O Faroeste

O Faroeste Dee Brown




Resenhas - O FAROESTE


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Flávia Menezes 09/03/2024

O OESTE: SUAS HISTÓRIAS, SEUS HERÓIS?E SEUS COWBOYS!
?O Faroeste? é uma obra de não-ficção histórica, que foi publicada em 1974, e que, com uma narrativa única com seus tons de poema épico repleto de elementos que nos lembram as sagas da Ilíada e da Odisseia, vem nos contar a história do Oeste norte-americano, apresentada por alguns dos mais importantes exploradores que fizeram parte desta jornada heróica que ocorreu na região entre o século XVI e o século XX.

Doris Alexander ?Dee? Brown foi um romancista, historiador e bibliotecário americano que gostava de escrever livros depois de colocar os filhos para dormir. Com sua visão epopeica do oeste americano, e suas pesquisas meticulosas (que contaram com registros oficiais, autobiografias, depoimentos e descrições de primeira mão) convertidas em um relato arrebatador, o autor teve seu primeiro best-seller ?Enterrem Meu Coração na Curva do Rio?, uma história sombria que retrata os maus tratos implacáveis, e a eventual deslocação dos índios nativos da América do Norte pelos conquistadores brancos de 1860 a 1890, lançado em 1970. Em 2007, uma adaptação do livro foi feita para a televisão.

Dee Brown foi um historiador ousado, que diferente da visão mais moderada daqueles que o antecederam, retrata em seus 30 livros um retrato genuíno que não esconde a bestialidade branca astuta, que atraiu para em seguida trair e matar com muita crueldade os índios nativos americanos, e conquistar seu território e as riquezas que nelas continham.

Como o próprio Brown escreve em seu livro, ?a palavra impressa afeta o curso da história?, e muitos dos exploradores citados nesta obra, tendo lido as histórias dos primeiros homens que se aventuraram nesta missão, foram por elas motivados, garantindo que também os seus nomes um dia fossem lembrados em livros que seriam estudados nas salas de aula das escolas do país.

Muito embora tudo tenha sido iniciado pela ambição do branco espanhol em explorar as terras dos índios nativos em busca de riquezas, nem todos os nomes trazidos neste livro foram de homens gananciosos que buscavam enriquecer a custa dos índios nativos.

De fato, o que Brown faz aqui é um trabalho notável, que nos conscientiza de que, se não fossem alguns desses exploradores que corajosamente se arriscaram a se aproximar de tribos mais isoladas para relatar a forma como viviam, sua cultura, inclusive os representando através de pinturas que depois foram expostas em grandes museus do norte do país, e alguns países da Europa, não haveria como o autor ter reconstruído essa epopeia com tanta riqueza de detalhes, indo desde os primórdios, para chegar até os tempos do presidente Teddy Roosevelt.

Nos nomes citados neste livro, muitas das histórias registradas aqui são impressionantes, eu confesso que dois deles foram os que mais me despertaram a atenção.

O primeiro foi Jedediah Smith, um religioso que carregando um exemplar surrado da Bíblia, e os volumes da história da expedição comandada pelos capitães Lewis e Clark, publicados em 1814, em menos de dez anos viu e mapeou mais do Oeste do que qualquer um de seus colegas.

A forma como Smith relatava sobre o comportamento primitivo dos índios, era de uma sensibilidade e respeito tão grande, que compartilho aqui e até aproveito um dos trechos que fala sobre a nobreza de suas ações, deixado por escrito em um dos seus diários:


?Foi por achar que seria capaz de ajudar aqueles que necessitavam que enfrentei todos os perigos, foi para isso que atravessei as montanhas cobertas de neve eterna (...) foi para isso que passei pelas planícies arenosas, com calor de verão, louco de sede e contente de poder encontrar uma sombra em vez de água, onde pudesse refrescar meu corpo superaquecido (...) foi para isso que passei dias sem comer, dando-me por muito feliz de poder catar algumas raízes, umas lesmas (...)e, acima de tudo, foi para isso que me afastei dos privilégios da sociedade e da satisfação de conversar com meus amigos!?


