Kamilla 19/11/2023Violência, mistério e várias canastricesResenha de releitura - 19/11/2023
Depois de mais de uma década ler pela primeira vez, resolvi reler essa trilogia imensa, mas que me deixou bastante impressionada na minha primeira leitura. Eu já tinha me esquecido da maior parte da trama e me lembrava apenas de alguns detalhes, então acabou sendo quase como ler um livro novo.
Eu tinha me esquecido que como o início desse livro é lento, o autor leva bastante tempo para apresentar Mikael Blomkvist, a revista Millenium, e a situação atual em que ele se encontra, apenas quando ele é apresentando a Henrik Vanger que eu senti a história começar a deslanchar.
Mikael Blomkvist é um bom personagem, é curioso, motivado, tem um código de conduta próprio e é fácil ser conduzido pela história através dos olhos dele. Mas ele tem um elemento bastante canastrão, basicamente toda a mulher que ele se envolve no decorrer da história é tomada por uma paixão avassaladora por Blomkvist, ele é basicamente o James Bond do jornalismo rs
A famigerada Lisbeth Salander também é uma personagem bastante interessante, aparentemente frágil, aos poucos descobrimos que a moça é dona de uma vontade férrea e é dotada de certos dons que a tornam uma investigadora fora de série.
Não concordo com alguns posicionamentos que ela teve ao longo da história, mas é interessante notar que ela abordou um assunto que vem sendo cada vez mais sendo tratado pela mídia e a sociedade em geral, que é a condição da tutela para adultos, e de como ela deixa as pessoas vulneráveis juridicamente e aptas a se tornarem vítimas dos mais diversos tipos de predadores.
Salander tem habilidades incríveis na área da informática, e em um mundo cada vez mais informatizado, essa é a forma que ela consegue ter uma compensação pela sua falta de estrutura física para responder as agressões, ela me lembra um pouco o Elliot, da série de tv Mr. Robot.
A revelação final do mistério foi um pouco forçada, não creio que uma pessoa que se manteve discretamente cometendo crimes por décadas fosse surtar daquela maneira sem considerar as consequências, nem todo serial killer é um gênio, mas os seriais killers com décadas de atividade e um alto número de vítimas chegam aonde chegam demostrando um mínimo de frieza e controle emocional.
A resolução, por mais que seja triste, é bastante realista, no mundo real, dificilmente o interesse de vítimas de crimes graves e de suas famílias conseguiria ultrapassar o interesse de um grande conglomerado financeiro, ainda mais vítimas escolhidas nas camadas mais vulneráveis da sociedade, e não adianta 'certos personagens' tentarem dar uma de ofendidos, quando na hora de varrer as coisas para debaixo do tapete todos - em nome dos próprios interesses - concordaram que seria melhor assim.
Gostei do estilo da escrita e até mesmo da resolução do mistério principal, mas ainda acho que o livro poderia ficar mais dinâmico tendo entre 50 e 100 páginas a menos.