Lucas Rodrigues 25/02/2010
Fome de Tudo
Ilusões Perdidas, obra de Honoré de Balzac, escrita entre 1835-1843.
Livro dividido em três partes, sendo a segunda a mais importante. Pois, é nela, que o protagonista Luciano de Rubempré - gênio da província seduzido pelos brilhos da capital Paris -, sofre seus altos e baixos no anseio de conquistar êxito na carreira literária.
É na capital que passa a trabalhar como jornalista, mesmo contra todas as reprovações feitas pela roda de intelectuais, de que se torna amigo, em momento de grande angústia e miséria no inicio de sua vida em Paris. Sendo Luciano do tipo que não suporta grandes provações e deseja rápido sucesso, é inserido nesse meio que Balzac define como "câncer que talvez devore o país". Porém, experimenta e gosta do saber do poder que o jornalismo tem. No inicio usa esse poder para desforrar alguns nobres - mas ciente da superficialidade da nobreza e também ciente da necessidade do apoio dela em seu triunfo - que lhe desamparam quando mais precisa. Em outro tempo, totalmente a contragosto, assina uma crítica literária negativa a respeito do livro de um amigo grandemente estimado. Alcança rápido sucesso, mas vê ao mesmo tempo seus escrúpulos de poeta e homem ingênuo a lhe constituírem um grande nó atravessado na garganta.
Passo a passo nosso protagonista vai perdendo as ilusões que fazia da nobreza, do mundo editorial, do espaço teatral, do jornalismo e de muitos "amigos". Comete muitos erros e tem chance de consertá-los, porém seu espírito preguiçoso teima em errar. Mas mesmo com todos os motivos que teríamos para odiar Luciano, acabamos nos apaixonando por este ser, tão belamente pintado por Balzac que chega a ser real. O autor o reveste de toda beleza possível num personagem.
Para contrastar com Luciano, são criados outros dois personagens, tão reais quanto o principal: David Séchard (maior amigo e cunhado de Luciano), homem sublime e capaz de grandes invenções, mas pouco prático para resolver problemas cotidianos. E, Daniel de Arthez, intelectual que Luciano conhece em Paris, que não se importa em viver uma vida de grandes privações para realizar seus trabalhos e manter suas convicções.
Balzac deu vida a estes três personagens e outros do romance, partindo de si próprio, de seu espírito e suas experiências. Pois, são elas, algumas das muitas faces que o escritor possui.
Ilusões Perdidas condensa uma forte crítica em relação à sociedade francesa do século XIX e a algumas de suas instituições. Vemos uma sátira veemente da aristocracia (fútil e mesquinha e também cuidadosa para manter sua esfera inacessível as casta mais baixas), dos pequenos burgueses sem escrúpulos que aspiram a possibilidade de se "tornarem" nobres e também dos operários famintos querendo se infiltrar na burguesia.
Balzac nasceu em Tours, França, em 1799 e morreu em agosto de 1850, poucos meses depois de se casar, pois até então sofrera 18 anos de paixões adúlteras. Em 1830 chegou a escrever 19 romances. Mas o sucesso e o dinheiro que com suas obras conquistava, era devorado pela vida faustosa que levava e o pagamento de credores.
Balzac deu ao seu conjunto de obras, o nome de Comédia Humana, em oposição à Divina Comédia de Dante. Que é composta de mais de 90 títulos, entre romances e contos.
"E assim, por uma bênção do acaso, nenhum aviso faltou a Luciano sobre o declive do precipício onde deveria tombar. De Arthez havia posto o poeta na nobre estrada do trabalho acordando nele o sentimento sob o qual os obstáculos desaparecem. O próprio Lousteau havia tentado afastá-lo... pintando-lhe o jornalismo e a literatura em suas cores verdadeiras. Luciano não quisera acreditar em tanta corrução escondida... Havia visto as coisas como elas realmente são, durante aquela ceia. Mas, em vez de se sentir tomado de horror... gozava com embriaguez daquela sociedade inteligente. Achava superiores aqueles homens extraordinários, metidos na armadura damasquinada de seus vícios e sob o brilhante capacete de sua análise fria, aos homens graves e sérios do Cenáculo. Depois, saboreava as primeiras delícias da riqueza; estava sob o encantamento do luxo, sob o império da boa mesa; seus instintos caprichosos despertavam. Bebia pela primeira vez vinhos finos, tratava conhecimento com as esquisitas iguarias da alta cozinha; via um ministro, um duque e sua bailarina, emparelhados aos jornalistas, admirando o seu poder atroz. Sentiu tremendo prurido de dominar esse mundo de reis; sentia-se com forças para os vencer. E havia, enfim, essa Corália que ele acabava de tornar tão feliz com algumas frases...Essa rapariga era, aliás, a mais bonita, a mais bela atriz de Paris. "