Disgrace

Disgrace J. M. Coetzee




Resenhas - Disgrace


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Anica 01/03/2011

Desonra (J.M. Coetzee)
Quando um autor é sugerido por mais de uma pessoa, é natural que o leitor crie alta expectativas sobre sua obra. É um misto de curiosidade, tentando entender a razão pela qual ele agradou tanta gente, com um pouco de dúvida, se para você o livro também será especial. Foi dentro desse contexto que finalmente pude ler Desonra, do sul-africano J.M. Coetzee. Inicialmente achava que seria algo no estilo da narrativa que conquistasse tantos elogios, mas logo pude perceber que não era esse o ponto alto do trabalho do escritor em questão.

Se em muitos casos o que salta aos olhos é o modo como se narra uma história, aqui o importante é de fato a história. Não que a escrita de Coetzee não seja digna de nota, pelo contrário: ele consegue fazer uma prosa que flui muito bem, sem qualquer excesso que venha a causar enfado ao leitor. A tensão vai sendo construída aos poucos, de modo que chega um momento em que não se quer largar o livro. Mas mesmo assim, a força de Desonra está nos diálogos e no desenvolvimento da trama e das personagens.

De início somos apresentados ao professor David Lurie, que aparentemente leva uma vida medíocre em todos os sentidos. Após se envolver com uma aluna, é forçado a deixar o emprego. Mal visto em sua cidade por conta dessa “desonra”, decide passar um tempo com a filha (Lucy), que mora em uma fazenda criando cães. É aí que chega o evento mais importante do livro, quando ambos são atacados violentamente por três homens da região.

Esse ataque poderia até conduzir o leitor a achar que trata-se principalmente de um livro com crítica sobre o pós-apartheid, mas não seria justo com a obra reduzi-la a um mero panfleto político. O que move a narrativa é mais do que a visão óbvia do débito histórico, da raiva que se desenvolveu aos longos dos anos entre negros e brancos daquela região. A ideia sutil do que nos faz humanos, do que nos faz selvagens, está sempre ali em Desonra, em cada ato ou reflexões das personagens.

A principal dica sobre esse tema por incrível que pareça não está no ato bárbaro realizado pelos três homens que violentam a filha de Lurie, mas na constante presença dos cachorros na história. Sejam os do canil de Lucy, sejam os que são sacrificados na clínica local, com eles temos a volta do tema do que significa ter uma alma (e se é isso que os torna diferente dos humanos). É interessante que a alma aqui tem uma relação com sentimento, e ao contrário do lugar-comum em discussões sobre o assunto, não é a razão que nos difere, mas como agimos de acordo com o que sentimos.

Algumas passagens chegam a despertar sensações como agonia e raiva – e qualquer escritor que consiga fazer com que o leitor sinta emoções fortes pela história que está contando merece elogios. Há a curiosidade por querer saber o que Lurie não quis, ou ainda a vontade de fazer algo quando a filha de Lurie, Lucy, não quis fazer. Há realmente uma interação com o texto, que requer um pouco mais de quem o lê.

Não apenas isso, mas também é o tipo de obra que exige reflexão. Embora Desonra seja tão bom que a vontade é devorá-lo em um dia, ele precisa ser lido aos poucos, para saborear o que Coetzee sugere, especialmente na fala de Lurie (que em dado momento se repreende por estar “palestrando” e o primeiro pensamento é “Ei, não tem problema, pode continuar!”).

Um livro excelente, que acabou respondendo todas minhas expectativas. É bom quando um autor não é recomendado por ter obra obtusa ou “difícil”, mas simplesmente porque sabe nos envolver e conduzir através de uma galeria de ideias, colocadas de uma forma ao mesmo tempo tão simples e tão bonita que a única coisa que você pode perguntar após terminar Desonra é: por que não li este livro antes?
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Jonara 06/03/2014

