Dani 01/03/2024
Densamente poético
É belo e deslumbrante ler uma peça de Shakespeare, sempre revestido de descrições poéticas e na maioria das vezes de forma exagerada, se tornando um prato cheio para os amantes de clássicos. Reúne várias tonalidades do autor, como a psicologia, o Direito, a volúpia da paixão, a graça que o deboche carrega e o ódio exacerbado.
É um ponto interessante a observar o personagem Shylock, que se resume a um agiota, e é curioso que por mais que ele fale sobre os sofrimentos que ele passou e passa, não há um arco de redenção, porque não há provas vivas de que ele é merecedor de empatia, uma vez que, logo em seguida das suas lamentações, ele se alegra quando descobre que vai ter sua vingança consumada, e é tamanha sede de vingança que a coisa que ele mais ama no mundo, o dinheiro, não é o suficiente para abona-la e por conclusão teve um final pior que a morte.
Mas se teve uma personagem que teve a construção perfeita, foi a Pórcia, o que é difícil de entender em livros-peças pelo contexto do biotipo do livro, por serem só falas e tudo ocorrer de forma rápida e intensa.
Desde o início se manteve coerente e logo na primeira aparição deixou claro que só casaria se o lado sentimental falasse mais alto que o da razão. Logo, assim que encontra Bassânio, parece que foi um amor a primeira vista, de tal modo, que de cara ela pede pra ele ficar um pouco mais e se confunde em meio as palavras, demonstrando alguma falha desse lado da razão, e como se tivesse acionado um botão nela, o lado emocional dá vazão, demonstrando uma insegurança. Porém, no decorrer do livro o leitor vai tendo mais provas da inteligência de Pórcia e você se pergunta, se de fato era uma insegurança ou mais um de seus testes para ver a reação de Bâssanio.
Há alguns pecados considerando o contexto histórico, mas de forma geral é uma das melhores obras de Shakespeare.