Contribuição à Crítica da Economia Política

Contribuição à Crítica da Economia Política Karl Marx




Resenhas - Contribuição à Crítica da Economia Política


2 encontrados | exibindo 1 a 2


gabriel 26/08/2021

Marx, muito discutido e pouco lido

Marx é uma espécie de "Paulo Coelho" das ciências sociais (e da política, da economia, da filosofia...), um sujeito discutido por todos os lados, amado e odiado, mas que pouca gente realmente o leu. Comparo ele ao bruxo pelo fato de este também sofrer a injustiça arrogante do famoso "não li e não gostei" (com a qual compactuo), ainda que todos cantarolem letras do Raul Seixas escritas por ele. Vida que segue...

Digressões a parte, elegi este livro para iniciar uma leitura mais estruturada do autor alemão. Já havia lido textos dispersos ao longo da vida, como todo ser humano normal (coisas como o Manifesto, e algumas tentativas desastradas de iniciar O Capital, e possivelmente li o artigo da Wikipedia também). Mas estas não me contentaram e resolvi me aventurar nas páginas deste autor tão importante.

Depois de ter lido todo o material, a conclusão a que eu cheguei é que este não é um bom material introdutório aos temas tratados pelo autor. O texto é muito árido na maior parte das vezes, com discussões muito específicas e técnicas sobre temas da economia do século XIX. É claro que tais temas devem ter implicações em muitas discussões atuais (afinal, estamos falando de Marx e da sua radiografia impiedosa do capitalismo), porém num primeiro momento é um pouco difícil fazer a ligação. Certamente leituras complementares são requisito para o aproveitamento adequado deste estudo.

Aqui temos uma edição ótima, com ótimos textos de complementação, comentários (muito úteis e claros) de Friedrich Engels e também do nosso glorioso Florestan Fernandes. São materiais que ajudam a entender o contexto do material e a sua importância, bem como os temas trabalhados. Mesmo assim, o material é pesado, mesmo uma leitura atenta apresenta bastante dificuldades (que, no final, são somente benéficas).

Marx discute aqui a economia burguesa a partir de muitos dados levantados e de uma ampla literatura envolvendo economia e até mesmo filosofia. Surpreendente que até os gregos entram na história (há muitas citações, por exemplo, a textos de Aristóteles). Marx aqui faz uma longa e detalhada exposição envolvendo os diversos pontos de vista ao longo da história sobre o dinheiro, a mercadoria e a economia de um modo geral. É, então, um impressionante esforço intelectual, infelizmente um pouco obscuro para quem não está a par sobre todos estes detalhes da discussão econômica.

A leitura ajuda a esclarecer um pouco mais de onde vem o valor do dinheiro, assunto que tomamos como já como dado, mas que na verdade (a partir do senso comum) não temos uma ideia assim tão clara. O texto é uma longa discussão sobre a origem do valor do dinheiro e como isso se insere na visão de outros economistas (e do próprio Marx). A ideia do valor enquanto tempo de trabalho é, talvez, uma das partes mais claras do livro (mas, como o próprio Marx indica, é uma ideia normal, já presente nos economistas liberais).

É um livro basicamente sobre economia mesmo, a política e o socialismo não entram muito aqui. O prefácio do livro é talvez mais famoso que o próprio livro, por conter a primeira definição marxista do materialismo histórico (sendo, portanto, recomendadíssima a sua leitura). O livro também possui frases ótimas e uma acidez muito grande, quando Marx distribui patadas nos outros intelectuais. Marx tem aquela pretensão deliciosa, que vemos também em autores como Friedrich Nietzsche, de ser ele o inteligentão da parada e o resto, burro. Isso gera polêmicas muito interessantes (mas há momentos também de troca de respeito e reconhecimento dos outros autores, é claro).

Engels esclarecendo melhor a influência hegeliana no autor (e como ela opera) é muito interessante. Na verdade, tomando como base este texto, parece que o problema de Marx não é tanto com o Hegel, mas com os discípulos medíocres do cara, que fizeram uma salada com ele. O Hegel em si parece ok e contribuiu muito para as concepções marxistas.

Marx tenta aqui assassinar a metafísica, como um bom pensador do século 19. Kant tentou fazer o mesmo anos antes dele e Nietzsche conseguiu (?) anos depois. Então podemos dizer, de maneira algo livre, que se trata de um importante registro de um concepção "assassina" da metafísica. É uma pena, pois a metafísica é algo muito legal, bem como o idealismo, e não devo negar um incômodo na leitura, quando ele nega estes atributos.

A importância de Marx hoje é imensa, após décadas e décadas de crise (defendo a tese informal, mas que eu já li de gente séria por aí, que estamos numa grande "crise de 29" gigante que nunca terminou), então este autor, com suas observações agudas e sua atenta análise deste sistema, é mais do que essencial. Essencial também é fazer parte dos 0,01% das pessoas que fazem comentários sobre Marx e realmente leram Marx. Um autor dessa magnitude, que praticamente moldou o século XX (e moldará o XXI?) não pode passar despercebido por quem quer entender este mundo.

Dentre os vários ótimos momentos do livro, me chamou a atenção como Marx explica por que o ser humano tem tanta paixão pelo dinheiro, essa mercadoria especial que é capaz de representar todas as outras. A paixão viria não de um subjetivismo humano, mas de uma própria necessidade da economia burguesa. Mais materialista que isso, impossível.

E também, é claro, de como o dinheiro (o "valor de troca", no caso) passa a dominar todas as relações econômicas, o que é algo muito fácil de se verificar hoje inclusive, com a praticamente total banqueirização e financeirização de todas as relações.

A nota tenta refletir a importância do texto, seu cuidado, e com aquele desconto habitual na nota, por não ser a coisa mais agradável do mundo de ler. Trata-se de um estudo profundo da Economia Política com muito debate com diversos autores e otimamente embasado em diversos fatos concretos por ele levantados. Vale arriscar a leitura, ainda que o desavisado possa apanhar (e muito) do seu linguajar técnico e insípido.
comentários(0)comente



Talvanes.Faustino 02/11/2021

Fundamental
Fundamental pra quem buscar ler O Capital. Neste pequeno e notável texto vemos uma crítica poderosa aos principais economistas europeus, como Smith, Ricardo entre outros.
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR