Vinícius 07/09/2015
Sobre: Assim como o criminoso sempre volta ao local do crime, Rubem Fonseca retorna a personagens de romances anteriores. Neste volume, reencontramos o escritor Gustavo Flávio, de Bufo & Spallanzani, um permanente suspeito de assassinato graças ao acaso e ao seu apetite compulsivo por mulheres que tendem a morrer em circunstâncias misteriosas. Para ajudá-lo a se desenredar de seus espantosos tormentos, Gustavo busca o auxílio do advogado Mandrake, que conhecemos de "A Grande Arte", com quem compartilha, além dos apetites eróticos, uma refinada paixão por charutos.
Crime, tabaco, mulheres, sexo e crimes passionais. Embora esses sejam o pontos-chaves da novela de Rubem Fonseca, não se trata apenas disso. Seu principal assunto é a crise do romance e sua decorrente inapetência criativa.
O escritor Gustavo Flávio, presente em outras histórias do autor, reaparece recebendo fotos de suas ex-mulheres pelo correio, mulheres que acabam sendo mortas. Caberá a Mandrake, um advogado criminalista, esmiuçar o mistério. Sob esse roteiro desenvolve-se o texto, numa sequência de cartas e depoimentos gravados por Mandrake.
Longas digressões sobre o ato de escrever, a mercantilização da literatura e a predominância da lógica do lucro no merco editorial pontuam a narrativa - sem nenhuma relação funcional com ela, porém com o velho e bom truque do autor projetar suas opiniões colocando-as na boca dos personagens.
“O destino normal do leitor fanático é se transformar num escritor. Na verdade, todo leitor e qualquer leitor reescreve o livro que lê durante o processo de leitura.” Pág. 100
Como Cristovão Tezza diz no posfácio, “resulta paradoxalmente numa narrativa irresistível, livre, solta, saborosa [...] o leitor parece sentir em cada linha o mesmo prazer que o autor sentiu escrevendo seu texto”.
DIAGRAMAÇÃO
Impecável. A identidade visual dessa e todas as obras do autor publicadas pela Nova Fronteira seguem um padrão – o qual é muito tentador, diga-se de passagem. A capa é maravilhosa; o tamanho da fonte e espaçamento são confortáveis para a leitura e as folhas amarelas dão o toque final a edição.
COMENTÁRIOS
Esse é um livro que prende logo com o primeiro parágrafo, quiçá com a primeira frase. O tom de mistério e a fluidez do texto faz com que não tenhamos vontade de largar a história. O que mais prende não é confecção de uma trama bem elaborada mas sim o jeito como ela é cerzida; como o cotidiano de personagens ordinários pode ser instigador e uma narração simples pode se transformar em esplêndida.
Mesmo abordando personagens de outrora, não é obrigatório a leitura de livros anteriores, faz-se menção a alguns conflitos mal resolvidos do passado, mas que não interferem durante esta leitura, pelo contrário, atiçam a curiosidade para saber mais dessas histórias envolvendo Mandrake.