Brito 24/03/2021
Carlos Drummond de Andrade- Antologia poética
Algumas características ressaltam a uma primeira leitura: simplicidade, brevidade, inovação, originalidade e leveza.
Sem alardes, Carlos Drummond apresenta uma paleta de temas surpreendente na sua poesia: pobreza, morte, tempo que passa, alienação, impotência perante os valores impessoais da vida moderna, o outro, e muitos outros temas que trata de forma muito pessoal, original, umas vezes pessimista, outras irónica, e outras, ainda, em que defende um mundo mais justo e fraterno, mas sempre de um ponto de vista especial, diferente, quotidiano, afectuoso, usando uma lente estreita, reduzida, pequena, para a partir daí ver maior.
A sua poesia vai directa ao olho do furacão, não está lá para cantar palavras a mais, está a dizer-nos venho só para dizer isto porque isto é o que sei dizer, o que quero dizer, o que sinto devo dizer, diz e deixa vazia a grande casa do poema. E isso nota-se no seu poema breve, simbólico, sintético, há uma espécie de anunciação, ainda agora chegou e já vai anunciando a sua despedida, a sua partida, é só para dizer isto, diz com uma certa humildade, ou apenas leveza, não quer de modo nenhum salientar a importância do que vem trazer ali, e muito menos ser aborrecido; venho só para dizer esta pequena coisinha que trago aqui - parece dizer-, e o que faz é pegar num assunto pela milésima vez tratado, pegar-lhe por um pequeno ponto original, inovador, sentido, autêntico, franco: perdi o bonde e a esperança (…), Que barulho é essa na escada? (…), Amor é bicho instruído (..), e agora José?
Um grande poeta simples que escreveu poemas dignos de figurar nas coisas da vida que ficam por aí como casas e estradas e rochas, não é impossível que por trás de uma pedra se encontre um poema de Carlos Drummond, ou num comboio, num edifício público, num banco de jardim, não é nada improvável darmos com um poema de Carlos Drummond aí no quotidiano da vida à nossa espera.