bobbie 22/06/2021
Cru, ácido, genial.
Este foi meu primeiro contato com Gabriel Garcia Marquez e já me apaixonei. À primeira frase do livro já sabemos que o protagonista vai morrer. O que, em qualquer literatura pós-moderna poderia ser considerado spoiler, um aviso indesejado do que vai acontecer no final de uma história, aqui torna-se o mote e espinha dorsal para a história da curiosidade humana contada em retrospecto. O que fez o jovem de apenas 21 anos para merecer uma morte tão cruel e precoce? Aos poucos, página a página, o narrador vai desenrolando o fio dos acontecimentos que levaram à morte, tão cruamente descrita, com requintes de crueldade explícita, ao final do livro: a hipocrisia social, o despeito, o machismo, a suposta honra familiar. Bom, não posso continuar, senão darei spoilers de um livro que já se inicia com um spoiler-mor. Ao contrário do que se possa pensar, a escrita de Marquez, ganhador de um Nobel de Literatura está longe de ser soberba: a leitura flui rapidamente, sem percalços, sem dificuldades, sem artifícios complexos. Além disso, o tema pesado desta deliciosa crônica, um assassinato a sangue frio, por vezes é pontuado por passagens em que me peguei rindo, fosse do deboche às hipocrisias, fosse de pequenos pormenores da vida que, mesmo diante da morte, insiste em escrachar sua tragicomicidade.