Aline T.K.M. | @aline_tkm 26/06/2014A felicidade não vem acompanhada de garantiasDavid Foenkinos nos embala em uma trama repleta de reviravoltas sobre o amor, o conceito (e a percepção) de felicidade, o “eu” e o “outro”.
Tudo parecia ir às mil maravilhas entre Jean-Jacques e Claire. Casados há oito anos e pais de Louise, a união parecia perfeita aos olhos dos amigos do casal. Na realidade, o tédio e a mesmice haviam tomado conta da relação há tempos. Até que Jean-Jacques, influenciado por um amigo próximo, resolve que é hora de ter uma amante e se rende à beleza de Sonia, sua colega de trabalho.
Claire até desconfia, mas não dá muita importância no início. Um dia, decide contratar um detetive para seguir o marido e tirar essa história a limpo. O que Claire não imaginava é que acabaria se envolvendo com Igor, o detetive que contratara.
Retrato fiel de tantos casais por aí, Jean-Jacques e Claire se agarram à lembrança já desbotada de uma viagem a Genebra nos primórdios de seu relacionamento, uma espécie de justificativa para o que alegam ainda sentir um pelo outro, e que os faz acomodar-se num cotidiano sem muito sabor.
A separação, no entanto, lhes proporciona uma nova juventude; ao se envolverem com outras pessoas experimentam novamente os sentimentos à flor da pele, acham graça das coisas mais banais e beijam com a urgência dos adolescentes.
O autor acerta ao inserir em segundo plano a história dos pais de Claire, em especial a de sua mãe. O medo fez com que dissesse não para uma possível felicidade vislumbrada a partir de uma aventura amorosa na juventude. Os resquícios do sentimento de outrora e o arrependimento a acompanharão por toda a vida.
Afinal, é exatamente isso o que Foenkinos nos fala: é preciso ter a coragem de dizer vários não e basta para que se possa dizer outros tantos sim, de forma talvez mais acertada. E vice-versa.
Com humor, situações desengonçadas e uma pitadinha – só o suficiente – de sentimentalismo, a trama mostra que a felicidade não vem acompanhada de garantias e nem sempre o óbvio é a resposta certa. Às vezes, é preciso se permitir outras vivências, isentas de pré-julgamentos, atirar-se na imprevisibilidade do desconhecido para encontrar as respostas mais certeiras. Aquelas que por estarem tão próximas são as que se fazem mais difíceis de enxergar.
Talvez, a memória daquela viagem a Genebra só exista para lembrar Jean-Jacques e Claire do que eles já foram um dia – e não voltarão a ser. Ou, de repente, aqueles dias suíços estão mais vivos do que nunca, só aguardando por um replay.
LEIA PORQUE...
Com uma narrativa que dá gosto de ler, David Foenkinos pega o clichê e lhe dá uma nova vestimenta, convidando-o a dançar ritmos variados e trazendo uma mensagem capaz de tocar fundo sem exageros nem excesso de açúcar.
DA EXPERIÊNCIA...
Não tão encantador como As Lembranças e A Delicadeza; ainda assim, uma leitura adorável!
FEZ PENSAR EM...
Essa história, como na vida real, poderia ter mil e um finais possíveis e diferentes. E acho que todos eles me agradariam.
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