Jorge 13/07/2019
"Nada a ser feito"
Em "Waiting for Godot", Samuel Beckett nos apresenta um texto dramático em que nada acontece duas vezes. Subvertendo a ordem aristotélica, esta tragicomédia expressa o máximo do realismo, um realismo muito mais interno e universal, desprendido de um tempo e espaço sociopolítico específico.
O texto de Beckett convida seu leitor, por meio das representações da inércia humana, a observar-se a si mesmo para identificar quais Godots o prende no curso de sua existência. A peça tem dois personagens principais, Didi e Gogo, que estão esperando por Godot e enquanto esperam, tentam encontrar algo a ser feito para passar o tempo. No entanto, até as tentativas de "matar o tempo" são inúteis e algumas aparentemente não tem sentido alguma, são absurdas.
A espera por Godot produz em Didi e Gogo tamanha inércia que não conseguem deixar se esperar por ele, mesmo talvez sabendo (?) que ele não virá. Godot representa nossas próprias prisões que nos impedem de seguir adiante, pois não conseguimos desvencilhar-nos delas, assim como no texto de Beckett os protagonistas estão presos a Godot.