Victor225 11/06/2023
Escritos da Casa Morta
Um verdadeiro tratado sobre liberdade, moral, justiça, etc. Tantos problemas e questões que são possíveis se ter ao ler, que nem consigo expressar o quão profundo esse livro realmente é.
Sabe-se que foi desta obra e da experiência do Dostô na prisão que surgiram muitos dos seus personagens futuros, como Raskólnikov, em Crime e Castigo, onde são explorados temas como a consciência, o crime, a natureza do mal e o cristianismo e o martírio como caminho para redenção.
Ainda assim, o que mais é ressaltado no livro é a importância da liberdade para o homem. Muitos a idealizando enquanto estão presos dentro das muralhas; outros, numa tentativa falha de sentirem-se livres, acumulando dinheiro e rapidamente o gastando, bebendo, fazendo de tudo para que pudessem sentir-se donos de si. Na carta ao censor, no apêndice, Dostoiévski ainda faz uma afirmação muito verdadeira, dizendo que mesmo que um homem construísse um palácio grande e ornamentado, bastaria dizer a esse homem que ele não mais poderia ir para fora, para que ele logo começasse a querer sair do lugar. No fim, a liberdade e o arbítrio são extremamente necessários para a personalidade e o espírito de um homem.
Temos ainda os exageros da lei, como no uso constante dos grilhões na época, mesmo para presos terrivelmente doentes. Para que serviam aqueles grilhões, senão para torturar de forma gradual a mente daquele preso? Lembrá-lo constantemente de que ele não é livre, de que ele é um condenado? Seria isso justo, visto que ele é um criminoso, ou apenas um constante rebaixamento moral sem função e motivo?
Mas de resto, minha parte favorita e a que me trouxe um verdadeiro sorriso foi o capítulo da peça, onde podemos ver que, mesmo entre os mais miseráveis, maldosos e imorais homens, a arte tem o poder de reunir todos em um momento de alívio, de risada e de companheirismo. Podemos ainda ver que, mesmo naqueles condenados, era possível encontrar talentos inimagináveis para a arte, que eram em muito desperdiçados dentro daquelas muralhas.
Podemos ver, enfim, que até mesmo em uma casa morta, há vida.