Refugo de guerra

Refugo de guerra Ha Jin




Resenhas - Refugo de guerra


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Higor 02/06/2023

"LENDO PULITZER": sobre como venerar os Estados Unidos, sendo um emigrante
A temática de guerra me repele em todas as suas extensões e abordagens, pois parece que o objetivo principal não é o de explicar o assunto em todos os seus intrincados desdobramentos, ou de manter viva a mente de tantos mártires e vítimas de tais atrocidades, mas simplesmente o de apresentar através de cenas gráficas, com riqueza de detalhes e de crueldade, mortes e torturas e sofrimentos dos mais variados tipos.

Sim, tais sofrimentos foram reais e muito piores que os retratados em quaisquer filmes e livros, mas ainda assim, eu acredito que narrar com detalhes coisas do tipo pouco agregam leitor e leitura. Dito isso, para eu encarar um livro sobre guerra, ele tem de trazer, logo de cara, algo muito diferente ou peculiar.

"Refugo de guerra", finalista do Pulitzer, é um tanto curioso: escrito em inglês pelo chinês naturalizado americano Ha Jin, que participou, inclusive, da Exército Popular de Libertação, a principal força militar chinesa, e de alguns anos no comunismo que se instaurou no país, o livro aborda um tema que todos têm curiosidade em ler sobre, inclusive opinam, mesmo sabendo de tão pouco sobre o assunto, que é a emblemática Guerra da Coreia.

O aparente desfecho todos sabem: a divisão do país em dois, um capitalista e potência mundial (13ª maior economia do mundo) e principalmente cultural para o mundo inteiro, enquanto a outra vive isolada e protegida até os dentes, mas os detalhes de como se chegou a isso, pra ser sincero, poucos conseguem falar com exatidão, de tão complexos e até mesmo defasados que são os fatos.

Munido de curiosidade, decidi ler "Refugo de guerra" e entender o assunto, afinal, o autor tem muita propriedade para falar, pois não somente pesquisou a fundo o tema, como os diversos livros presentes no final da história, em forma de agradecimento pela consulta, como viveu parte deste período, quando era do exército, até sair aos 19 anos.

Acontece que a sensação é a de que "Refugo de guerra" é um livro com muita gordura a se retirar para ter acesso ao que realmente importa, que são os detalhes da guerra, tanto que o próprio narrador está em seus devaneios e acaba falando algo como "Após falar sobre assunto x, de pouca importância, no capítulo anterior, voltemos a…", e realmente, o capítulo anterior fora totalmente dispensável, avulso, como se quisesse simplesmente trazer um momento de tristeza e choque ao leitor, mas que, ao pulá-lo, continuaria a história sem deixar de entender algo essencial.

Yu Yuan é enviado para a Coréia quando a China decide apoiar a força comunista ali presente. É importante entender que a dissolução em duas Coreias, do Sul e do Norte, acontecerá anos depois dos eventos narrados. Acontece que Yuan é capturado pelo lado americano, tornando-se, então, prisioneiro de guerra, onde passa a sofrer horrores, como é de se imaginar, por não abrir mão de seus ideais pessoais e não políticos, que é a luta por rever a mãe, sozinha na China, e a noiva que prometeu esperá-lo.

Dentro de um jogo de tabuleiro que parece não ter fim, Yuan não sabe o que fazer, se sofre as devidas penas por ser um comunista ou decide ser repatriado para Taiwan ou para a futura Coreia do Sul, também chamada de País Livre, pois voltar a China é considerada sentença de morte. E é aí que o livro se perde no vai-e-volta, no fico, não fico, e passa a se tornar um grande panfleto político pró-capitalismo e Estados Unidos, o que justifica a presença do livro em prêmio estadunidense de tamanha importância.

Embora o autor se reserve a comentários sórdidos com registros de que os exércitos chinês e norte-coreanos foram fracos e dispersos em diversos pontos, o que causou a morte de tantos soldados e civis, chega a ser desconcertante como os detalhes sobre o exército norte-americano são tão irreais e opostos do exército adversário, pois o autor pincela a ideia de um exército limpo, alinhado, bem organizado e preparado para quaisquer circunstâncias, quando a verdade é que mais de 3 milhões de mortos são ignorados por uma propaganda um tanto demasiada. Somente os EUA, descritos como inabaláveis aqui, perderam aproximadamente 34 mil soldados na guerra.

Óbvio que a maior potência do mundo foi melhor preparada para a guerra, mas eu também acredito que em qualquer cenário caótico de guerra não há tanta beleza, perfeição e organização estrutural assim como a apresentada no livro. Com certeza, soldados americanos sofreram, foram tratados como vítimas, dizimados, embora tenham também sido bem sucedidos em diversos pontos, inclusive dizimando e matando soldados adversários e civis, como é típico de toda guerra.

Com menos páginas que nada agregam a história, menos relatos gráficos de tortura gratuita e menos inclinações para os Estados Unidos, "Refugo de guerra" seria um relato ainda mais sincero sobre um momento tão decisivo e marcante para a história não só dos coreanos, mas do mundo inteiro.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Pulitzer".
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Nat 25/12/2014

Narra a história de quando os comunistas tomaram a China. O narrador foi preso pelos coreanos e tinha a opção de voltar para o continente ou ir para Taiwan. Na verdade não era uma opção, faziam de tudo para que não voltasse para China, mas ele conseguiu. No entanto, ficou preso com americanos (aliados da ONU) até poder voltar, e sofreu muito. Histórias interessantes durante esse tempo de prisão, como por exemplo um menino que ele ensinou a ler e contar, e que depois de solto virou contador em sua cidade. E histórias de tortura e sangue também.
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