Vitória 02/07/2020
A nossa metade sombria
Pesquisando sobre as obras de King, A Metade Sombria me chamou muita atenção quando li seu resumo - e apesar disso, demorei pra engatar na leitura. Demorei alguns meses pra sair das primeiras 50 páginas, mas a história é envolvente demais para que seja abandonado. Apesar disso, não foi a história em si que me cativou, e admito que não ache que é um trama que me prendeu tanto quanto outras obras de King - mas a simbologia de George Stark é o que torna tudo muito interessante. A metade sombria, aquela que todos nós temos, presente num nível freudiano é retratada na obra através da personificação de Stark - é um fenômeno... familiar.
E por fim, "O passado azul", poema de Bukowski, o qual não saiu de minha cabeça durante a obra toda.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?