Caio 11/04/2022
Os contos do livro compartilham do mesmo personagem principal, quase sempre a mesma cidade como pano de fundo e a temática voltada para a solidão urbana unida a uma realidade que esmaga as mulheres, onde muitas vezes são colocadas em papéis de vítimas ou objetos de sedução. Nisso tudo, Nelsinho acaba sendo o grande “herói” - como é ironicamente denominado em algumas histórias - e representante de todos os homens do Brasil, ou, principalmente, na Curitiba de Dalton.
A capital paranaense aos olhos do autor, até onde entendi, é um ponto fosco perdido, sujo e sem salvação. As histórias d’O Vampiro de Curitiba vão nos arrastando, junto com o já citado Nelsinho, pelo mais profundo abismo do desejo carnal, mostrando quão degenerada, perdida e isolada pode estar a mente humana nos tempos modernos. A sexualidade é presente em todos os momentos, seja na mente pervertida do protagonista ou seja em suas aventuras libidinosas. O que Dalton queria, ele alcançou: pintou com maestria o quadro do escravo atual, regido pela tara, por um amor e ódio incondicionais com relação às mulheres, e incapaz de manifestar-se como ser humano.
As cenas podem ser repulsivas em contos como Debaixo da Ponte Preta, Noite da Paixão e A Velha Querida, que são, para mim, os mais interessantes e também os que mais me tocaram, mas são necessárias para que a mensagem seja passada e tenha seu efeito. Aliás, A Velha Querida, ao meu ver, é uma espécie de síntese de toda a ideia presente na obra, onde o desejo e a violência se contrapõem (amor e ódio), a asfixia feminina é um fato e a cegueira causada pela vontade sexual prevalece.
Um livro com mais de cinquenta anos incrível e ainda bem atual. Extremamente recomendável.