spoiler visualizarMr. T. 18/07/2020
My Way
Tenham em mente que esta não é uma crítica objetiva, só uma review pessoal.
Dito isso: ai, ai. Por onde eu começo com esse livro? “Adeus às Armas” é um livro de Ernest Hemingway, famoso integrante da “geração perdida” parisiense. A trama segue Frederic Henry, tenente motorista de ambulâncias do exército italiano durante a I Guerra Mundial, enquanto ele se apaixona por Catherine Barkley (uma enfermeira) e, eventualmente, após um ferimento que o deixa fora de ação por algum tempo, deserta do exército, enquanto buscam de alguma forma, viver seu romance. E então?
Bem, não posso dizer que gostei do livro.
Com personagens que parecem fantoches, diálogo esquisito e história fraca, acho que falta substância. Não sei se o livro é ruim, mas o acho indigno dos elogios que recebe. Sobre os personagens: nenhum deles parece ter vida própria; a fala de qualquer um se encaixaria no do outro, sem que o leitor estranhasse. A fala de Rinaldi poderia ser a do padre, e eu não levantaria uma sobrancelha sequer.
Nenhum deles parece ter motivação alguma, nenhum tem qualquer traço de personalidade, nenhuma fraqueza, memória, tremor, desejo, esperança. Como exemplo: o protagonista. Sua sequência de pensamentos o desnuda, deixa claro que é criação de um escritor, e se torna muito difícil engolir a perspectiva dele.
Por que ele luta? Por nada. Nem por altruísmo, “honra”, temor, tremor, falta de outra escolha que fosse. O leitor (e eu me incluo aqui) é deixado com a impressão de que um jovem americano alistou-se para pilotar ambulâncias italianas, durante uma guerra, arriscando sua própria vida, para… para quê, mesmo?
Sobre o diálogo: é básico, mas faz seu trabalho. Não é particularmente mal-escrito. O aspecto “sofrível” vem quando o autor tenta tirar algo a mais do diálogo do que o básico. A qualidade de escrita cai perceptivelmente, e fica então evidente a falta de substância, diálogo homogêneo, sem emoções, seguindo um fluxo pouco natural.
A história é também brusca, não possuindo temas ou teses próprias, ela flutua… flutua como uma sacola plástica ao vento… flutua como um tenentezinho americano flutua rio italiano abaixo…
Ah, eu não sei.
Talvez eu tivesse expectativas altas demais, mas quando um escritor se propõe a tratar de atração e amor, um tema inquestionavelmente complexo (que envolve uma miríade de realidades, percepções e elementos) e é saudado como tendo escrito “(...) algumas das páginas mais comoventes da literatura ocidental”, não posso ser culpado em esperar uma obra-prima.
O “amor” que é visto na obra resume-se a alguns clichês, diálogos quase tão sutis quanto um chute no saco, e a exclamação ocasional “eu te amo!”. Eu não queria, particularmente, um Romeu, mas quando o monólogo interior de um janota de vinte e tantos anos se assemelha ao de um velho tarado de 50, você sabe que tem algo de errado com o protagonista. Ou com você.
A aparente atração entre ambos é inexplicável, e não parece ter justificativa alguma. O livro teve o dom de me fazer esquecer que era uma história de romance, mas nunca falhou em me informar todas as vezes em que Henry fantasiou com a Catherine.
Não, eu não quero um eremita casto. Eu só queria que o afeto fosse melhor explorado, por que além das palavras que os dois atiram um ao outro de forma tão banal, sem parecer ter consciência do peso delas, não há nenhuma outra indicação de que os dois se amam.
E eu só queria não odiar tanto o protagonista, que é o responsável por macular minha crítica [quase] impessoal com subjetividade. Egoísta, arrogante, os pequenos gestos seus de gentileza são o mínimo de humanidade que eu espero de um ser humano decente.
Mas tudo o que eu citei antes empalidece quando eu considero (SPOILERS!) o que há de mais imperdoável: numa das cenas mais indignantes do livro, Henry mata um desertor do exército italiano, quando este se recusa a ajudá-los em uma missão que pode ser suicida, numa rota imbecil traçada pelo próprio Henry. O mesmo não parece ter qualquer remorso ou mesmo sentimento em relação ao acontecimento, limitando-se a aceitar um elogio por um de seus subordinados. O momento é ainda mais arruinado por uma piada contada pelo outro. Nenhum dos que estão ali presentes parece ter consciência de que uma vida humana foi tirada, a troco de nada. Claro que poderiam estar dessensibilizados, mas como a narrativa mostra mais adiante, este não é o caso. At all.
Compare esta atitude com as descrições pungentes e a reação completamente diferente, quando Paul (narrador de “Nada de Novo no Front”) tira uma vida. Ele imediatamente se encontra em conflito, mesmo tendo matado em defesa própria, racionalizando a guerra, sua loucura inerente, e a tragédia que é a perda de uma vida humana.
Este comportamento da parte de Henry, comparado ao fato de que, mais à frente no livro, ele mesmo se torna um desertor, e ainda esperar compaixão do leitor, o tornam absolutamente intragável para mim.
Eu o odeio com todas as minhas forças.
Personagens fracos, história quase inexistente, diálogos básicos quando não sofríveis e um protagonista detestável. É só a isso que se resume o livro?
Não, devo dizer. Talvez eu tenha sido um pouco duro em minha crítica (exceto quanto ao protagonista, ele é realmente terrível), mas o livro ainda possui diversas qualidades. As descrições de paisagens são bastante imaginativas, e ralos como sejam, ainda é interessante observar a dinâmica de interação entre os personagens, bem como ansiar pelo final da história, dado o contexto único dela. Existem páginas e situações genuinamente tocantes, e a escrita, em geral, é bastante razoável. Posso me recordar de dois momentos onde fui obrigado a concordar com a filosofia do autor e seu raciocínio destilado nas páginas do livro. Ele não é um desperdício.
Com tudo e tudo, eu recomendaria a todos que lessem o livro. Posso não ter gostado e ter meus motivos, mas ainda assim recomendo que se leia, nem que seja para criar padrão para comparações futuras. Ademais, a leitura pode ser agradável, e você pode acabar gostando.
Se você concorda comigo, ótimo. Siga adiante e tenha um bom dia.
Se discorda veemente das minhas opiniões e virou os olhos com a minha óbvia parcialidade e falta de visão, eu ficaria mais do que encantado em trocar opiniões pelo chat.
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