Azenath0 12/04/2024
Um diamante que é brilho, espelho e reflexo
Comecei a ler o livro no ônibus a caminho da faculdade, sem muitas surpresas, crente de que logo ia abandonar a leitura por outra mais interessante. Me enganei: no caminho de volta, reli todo o começo do conto "O diamante do tamanho do Ritz" e me deparei com exatamente uma mesma frase que ouvi na aula. A partir dessa feliz e estranha coincidência, a leitora hesitante e cautelosa que há em mim foi substituída pela leitora voraz, adormecida na época de minha adolescência.
É perceptível nas histórias de Fitzgerald as críticas sociais e reflexões inerentes a elas, mas acho que a leitura de cada conto tornou-se cativante e envolvente para mim porque, além de bem construído, os personagens e enredo são capazes de se conectar, de alguma forma, com nossos pequenos e secretos pecados do cotidiano, com aquela versão de nós mesmos que é facilmente refletida no orgulho de Berenice, na vaidade de Marjorie, na ambição de Sally Carrol ou na ganância de John. Conseguimos nos imaginar no lugar deles, fazendo o que eles fariam - ou, pelo menos, entendendo o que fizeram ou relembrando coisas que já fizemos parecidas -, assim como a natureza dos seus desejos que são puramente humanos.
Assim, a escrita de Fitzgerald capta o denso, primitivo e visceral com sofisticação, imaginação e humor. Ela me conquistou justamente pela transparência e sinceridade que sinto carregar em si mesma por refletir os dilemas de, certo modo, próprio autor, presentes tanto em sua época e contexto quanto na atualidade, o que a torna atemporal. Consigo facilmente visualizar uma moça no mesmo lugar em que estive, nas próximas décadas, talvez na volta para casa como eu: lendo o livro, deixando-se ser lida por ele e gerando significados que ligam-se com a sua subjetividade e contexto para as cenas, sem que pareçam sem sentido, distantes da realidade ou mortas. De algum modo, Berenice, John e Sally ainda parecerão vivos à sua forma, espelhando anseios juvenis, dúvidas e diálogos.