Breno Torres 17/04/2017À frente do seu (e do nosso) tempoO mérito de uma grande obra controversa é exatamente esse: ser tão eternamente rebelde, à frente de seu tempo e estilhaçadora de paradigmas e tabus que é hostilizada até mesmo numa época em que há maior entendimento sobre liberdade e bravura artística.
"Sex" é um livro que gerou grande barulho na década de 90 e foi um grande motivador da associação da imagem de Madonna à depravação. Agora a pergunta é: por quê? Certamente pela coragem de uma artista mulher de falar abertamente sobre sexo pela linguagem da fotografia e, é claro, pelo choque que foi uma artista universal de falar com tanta honestidade sobre suas próprias fantasias sexuais.
O que muitas pessoas infelizmente não enxergam é que "Sex" é, antes de tudo, uma ode à liberdade sexual e à liberdade de enxergar sexo como pauta: ver sobre sexo, discutir sobre sexo, falar sobre sexo -- desde aquilo que é prazeroso àquilo que não é; desde o que é senso comum ao que é, de fato, fantasia; desde o que é seguro àquilo que não é. O que encanta em "Sex" é a sinceridade, a incolumidade, a petulância, a criatividade e a diversidade de assuntos sobre um só tema. Nesse pequeno livro, Madonna conseguiu, através da criação da personagem Dita, resumir sua personalidade imperiosa, corajosa e sua conhecida capacidade de não hesitar, além de tocar nesse assunto que é tão parte de sua concepção como artista: Sexo. É um daqueles grandes livros eróticos históricos que, ao lado de obras como A Trilogia da Bela Adormecida de Anne Rice, prestaram o necessário serviço de chocar e impactar para abrir espaço para se falar abertamente sobre sexo e erotismo, tanto na Literatura quanto nas outras diversas artes. Principalmente no que concerne à abertura para a mulher falar sobre o tema sem medo.
Não me surpreende que "Sex" não seja mainstream, e afirmo que dificilmente será. Obras verdadeiramente subversivas nunca serão. Thank God.