mas a narrativa não precisava ter seguido o mesmo rumo. O protagonista nem é assim tão depravado, só gosta de uma pegada mais hardcore e encontrou uma parceira que topa tudo o que ele deseja, então, o grande lance é que não é um livro memorável ou interessante. Pelo contrário, Depravado é um daqueles romances que não acrescentam muito, exceto a paranoia de checar se seu carro está parado do jeito como você deixou.
"- Ao buscar vingança, cave duas sepulturas: uma para si mesmo.
- Douglas Horton" (p. 201)
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