Aline T.K.M. | @aline_tkm 18/06/2010Leitura obrigatória!http://escrevendoloucamente.blogspot.com
Apesar de conhecermos a trágica sentença de Santiago Nasar logo na primeira página de Crônica de uma Morte Anunciada, a narrativa é tão instigante que torna impossível largar o livro antes de chegar ao final. Os acontecimentos são contados com uma velocidade feroz – assemelhando-se a uma produção jornalística – por um narrador que deseja desvendar a história juntando as peças de um quebra-cabeça. Ele colhe depoimentos das pessoas da comunidade e, tal como ocorre em uma investigação, existe a divergência. Muitos se lembravam do dia como uma “manhã radiante”, já outros insistiam no tempo ruim e céu sombrio.
Desde o momento em que Ângela Vicário nos revela o nome de Santiago como sendo aquele que a desvirginara, o narrador carrega a dúvida (e nós, leitores, também) sobre se Santiago seria mesmo o autor do ato ou se, culpando-o, Ângela na verdade encobria o nome de um possível amante. Os infelizes acontecimentos ecoaram por muitos anos na vida de Bayardo San Román e Ângela Vicário, fazendo-se presentes em forma de solidão; mas, também, acabaram por revelar para ambos uma luz no fim do túnel.
O momento em que os gêmeos Vicário matam Santiago Nasar é realmente singular, mas não vou revelá-lo por completo, de chofre, aos possíveis futuros leitores do livro. Assim, atenho-me a destacar o momento em que Pablo Vicário lhe deu uma facada no ventre e “os intestinos completos afloraram como uma explosão”. Alucinado, Santiago Nasar caminha “amparando com as mãos as vísceras penduradas” e, ao ser perguntado sobre o que lhe havia passado, ele apenas responde: “Me mataram (...)”.
É interessante como a obra nos mostra preconceitos e comportamentos demasiado arcaicos (se pensarmos nos dias de hoje) tão cravados na comunidade que acabam sendo normalmente aceitos, inclusive pelos vitimados, levando a que o crime adquira o papel de consequência irremediável e até necessária. Ao haver tanta gente avisada da morte e curiosa quanto aos últimos momentos de Santiago Nasar, é de admirar que ninguém o tenha visto lá pelos finais de seu trajeto para alertá-lo. Em resposta, o autor nos coloca uma frase, mais como uma reflexão, com a qual finalizo este texto: “A fatalidade nos faz invisíveis”.
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