Sâmella Raissa 27/09/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
Já havia algum tempo que Audrey não estava satisfeita ou feliz em seu namoro com Evan; o rapaz cujo foco parecia estar apenas na própria banda, os Do-Gooders, não pareceu prever o marasmo que estava seu relacionamento até levar um fora da garota. Da mesma forma, porém, Audrey Cuttler também não esperava virar o novo foco da mídia nacional ao ser retratada na música que acabou por levar a banda do ex-namorado ao sucesso instantâneo, passando a ser o principal alvo dos paparazzi. De repente a vida pacata que ela levava deu lugar a uma onda de situações pra lá de inesperadas e inconvenientes que só a fama poderia lhe proporcionar, e no meio de julgamentos como sendo a ex-namorada malvada e sem coração que todos parecem enxergar na música, é chegada a hora em que ela terá sua chance de mostrar quem ela é de verdade nessa história.
Já tem um bom tempo desde que A Música que Mudou Minha Vida foi lançado no Brasil, e muitas foram as vezes em que fiquei querendo ler o livro a partir dos comentários incríveis do Henri B. Neto sobre Audrey e sua história fora de série. Infelizmente, já tem um tempo também que o livro tem andado fora de catálogo, uma vez que não faz mais parte do acervo da Galera Record, e portanto foi uma verdadeira surpresa me ver com uma oportunidade de ler a história após ganhá-la em um sorteio no blog Hey Evellyn! em Janeiro desse ano. Passou-se um tempo até que eu criasse coragem para lê-lo, por fim, depois de certo receio de estar com muitas expectativas pela crítica positiva do Henri e acabar me decepcionando, mas fico feliz em dizer que tais expectativas não só foram alcançadas, bem como acabei sendo realmente surpreendida pelo livro.
“—Esse não é exatamente o tipo de encontro que quero com ele. Você está deixando de fora todo o lance da privacidade.
Ela descartou a ideia com um pft.
— A privacidade é superestimada.
Olhei pela janela e vi três garotas olhando para mim de um carro a duas vagas de distância.
— É fácil falar isso — eu disse para Victoria — quando você ainda tem uma vida privada.”
É com maestria que Robin Benway presenteia o leitor com uma história de ritmo leve e traços cotidianos cuja narrativa flui com tanta facilidade e rapidez que não demora muito para que a leitura avance e, aos poucos, nos vejamos envolvidos pelo enredo e seus personagens. Audrey é uma protagonista de humor fácil e pensamentos aleatórios mas rápidos e constantes com quem eu rapidamente simpatizei e me apeguei durante a leitura, e acompanhar o drama que ela enfrenta ao se ver nos holofotes da mídia nacional após "Audrey, Espere!" emplacar nas principais paradas musicais é divertido e conflituoso ao mesmo tempo, quando rimos dos eventos que ela nunca se imaginou vivendo e de repente deparando-se com elas do nada no seu dia-a-dia, até o momento em que queremos abraçá-la e afugentar a todos que insistem em importuná-la e propagar uma imagem falsa e contrária à menina tranquila e comum que ela na verdade é.
Por ser uma narrativa em primeira pessoa, então, nos envolvemos mais ainda com a situação vivenciada por ela, que só não vira uma monotonia de ficar presa no próprio quarto devido ao trabalho no Scooper Dooper com James e a presença constante dos melhores amigos e casal de namorados Victoria e Jonah. Entre altos e baixos na convivência de-casa-para-o-trabalho e do-trabalho-para-casa, vemos o seu dia-a-dia virar do completo avesso por entre situações aparentemente boas à princípio, mas que logo em seguida trazem mais foco inesperado para a garota que só queria se ver livre deles de uma vez por todas, um retrato bem realista do preço a se pagar pela fama, com Audrey precisando encarar tão bruscamente a perda da própria privacidade e liberdade, passando a ser vigiada e regrada constantemente pelos pais, mesmo sendo a boa filha que era, e foi impossível não querer entrar na história nesses momentos e afugentar todos os paparazzis e fofoqueiros de plantão de perto dela, mas, infelizmente, surpresas inconvenientes fizeram muito parte de sua rotina por um bom tempo.
“— Aud, às vezes você vai ter que tomar decisões das quais nem todo mundo vai gostar. Mas se acha que é a coisa certa a fazer, você tem que fazer. Mesmo que seu namorado não goste. Mesmo que Victoria não goste. Mesmo que papai e eu não gostemos. Tem que começar a confiar em si mesma.”
A começar até mesmo pela própria melhor amiga, Victoria, que, na verdade, dentre os personagens do elenco principal do enredo, foi a que menos me agradou. No início ela se mostrou, sim, uma ótima amiga, sempre empolgada, incentivando a Audrey com seus objetivos e animando e divertindo diversas cenas, mas ao passo que Audrey começa a ganhar certa atenção de algumas mídias particularmente famosas e até mesmo a receber produtos e press kits inesperados em casa, Victoria começou a querer empurrá-los goela abaixo da protagonista, mesmo sabendo o quão incomodada Audrey estava naquela situação. O estopim foi quando ela anunciou simplesmente que privacidade é algo superestimado, e a forma nada sensível com que ela criticava um pouco a amiga ao incentivá-la a aproveitar o momento, mesmo não vivendo de verdade ou sentindo na pele nem metade das inconveniências e confusões que Audrey acabou passando ao longo da fama instantânea. Realmente me irritei com ela e senti falta de uma personagem que fosse mais agradável e compreensiva com uma situação que, apesar de glamorosa, também é muito desconfortável.
O romance, por outro lado, se desenvolveu na medida certa, nem meloso demais e nem de menos. James certamente é um dos personagens mais carismáticos e meigos que já conheci, ainda que um tanto tímido demais e por vezes calado, mas com comentários sagazes quando junto à Audrey e completando a personagem não apenas de uma forma romântica, mas também pelo companheirismo que os dois possuem de uma forma tão natural e espontânea, o tipo de romance que começa de forma tranquila e sem pressa, que envolve primeiro pela amizade para só depois tornar-se amor. Foi certamente um dos meus pontos preferidos do livro, ainda que, no entanto, o desfecho do livro como um todo também tenha sido muito bem feito, acontecendo na hora certa e fechando o ciclo da fama de Audrey com o que realmente podemos chamar de verdadeiro ponto final. Enfim, A Música que Mudou Minha Vida acaba sendo um pouco mais do que um simples livro juvenil, um paralelo interessante sobre as consequências da fama e o impacto dela não apenas na vida da pessoa em si, bem como na de todos ao seu redor. Leitura mais do que recomendada!
site:
http://sammysacional.blogspot.com.br/2016/09/Resenha-AMusicaQueMudouMinhaVida.html