ReiFi 28/04/2011
Manifesto Comunista - karl Marx e Friedrich Engels (em Quadrinhos)
Por José Reinaldo do Nascimento Filho
“A história de todas as sociedades que existiram é a história de luta de classes”.
Irritou-me profundamente essa adaptação em “quadrinhos” do Manifesto Comunista, de karl Marx e Friedrich Engels (que na verdade de quadrinhos tem muito pouco, sendo o nome mais propício para esse pequeno livreto o de Manifesto Comunista – Ilustrado). O modo como os desenhos supriram as críticas aos costumes burgueses em simplistas representações ilustradas pareceu-me falha e reducionista. Pode ser alegado que a intenção era justamente essa, a de transformar um texto complexo em uma mídia mais didática – no caso, os quadrinhos; todavia, dicotomizar a luta de classes para aquele que é bom, aquele que é mau, não me pareceu uma escolha inteligente (olhem com atenção a capa, e percebam como a *simbologia do perverso está incrustada nas feições do gigante e comilão burguês). A partir do momento que é apontado os “heróis” e “vilões” na história, o papel importantíssimo da análise de Marx e Engels cai por terra. Para mim as ilustrações, ao invés de facilitar o entendimento do texto original, serviram mais como panfleto político e para seduzir mentes inocentes e facilmente manipuláveis. A função dos quadrinhos, ou de qualquer outra mídia, deveria ser a do esclarecimento e incitamento à crítica, e não à demonização de classes.
Não estudei o Manifesto Comunista; não conheço as idéias de Marx (apesar de já ter lido três dos seus livros mais conhecidos: O Capital, o próprio Manifesto Comunista e O 18 de brumário de Louis Bonaparte), e embora guarde algumas informações básicas do conteúdo principal, a moral da história – pelo menos nos quadrinhos – é a de que o capitalismo existe porque os burgueses eram malvados e não tinham coração.
Apesar de tentar capitar as idéias básicas e repetir na íntegra alguns trechos do texto original, a dicotomia, proletariado = bom e burguês = mau, pareceu-me estupidamente simplista e errônea. No entanto (e como gosto disso), essa versão assinada pelo tradutor Rodolfo Marcenaro, de 1979, serviu-me para esclarecer algumas idéias sobre o papel do meu irmão, Eduardo, no seu atual emprego, como também para entender melhor a conversa que tivemos numa reveladora noite de… não me lembro mais. Para ilustrar nosso bate-papo sobre as agruras referentes às suas jornadas cansativas, foi que escolhi dois trechos do “quadrinho”. No primeiro, temos a análise sobre o salário mínimo e o que ele verdadeiramente significa; e no segundo, uma fala de um superior a um operário que ousou reclamar seus direitos.
“Examinemos o trabalho assalariado. O preço médio do trabalho assalariado é o mínimo do salário, quer dizer, a soma dos meios de subsistência indispensáveis ao operário para continuar vivendo como operário. Assim, o que o operário ganha pelo seu trabalho é estritamente o necessário para a mera reprodução de sua vida, de sua força de trabalho”.
“Fora daqui! Seu trabalho já não me serve. Vai querer, por acaso, que eu o mantenha por sua bela cara? Adiante, outro”. (pág. 52)
*E se há crítica, há também elogios. Percebam como o perverso é simbolizado, mas percebam também como todos os operários têm as mesmas feições. Se no capitalismo o individual é supervalorizado, no comunismo ele – o individual – cede lugar a supervalorização do coletivo.
Para saber mais, acesse: http://catalisecritica.wordpress.com/2010/11/29/manifesto-comunista-karl-marx-e-friedrich-engels-em-quadrinhos/