Freud: a trama dos conceitos

Freud: a trama dos conceitos Renato Mezan




Resenhas - Freud: a trama dos conceitos


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anjapsi 18/09/2009

ainda nem chegou meu livro... mas já o devoro...
p.336 [...] A “psicologia profunda” a que habitualmente se reduz o pensamento freudiano encobre esta outra realidade: apesar de sua aversão pela Filosofia, Freud acabou por obrigá-la a repensar seu problema fundamental: o que é o homem? A seu modo a revolução freudiana veio recolocar em circulação um tema quase anátema, na atmosfera cientificista que marcou o “pequeno racionalismo” do início do século XX. Sua noção central – a que o homem é o palco do conflito do desejo – suscita resistência ainda hoje compreensíveis; mas, por outro lado, ela permite desdobramentos fecundos, que talvez lhe assinalem o lugar de honra entre as disciplinas que se ocupam do homem. Toda a obra de Freud pode ser lida como uma lenta e penosa explicitação da fórmula das Novas Conferências de Introdução à Psicanalise: Wo Es war, soll ich werde – onde era o id, que haja o ego. Que tem a filosofia a ver com isto?

É o que procuraremos mostrar na parte final deste estudo.
CONCLUSÃO
[...] sob este ponto de vista. Freud é mais ousado que Copérnico, a quem invoca em O Ego e o Id: a revolução copernicana, se examinada mais de perto, não é tão drástica quanto a pintam os manuais populares de história da Ciência. Com efeito, Copérnico substituiu a Terra pelo Sol, como centro do Universo: mas seu universo ainda é esférico e fechado, como o ptolomaico, e as estrelas fixas ainda nos contemplam do firmamento imutável. Aristotélico em sua física, o astrônomo polonês é renascentista em sua ontologia: pois importa menos quem ocupa o trono do que de fato de que ele é mantido, e, na expressão “heliocêntrico”, vê-se bem que mesmo o escândalo Sol de Copérnico se localiza no centro das esferas celestes. Por isto dizemos que ele é menos revolucionário do que parece; talvez por isto, também, o Santo Ofício só tenha proibido o seu livro depois que Galileu, servindo-se dele, o ultrapassou. Tele-skopéin, a Inquisição via longe...
Freud elimina do vocabulário filosófico a noção de centro. Desde de Galileu e desde Darwin, o homem não era mais o centro do mundo, nem o topo da criação; mas era ainda o centro de si mesmo, e a noção de consciência era o emblema desta centralidade. Um centro significa: um ponto privilegiado ao redor do qual tudo se ordena, e que serve de referencia para um espaço homogêneo. Ao redor da consciência, o homem se estruturava como algo idêntico a si mesmo, garantida esta identidade pelo poder do pensamento de abarcar TUDO, inclusive a si próprio. Identidade fundada, pois, na transparência; harmonia de si consigo [...] Ora, a partir da introdução da teoria da defesa, o homem aparece DIVIDIDO, e esta cisão lhe é consubstancial [...] A divisão é originária: para nos atermos ao quadro das referências da quarta etapa da obra freudiana, já no nível das pulsões Eros e Thânatos são irredutíveis um ao outro [...] p.340

Freud: A trama dos conceitos
Renato Mezan
Coleção Estudos número 81
Editora Perspectiva
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