Smith chegou a questionar ?Será possível que nós possamos nos chamar de cristãos e provoquemos tanto medo em pobres selvagens??, nos fazendo refletir sobre essa forma de ver o mundo apenas através do nosso prisma, colocando as demais culturas em um lugar inferiorizado, como se eles tivessem alguma necessidade de se assemelharem a nós, como se o ser ?civilizado? fosse o modelo do ?ser humano?.

Essa forma de pensar do Jed Smith dizia, muito me lembrava das minhas aulas de antropologia do primeiro ano de faculdade, do quanto essa nossa visão condicionada nos faz acreditar que somos seres superiores, quando o que de fato fazemos é desprezar as raízes culturais de quem nos é diferente.

Um outro nome de um homem que achei notável nesta conquista pelo Oeste, foi George Francis Train. Esse homem visionário, que iniciou sua carreira como ?acumulador de riqueza, magnata do transporte, promotor, comunista, conferencista e autor? aos quatro anos, quando seu pai prendeu uma etiqueta nele, e o mandou para New Orleans durante uma epidemia de febre amarela em 1883, a bordo de um navio com destino a Boston foi um homem sem igual!

Aos 20 anos, Train já ganhava dez mil dólares por ano, o que era considerada uma renda impressionante em 1849, e aos 24 anos, achando sua vida muito monótona, Train viajou para a Austrália, fundando sua própria firma de navios que lhe rendeu uma fortuna que o proporcionou a oportunidade de viajar pelo mundo, e ao voltar para os Estados Unidos, ele ainda foi o nome por trás da construção de uma estrada no Leste de 650 quilômetros.

Contando com o apoio do Governador de Nebraska, do Prefeito de Omaha e de duas companhias de artilharia, Train fez um discurso comovente durante a cerimônia em Omaha que dava início a perfuração do leito da estrada onde a via férrea seria construída:


?A grande ferrovia do Pacífico foi iniciada na entrada de um jardim de 1.100 quilômetros de extensão e 30 de largura. Este é o maior empreendimento abençoado por Deus!... A colonização em breve surgirá nestes vales. Dez milhões de colonos se estabelecerão nesta terra dourada dentro de 20 anos.?


Mais tarde, Train se uniu às sufragistas, fazendo mais de 30 discursos em duas semanas em que viajou pelas cidades mais populosas do Kansas, entre o final de outubro e início de novembro de 1837, sendo um poderoso orador que defendia os direitos das mulheres e dos irlandeses oprimidos, e atacava a inépcia dos partidos Republicanos e Democrata, e a hipocrisia dos religiosos da época.

Ele ganhou tanto dinheiro com seus discursos, que acabou gastando a maior parte em um desafio de fazer a volta ao mundo em 80 dias, tendo a sua proeza sido a inspiração para o livro escrito por Júlio Verne, que o imortalizou no personagem Phileas Fogg.

Mas assim como Smith e Train, outros homens que fizeram parte dessa ocupação do Oeste foram tão significativos e inspiradores, o que só ajudou a tornar essa leitura tão emocionante e prazerosa, quanto foi muito educativa.

Ter lido ?O Faroeste? ao mesmo tempo em que lia o primeiro volume de ?O Continente?, do Érico Veríssimo, foi uma experiência curiosa e interessante, pois em grande parte, ambos os livros falavam de uma mesma época, e tinham suas similaridades, como a chegada da modernização através das velozes (para a época) locomotivas que trouxeram o progresso a essas terras mais rudimentares.

Dee Brown nasceu no dia do ano bissexto de 1908, um sábado em que ocorreu o assassinato de Pat Garrett, o famoso Billy the Kid. Ele passou muito tempo da sua juventude lendo o livro da ?História da Expedição Sob o Comando dos Capitães Lewis e Clark?, o mesmo lido por Jed Smith, e que igualmente lhe despertou o interesse pelo Oeste Americano.

Brown ainda citava as obras de Sherwood Anderson, John dos Passos, William Faulkner e Joseph Conrad como aquelas que mais influenciaram o seu próprio trabalho.

Quando sua esposa e ele se aposentaram, o casal morava em Little Rock, no Arkansas, e esse foi um período em que o autor exclusivamente se dedicou às suas obras, até a sua morte aos 94 anos.

