spoiler visualizaranasemgema 13/02/2024
Precisamos de Razão e Sentimento
Essa edição de Razão e Sentimento é simplesmente fenomenal. Adorei a tradução de Ivo Barroso, alguém que definitivamente contribuiu para meu amor pela obra de Jane Austen.
Pessoalmente, adoro personagens que encorparam características únicas como a razão e o sentimento que a Elinor e Marianne representam, respectivamente. Austen trouxe à personalidade destas a essência desses adjetivos que parecem tão contraditórios, mas que ambos são necessários quando se trata de amor.
Ao longo da leitura percebemos que as atitudes impulsivas de Marianne por causa de sua paixão a levam para a beira da morte por negligenciar sua saúde e, assim, contribuir com sua baixa imunidade. Ao passo que a excessiva racionalização por parte de Elinor em relação a tudo e todos, sempre colocando os outros primeiro, como o fez todo o tempo com Marianne, a levou ao ápice: seus sentimentos sempre negligenciados, o que a consumia por dentro.
Certamente, as irmãs se complementam. Enquanto Marianne é completamente transparente e por vezes sua emoção se torna tão exagerada que precisa de alguém para trazê-la de volta à realidade, Elinor acaba por se tornar a pessoa que o fará. A abnegação dela só faz com que a outra cresça e seus sentimentos expandam em detrimento do desaparecimento da irmã.
Mas como eu disse, no amor é necessário tanto sentimento como a razão. Quando Marianne conhece Willoughby e esgota todos os assuntos de uma vez e diz que a intensidade é melhor que a duração em si, ela não está completamente errada. Porém, por se entregar à paixão, ela deixou a cautela de lado e percebemos isso quando passou a agir como se já tivesse um compromisso com o tal quando, na verdade, não tinha, e por isso sofreu terrivelmente. Sim, penso que tenha sido defraudada por aquele homem cujo nome não gosto de falar, mas sua inocência e sentimentos a cegaram para a realidade. Felizmente, em seu relacionamento com o coronel Brandon as coisas se equilibraram, mas ela manteve sua essência, se entregou de todo coração no tempo certo. Se ela tivesse se envolvido aos poucos desde o princípio, teria se poupado de muita coisa.
E da mesma forma com Elinor. Ela fez certo em não presumir que estava comprometida com Edward, mas excluiu toda a esperança que poderia ter durante toda a história ? sem contar que escondeu seus sentimentos das pessoas que mais se importavam com ela. Enfim, tudo isso para esclarecer que por mais que temos as personagens com tendências fortes a um elemento mais do que outro, no final, tanto Mariane como Elinor precisam de razão e sentimento ? assim como você e eu.
Ademais, adorei a narrativa. Pude devorar o livro em poucos dias. Amei a quantidade de personagens, as descrições dos lugares, e os diálogos significativos.
Também, vejo que há muitas reflexões que podem ser feitas a partir da obra para além do que já falei.
É possível discutir acerca do propósito do casamento, as relações sociais da época e as de hoje, hábitos um pouco diferentes (como pegar o cabelo da amada), temas relacionados a herança, profissão e dependência financeira, dentre vários outros.
Por isso gosto profundamente de Jane Austen. Ela me enche de assuntos e traz diferentes perspectivas. O narrador é justo e verdadeiro, reconhece até mesmo erros de maternidade da sra Dashwood em dado momento? Aprecio essa tentativa em mostrar a beleza, mas também as falhas da era vitoriana.
Bom, mesmo separados por séculos, o ser humano continua o mesmo em relação a tantas coisas, e Razão e Sentimento continua a ser um sucesso justamente por isso ? por mostrar quem somos quando nos relacionamos e por apontar quem poderíamos ser se fizermos as escolhas certas, com o coração e com a mente.