Dhiego Morais 31/07/2016IntergalácticaEste ano eu resolvi acompanhar com mais atenção os perfis literários do Instagram e os canais do tema no YouTube. Nesse início do segundo semestre ouvi falar de “Intergalactica” e em pouco tempo surgiu a oportunidade de conferir a história.
“Intergalactica” é uma obra de ficção científica, estreia de Franco Poltronieri Trotta, natural de São Paulo. Escrito originalmente em inglês — Trotta foi alfabetizado em inglês, primeiramente —, o livro ganhou a sua versão em língua portuguesa pelo próprio autor; lançado em 2015 pela editora “Livros Ilimitados”.
“Existe uma eletricidade na lua. Um pulsar, uma magia, uma energia. Um transe envolvente diferente do sol. A lua é para o que não é visto, para coisas feitas nas sombras e debaixo da névoa. É para corações selvagens e mentes despreocupadas. É onde os planos são feitos em corredores escuros e segredos são revelados debaixo da fraca luz entrando pela persiana fechada.”
A trama do livro gira em torno de teorias de conspiração, viagens espaciais e descobertas de novos planetas, além de abordar assuntos como a possibilidade de vida inteligente fora da Terra.
O livro inicia em 2009, onde somos apresentados a Amanda, uma garotinha de nove anos, filha de Oswald, um renomado cientista e inventor. A pequena família vive na Islândia, dentro de uma área excluída de Hallormstadur, onde o pai da pequenina tem o seu laboratório. A passagem de tempo que temos para observar a cena é curta, mas pode-se perceber um leve distanciamento do pai para a menina, ainda mais quando saltamos para 2010, onde um fato importante ocorre.
O ano é 2010 e Amanda decide ir ao laboratório de seu pai, após notar algumas luzes estranhas. Pensando que talvez ele tivesse retornado antes do previsto de sua viagem, a menina rompe os limites e direitos e adentra o espaço restrito do trabalho de Oswald. É lá que ela testemunha eventos incomuns e entra em contato com a sua última criação: o Órbita.
Em poucos minutos uma série de coisas ocorrem, o que acaba desencadeando a fuga de Amanda e de sua babá (ou governanta), Shirley.
Cerca de vinte anos se passam e a próxima visão que temos, em poucas páginas de diferença, é a de uma Amanda em estado de coma. Acordando com dificuldades, após uma meningite aguda, a jovem retorna com uma série de lembranças, de memórias distorcidas, pouco compreensíveis. No entanto, ciente de que existe algo de verdadeiro e importante no meio das imagens embaralhadas, ela começa e refletir.
Auxiliada por seus amigos, Stryker, Ripley e Lina, as peças se encaixam com mais velocidade quando ela descobre sobre a expedição espacial da NASA a uma das luas de Júpiter, Europa. Para Amanda, existe muito mais do que o desejo de cruzar fronteiras em busca de vida inteligente. Há algum objetivo mais sombrio mascarado na viagem, e ela parece ter ideia de quem pode estar por trás disso.
Em quase trezentas páginas, Trotta leva o leitor por uma série de cenas e tramas que se intercalam, promovendo uma dose alta de ação e reviravoltas. “Intergalactica” atravessa viagens espaciais, com direito a exploração de planetas e de outras raças; tudo o que uma ficção científica clássica prevê.
Contudo, o romance também possui os seus contras. “Intergalactica” peca principalmente na revisão. Erros de digitação; concordância verbal e de gênero (Ripley é tratada em alguns momentos como “ele”); falas de personagens que se misturam em um mesmo parágrafo, etc. Acredito que parte disso se deva ao fato de que a obra foi traduzida de sua versão original, em inglês. Esses erros se repetem e podem incomodar alguns leitores.
Além disso, por ser o seu romance de estreia, são perceptíveis algumas inconsistências na trama, um furo ou outro na parte científica que pode irritar os leitores mais críticos de ficção científica. Personagens com idades trocadas; Deus Ex Machina e resoluções de alguns problemas de forma descabida são outros exemplos.
Várias personagens são apresentadas, porém, infelizmente não consegui me sentir próximo ou criar empatia por nenhuma delas. Amanda, mesmo, sendo a principal, quando adulta, uma psiquiatra renomada, demonstrou ser um tanto quanto vazia, até mesmo irritante, ou pouco profissional. A personagem que mais demonstrou realidade foi Ripley, e, ironicamente, foi a que menos teve participação.
Acredito que o autor poderia ter aproveitado mais a trama, dividindo-a em dois livros maiores (já que há dois grandes momentos no livro). Com isso, haveria a possibilidade de se aprofundar nas personagens, em suas histórias pessoais e seu psicológico. As ideias são muito boas, todavia, não foram bem trabalhadas.
“[...] É por isso que você deve treinar, domar sua mente. Dessa forma, ela vai sempre mostrar o caminho, especialmente com todos vocês [...]”.
De forma geral é razoável. Para quem gosta de ficção científica e literatura nacional, não custa nada conferir. Leitura é sempre uma questão subjetiva!