Para mim, ?O Faroeste? é muito mais do que um livro histórico. Ele é uma narrativa poderosa, que com uma linguagem poética e sensível vai prendendo a nossa atenção a cada página em que essa saga homérica é contada com tantos ricos detalhes sobre a vida e seus feitos, até a morte (e tantas delas aconteceram sem que lhes tivesse sido concedido o verdadeiro mérito pelos seus feitos) desses homens corajosos que escreveram seus nomes nos livros de história de um ambicioso país como os Estados Unidos, e de uma exploração ousada (e muito brutal para ambos os lados, índios e brancos), onde o belo e o trágico por tantas vezes se cruzaram.

E cada uma dessas histórias, de cada um desses nomes, foram respeitosamente celebradas e imortalizadas pelas palavras generosas de um homem que amava o Oeste e seus cowboys (que aqui é contado como eles surgiram) chamado Dee Brown.
Regis 09/03/2024minha estante
Adorei a resenha, Flávia! ???
Um amigo aqui do Skoob acabou de me indicar "Enterrem meu Coração na Curva do Río" e já o passei na frente de outros livros; agora, após ler sua resenha, tenho certeza que não errei em antecipar para conhecer esse autor que tem tudo para me fazer buscar por suas outras obras, inclusive "O Faroeste", tão maravilhosamente resenhado por você.


Flávia Menezes 09/03/2024minha estante
Regis, muito obrigada por ser sempre tão gentil e estar por aqui! ?
E eu não acredito que você vai ler ?Enterrem Meu Coração na Curva do Rio?! Nossa! Deve ser um livro bem intenso (e pesado!), mas tão importante sobre essas tribos que perderam tanto com o Destino Manifesto. E eu vou acompanhar cada impressão sua, porque além desse título perfeito, do que já vi aqui da escrita do Brown, já sei que vai ser arrebatador!


Regis 09/03/2024minha estante
Já comprei e lerei em breve Flávia. Confio muito no gosto de quem me indicou, ele lê muitos livros de drama histórico e me disse que essa foi sua melhor leitura de 2023. Vou conferir já sabendo que é muito bom.
As expectativas não me abandonam. Rsrsr


Flávia Menezes 09/03/2024minha estante
Eu vou acompanhar e já sei que vou ficar doida pra começar ele também. Eu amei a escrita do Brown. Ele é fantástico!!! E por isso não me espanta o que seu amigo disso, porque os relatos dele são tão bem escritos. Regis?eu me emocionei com em várias partes desse livro. Quando o Smith morreu, então? ???


Regis 09/03/2024minha estante
É tão maravilhoso descobrir novos livros que nós emocionam, Flávia. Agora estou com mil expectativas. ????


Flávia Menezes 09/03/2024minha estante
Ainda bem que eu posso garantir essas expectativas, porque é certeza que vai te emocionar! ?
Ótima leitura pra você, Regis! Já sei que vai me deixar com vontade de ler também! ???


Emerson Meira 09/03/2024minha estante
Parabéns pela resenha Flávia! Impecável como sempre ?
Régis, prepare o coração minha querida, o "Enterrem..." é angustiante demais ? O li há uns belos 13 anos atrás, foi de doer ?


Flávia Menezes 09/03/2024minha estante
Muito obrigada, Emerson! Muito gentil suas palavras!! ??
E olha? você leu o best-seller dele!! Ai! Vocês estão me deixando com ainda mais vontade de ler! ???


Emerson Meira 09/03/2024minha estante
Só sou sincero. E sei que você é fã de faroeste ?
Olha, a leitura dele é nó no peito mesmo. Não consigo lembrar de muita coisa, eu tinha 20 anos e outra percepção da vida, mas muitos depoimentos não consigo esquecer ?


Flávia Menezes 09/03/2024minha estante
Gosto mesmo, Emerson! ?
E imagino como aos 20, essas leituras impactam até mais. Porque foram muitas as atrocidades que aconteceram. E (infelizmente!) foram reais! Mas além disso, existem as histórias deles, e o mais bonito do Brown foi isso: de imortalizar uma cultura que merece ser lembrada! ??


Emerson Meira 09/03/2024minha estante
Sim, é verdade ?




Moises Celestino 22/06/2023

Por dentro de "O Faroeste"...
Do mesmo autor de "Enterrem Meu Coração Na Curva do Rio", a narrativa contundente deste "O Faroeste", continua fascinante e espetacular. Um clássico do gênero.
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