Jow 23/11/2011Para todo o sempre."My home was there 'n then
Those meadows of heaven
Adventure-filled days, one with every smiling face
Please, no more words
Thoughts from a severed head
No more praise, tell me once my heart goes right
Take me home"
Nightwish The Poet and the Pendulum
O que faz isso tudo por que passamos, sentimos e experimentamos nesta grandiosa fantasia chamada de vida valer a pena? Minha resposta é direta: por acreditar em que tudo acontece por um motivo e que por trás desta gigante e inexplicável razão, existe a simples necessidade de encontrarmos a felicidade. Estas são duas verdades pessoais que trago comigo desde antes de A Torre Negra e que foram erguidas como nunca nestes longos (e ao mesmo tempo tão curtos) dois anos, e 19 dias de leitura em busca da Torre. O emocionante e inesquecível desfecho da série épica escrita por Stephen King me entregou algo com o qual eu não podia esperar algo tão perfeito, e ao mesmo tempo tão macabro, que irá me deixar um vazio enorme, só comparado com o fim do meu seriado favorito: Lost.
No seu início comovente em O Pistoleiro até o fechar das cortinas deste último volume, no ocaso de uma odisséia, A Torre Negra consagra a certeza de que, por incríveis, imensos e intensos sete livros, vivenciamos uma fábula sublime e unicamente grandiosa a respeito da busca de Roland (e também nossa) pela felicidade, pelo desejo doentio de se encontrar respostas que pudessem curar um mundo enfermo e prestes a ruir, e sua procura maior: entender como o Ka, o destino, pode reger e ditar as regras e as possibilidades de uma vida, ou várias delas; como o amor pode ser algo tão sublime e perfeito, e como os laços afetivos podem construir e reconstruir uma pessoa, mesmo a distância, mesmo elas nunca tendo se encontrado pessoalmente, mesmo que alguém diga que tal encontro é loucura, impossível, improvável. Buscamos uma luz que, em tese, deveria nos ser facilmente encontrável por estarmos freqüentemente mergulhados no escuro, mas que por muitas ocasiões desaparece por nos deixarmos cegar por este breu que é tão humano quanto os personagens que nos conduziram, através de suas jornadas, por um encontro com nossas próprias histórias.
A Torre Negra comprova um ritual de 34 anos de duração na vida de Stephen King, e de seus personagens, em que nos foi dada uma chance, uma escolha: a de nós e eles nos tornarmos um só. E, uma vez fechado o livro, me sinto plenamente feliz por ter me servido do copo e ver que não estive sozinho, ver que não estou sozinho (Estou certo Alan? Fran?Felipe?). Muitos, somos Roland em crenças inabaláveis no Ka; somos Oi no amor e na inocência, mas também na bravura e na defensoria daqueles que amamos; somos Susannah quando ora renunciamos, ora revelamos o que trazemos; somos Jake ao encontrar pesadelos que contam nossa história mas não nos mostram; somos Eddie ao sucumbirmos diante de nossas fraquezas e ao conseguirmos nos fortalecer diante delas; somos Susan na luta pelos amores que nos dão constantes de vida; somos um ka-Tet em transformação ininterrupta que, mesmo na morte, aponta a direção.
Neste volume de encerramento, A Torre Negra se desfaz em definitivo de supostos embates para atar laços fundamentais: a fé como algo essencial para trilhar o nosso caminho, para que essa essência, esse patamar alcançável de uma força nos transcenda e nos torne pessoas capazes de superar todas as nossas dificuldades e desequilíbrios, para nos tornarmos plenos, indissolúveis; e livre arbítrio que nos permite antecipar ou retardar o destino, que se torna Ka ou até mesmo Ka-Shume para gerar uma força capaz de desbloquear os nossos sentidos e pavimentar a difícil e longínqua estrada para a Torre. Tudo ao sabor da epopéia de nossos personagens, contada através deles; vivida por todos nós, Pistoleiros fiéis que sempre fomos.
E por fim, nem a mais generosa noção do que seria a catastrófica jornada para A Torre Negra poderia antecipar a força e o sentido das lágrimas dos momentos que antecederam o Ka-Shume, nada poderia nos preparar para as lágrimas que se apropriariam de nós neste belíssimo fim, lágrimas donas da mais pura e alcançável felicidade.
Nada vai nos roubar a emoção de estar atravessando uma porta onde o amor e a paz envolve os que seguem juntos dos seus, independente para onde formos, mesmo que seja para a morte, para a clareira no fim do caminho. Nada vai nos tirar a sensação de que, após uma saga de dúvidas e fé, desilusão e esperança, quando os olhos de Roland se encontraram com a Torre Negra, a luz dessa grandiosa saga, se fez presente não pela última e mais bela vez, mas para sempre. Para todo o sempre.
Fica o vazio, mas também fica a felicidade estonteante de poder compartilhar da água do Ka-Tet de Roland, Jake, Eddie, Susannah e Oi. Meus amigos, chorando copiosamente eu vos digo: Levarei vocês eternamente tatuados em meu coração, e tenham a certeza de que os encontrarei na clareira no fim do caminho. Pode apostar seu último dólar que sim!
Ka.