Pandora 12/07/2017O protagonista cometeu um crime, isto se sabe desde o início. Numa sala, encontram-se quatro mulheres que, de alguma forma, fazem parte de sua vida. Esperam para depor. Evitam contato umas com as outras, embora saibam quem são e, por vezes, já tenham convivido no passado. A narrativa alterna o presente com situações passadas vividas pelo protagonista com cada uma das mulheres.
"Apesar de muito rica, de se socorrer da pontuação de forma hábil e original, a sua escrita representa muitas vezes um desafio." (planetamarcia.blogs.sapo.pt)
Concordo. A narrativa de Dulce Maria Cardoso é muito rica e pormenorizada, cheia de detalhes que conjugam: pensamentos, atos, diálogos, sentimentos, tudo junto, entre vírgulas... é realmente um desafio... e confesso que às vezes é cansativo.
Demorei a me acostumar com sua escrita; embora se possa ver semelhança com os longos períodos entremeados de vírgulas de Saramago, o texto deste sempre me pareceu muito claro; o de Dulce não. Mas passada mais da metade do livro, já habituada ao seu universo rico em detalhes, como uma grande colcha de retalhos, um caleidoscópio, que experiência ímpar é ler Dulce Maria!
Um livro incrível, que trata da solidão de um homem inadequado, que para se sentir aceito e respeitável cria várias personas que ele julga, irão agradar àqueles com quem convive, em especial às quatro mulheres da história: sua mãe, a ex-mulher, a senhoria e a amante.
Posso dizer que me senti em relação a este livro um pouco como me senti em relação a "Precisamos falar sobre Kevin". O começo foi bem difícil, cheguei a ficar um tanto desinteressada... no caso de "Kevin" quase larguei o livro. Mas ao final, a recompensa de ter vivido uma experiência nova, diferente das leituras habituais, me fez muito mais rica.
Em tempo: recomendo veementemente a resenha da Nanci feita aqui no Skoob.