Gislaine 12/07/2018Nossa missão...Ultimamente tenho voltado as origens como profissional e mergulhado em leituras dentro da Biblioteconomia. Tem sido uma ótima maneira de reciclar meu conhecimento, e por que não os utilizar em outras áreas?
Comecei pela “Missão do Bibliotecário” de José Ortega y Gasset, e acredito ter sido um ótimo início para elucidar o nosso papel como profissionais da informação.
O livro trata-se da transcrição do discurso proferido em francês por Gasset na inauguração do 2º Congresso Mundial de Bibliotecas e Bibliografia em Madrid, no dia 20 de maio de 1935. Mas, somente em 2006 a obra foi publicada em português, trabalho realizado por Antônio Agenor Briquet de Lemos, que viu a importância da disseminação das informações contidas naquelas palavras.
Gasset inicia o seu discurso diferenciando a missão pessoal da profissional, e a importância de não as confundir. Cada uma é uma, e tem o seu propósito na vida do indivíduo.
Dentro desse contexto, o filósofo elucida o sentido de vocação, que está intrínseca a missão pessoal, cuja sua função não tem caráter imperativo, cabendo a nós decidir se queremos ou não a seguir. Em contraponto temos o ofício, intrínseco a missão profissional, cuja finalidade é a de se cumprir um dever. E isso coloca o profissional na posição de ser julgado pela sociedade através do seu feito, já que se constitui num caráter coletivo e não individual.
Gasset resgata um breve histórico do surgimento do bibliotecário por volta do século XV, no começo do Renascentismo, período em que o livro deixa de ser apenas um objeto a ser guardado (geralmente livros religiosos e legislação) onde apenas poucas pessoas tinham acesso, para se tornar algo público, ou seja, livros que são escritos por pessoas comuns, escritores. A partir desse momento que o livro é visto como necessidade, nasce o bibliotecário.
O autor faz uma reflexão do profissional já no século XIX, enfatizando que a sua ascensão ocorre conforme o livro se torna algo cada vez mais importante para a sociedade. Nesse período não existe mais a urgência de se adquirir livros, mas sim a necessidade de organizá-los para promoção da leitura. Nesse contexto o aparecimento de bibliotecas e bibliotecários torna-se crescente.
José Gasset em seu discurso critica a criação desenfreada de livros, e ressalta que deve haver um controle, devido à falta de qualidade que começa a haver. Ressalta que muitos são inúteis, e apenas dispendem trabalho por terem de ser conservados. Além disso, esse contexto traz a nova missão do bibliotecário que é orientar o seu leitor não especializado dentro desse mar de livros.
Em finalização do discurso, o filósofo traz palavras acerca do que é o livro. E critica o fato de darmos por “certo e sabido” o que é um livro, a partir do substantivo, mas não considerar a fundo a sua essência.
Nesse contexto, Gasset divide o conceito de livro entre verdadeiro, sendo aquele que tem a autêntica função vivente, que esta sempre dizendo o que é preciso dizer. E o falso, cuja sua fabricação se dá apenas com o interesse econômico ou social. De forma filosófica, o autor enaltece a função vital do livro, mas faz duras críticas a banalização da escrita.
Sinceramente, eu adorei a leitura desse livro, que me trouxe questionamentos e reflexões acerca da minha atuação profissional, mas muito da nossa atuação coletiva como bibliotecários.
Crescemos muito na otimização dos serviços com o uso das tecnologias existentes, mas considerando as palavras que foram proferidas há anos atrás será que realmente entendemos qual a essência vital do livro? Será que isso é sinal de que ainda valorizamos demais a mera administração da coisa chamada livro? Talvez os dados estatísticos sobre a quantidade de leitores no Brasil possam nos dar uma ideia disso.
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http://leiacomagente.com.br/missaodobibliotecario/