Quem é Lucy?
No dia que acabei o livro, eu fui para cama e não consegui domir. Eu só pensava em Lucy. Foram horas e horas e horas lembrando das ações de Lucy, da história da África do Sul, a história pessoal do Coetzee e a história dos Afrikaners. Em um determinado momento, algo finalmente fez sentido. Agora, quanto mais eu penso, mais faz sentido, e isso me faz pensar na simbologia das outras mulheres do livro, que eu ainda não decifrei.
Para mim, Lucy representa os Afrikaners, um povo descendente dos Holandeses. Muitas referências no livro mostram isso. Sua mãe era holandesa e David, em muitas ocasiões, suplica a ela que volte para a Holanda. Mas ela não pode, e se submete a violência e à humilhação. Por que uma mulher faria isso? Por que ela não é uma mulher. Ela é a representação deste povo que já não é mais holandês, apesar de sua origem. Este povo agora está estabelecido nesta terra, está estabelecido na África, e não pode simplesmente ir embora. Não tem para onde ir, não é simples assim.
Lucy representa todas as pessoas que Coetzee ama e que sofrem ao se submeter às condições precárias do país. David representa os desejos e argumentos de Coetzee. O sofrimento de David por sua filha é o sofrimento de Coetzee pelo povo. Há um amor profundo, porém não há entendimento. Coetzee foi embora da África. David fica. Lucy e o povo ficam.
Petrus representa o governo. Um governo que é cego quando lhe convém. Que abriga marginais. Que se faz de desentendido. Que é corrupto. Lucy, o povo, aceita se submeter às regras, mesmo que injustas. É o único modo de sobreviver e ficar na terra.
Com essa leitura, muitas passagens do livro começaram a fazer sentido. Tive vontade de reler imediatamente, mas vou deixar para o futuro, depois de amadurecer mais um pouco. Lucy muitas vezes fala para David: já aconteceu antes, você não estava lá. São fatos da história da África do Sul. Bev parece aceitar melhor o fatalismo da situação. Parece saber mais sobre Lucy que David. De certa forma, Bev sempre esteve perto de Lucy. David não. Coetzee não esteve o tempo todo na África. Ele não estava lá em muitos momentos difíceis. Ele não estava lá ao longo de toda a história.
Nesta mesma noite, pensei que talvez Soraya e Melanie também representem situações da história da África. Soraya representa a ilusão de David, de que as coisas estavam sob controle. O país no apartheid, quando os brancos (incluindo Afrikaners) achavam que estavam no controle. Mas um dia ele viu a realidade, e as coisas não puderam mais ser as mesmas.
Melanie representa um momento de mudança de poder. David é julgado, admite que estava errado, mas não vai assinar uma confissão. David representa os brancos? Seria uma representação do fim do apartheid?
E aí voltamos a Lucy, e à representação do que está acontecendo com os Afrikaners na África do Sul. Será que foi isso que Coetzee quis nos mostrar?
Penso que é um caminho. Ainda vejo muitos enigmas a serem desvendados neste livro. O que eram os cães? O que era o fogo, que David tanto fala que Melanie provocou, e por fim, ele mesmo pegou fogo? Por que Byron?
Enfim, esta resenha ficou imensa, mas este livro realmente me deixou muito intrigada e a chave de tudo era Lucy. A falta completa de lógica da personagem foi o que me motivou a buscar uma explicação maior para o livro, e se eu estou na pista certa, creio que este é um livro monumental.
Ronnie K. 08/05/2016minha estante
Tou lendo!!




Paula 18/11/2009

Título em Português: Desonra
Desonra narra a história do professor David Lurie, um homem divorciado, cheio de desejo, mas sem paixão. Após um conturbado "relacionamento" com uma aluna, ele é afastado da universidade onde leciona, é desprezado pelos colegas e ridicularizado pela ex-mulher. Depois de perder tudo que tinha por conta das acusações que lhe foram feitas, ele parte em busca do único relacionamento que parece lhe restar: sua filha Lucy, que vive uma vida simples em uma pequena propriedade no interior do país. Para se afastar de todos os problemas, das recriminações das pessoas nas ruas e talvez de si próprio, David acaba indo passar um tempo com Lucy, na tentativa de encontrar significado na última relação que lhe restou. O sítio é assaltado por três homens, David fica gravemente ferido e Lucy é violentada. Esse incidente de extrema violência mostra a condição da mulher na África do Sul, já que os agressores são membros da comunidade onde Lucy mora e nada é feito em relação a isso. A polícia e a justiça não interferem nas cruéis "leis sociais" que ainda hoje parecem estar em vigor. A desonra de David é a de um homem que chegou ao fundo do poço, que não vê mais nenhuma perspectiva para sua vida, que não alimenta mais nenhuma paixão e que desiste de si mesmo diante da brutalidade da vida.
O livro é como um soco no estômago. Cruel, amargo, extremamente real, mas às vezes despertando ternura, é uma história que te deixa sem fôlego.
Coetzee é surpreendente.
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Beatriz 25/03/2016

Tive que ler esse livro pra faculdade e fiquei encantada com o quanto eu gostei mesmo que sendo um livro super realista e pesado em muitos sentidos. Eu pude observar um lado da África do Sul que eu normalmente teimo em esquecer. O autor fez um ótimo trabalho retratando a vida e as hipocrisias de um homem no auge da crise de meia idade que não tem muita sorte no amor e se vê morando com a filha única em sua fazenda depois que é demitido do trabalho por se envolver com uma estudante. A história começa de uma forma e termina de outra e eu só tenho a dizer que todos deveriam ler esse livro e repensar as formas como temos tratados pessoas com menos privilégios que nós (sejam esse privilégios quais forem).
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Gerônimo 31/08/2019

Muito bom
Uma obra literária exepcionalmente bem escrita. Leitura prazerosa.
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Bia 28/12/2023

Sharpy and revolting, a portrait of the tension in South Africa post-apartheid. It is a tough readind with a lot of violence, racism and misogyny.
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