Carous 27/12/2017Para Clare, é difícil ser quem fica. Para mim, foi difícil ser quem liaEu daria 5 estrelas fácil pela história de Audrey Niffenegger, apesar das várias críticas negativas que tenho do livro, pela qualidade da escrita, pelo enredo original, por ela não ter se enrolado na própria viagem ao tempo.
Este ano li um livro em que a escritora se excedeu no número de páginas e mal as usou para desenvolver sua história. Então, quando vi que "A mulher do viajante no tempo" tinha mais de 600 páginas - a minha edição, pelo menos -, fiquei com receio, mas diferente de Deborah Harkness, Audrey provou que precisava desse número todo de páginas para contar sua história direito. que sua narrativa é gostosa.
Mas daria -1 por Audrey ter nos trazido personagens tão insuportáveis que me fizeram achar difícil de torcer, apesar do passado triste de Henry e do destino amargo de Clare e Henry.
Primeiro: eu não tenho nada contra personagens imperfeitos. Eu só não gosto de personagens hipócritas nem embustes. Tanto Clare quanto Henry passaram da cota de serem chatos e injustos.
Desde os 6 anos de idade, Clare é visitada pelo seu futuro marido, Henry, que nessas visitas que vão dos 6 aos 18 anos da jovem, ele está na faixa dos 30-40 anos. No início, as visitas são inocentes. Henry e Clare conversam bastante, ele a ajuda nos deveres de casa e depois desaparece deixando apenas as roupas como prova de que Clare não imaginou nada aquilo.
Então Clare entra na adolescência, e Henry se acha no direito de contar ao leitor como a Clare de 12, 13, 14, etc anos está com o corpo parecido com a sua mulher, a Clare adulta. Isso me deixou extremamente incomodada porque apesar deles serem um casal no futuro, estamos falando de uma criança e certas descrições sobre o corpo dela são meio creepy.
Clare e Henry têm 8 anos de diferença. O Henry de 0 a 28 anos ainda não viajou no tempo para conhecer a futura esposa, então quando esbarra com uma moça que afirma conhecê-lo muito bem, ele se assusta.
Bom, aos poucos vamos conhecer também esse Henry de 20 e poucos anos e sua vida desde criança. Percebemos que apesar de sua condição, ele teve uma adolescência relativamente tranquila, namorando, beijando meninas e uma juventude idêntica. Henry se tornou um canalha, devo dizer. Trata as mulheres como lixo, vive bêbado, tudo isso, a escritora tenta justificar, se deve ao fato dessas suas namoradinhas não serem sua alma gêmea. Clare é que é. Ela é a única que o enxerga de verdade, o compreende, acredita quando ele fala da sua doença genética e nunca reclama ou parece infeliz dessa vida instável que vive com o Henry *revira os olhos* Então apenas ela merece ser tratada com dignidade. Quando as ex e as amigas delas e de Clare tentam alertá-la sobre Henry, ela as trata com o mesmo desdém. Como se fosse uma competição é Clare tivesse conquistado o prêmio e os outros estão com inveja.
Bom, não achei justo Henry ter vivo experiências amorosas e sexuais enquanto que Clare desde os 6 anos está presa a esse viajante do tempo.Todas as experiências sexuais que ela viveu, todos os beijos que ela deu foram para ele. A única vez em que ela dá chance a um garoto porque está sofrendo bullying na escola, ele é um cretino e ela precisa chamar seu cavaleiro Henry para salvá-la. Aff!
Outra coisa que achei absurdo foi ver Clare adolescente desenvolvendo uma paixonite pelo Henry maduro e constatar que ele não a desestimulava em nada. Aceitava as propostas ousadas que ela fazia como se não pudesse fugir da situação (e ele podia)
Por fim, ainda tem o fato de Henry e Clare tratarem seu pai e sua mãe, respectivamente muito mal. A vida do pai do Henry acabou quando ele perdeu a esposa e o filho deveria entender que tipo de amor era esse que ele sentia já que agora vive a mesma coisa com Clare. Já nossa protagonista, por outro lado, só consegue sentir empatia por sua mãe doente mental quando ela passa pelos mesmos problemas que ela.
Minha opinião sobre ela já não estava boa, mas aí foi por água abaixo com um comentário sobre adoção que ela fez.
Por todo esses pontos, eu simplesmente não consegui torcer pelos personagens. Sempre com ar de superioridade quando alguém tentava dar conselhos sobre a relação deles, sempre se achando melhores que o outro, sem agarrados ao outro fazendo tanto sexo que eu fiquei enojada de ler sobre a vida sexual deles na segunda página - podiam ter editado um pouco essas partes -.
O que vi neste livro foi uma relação de dependência glamorizada. Apesar de ter adorado a escrita de Audrey, me vi lendo por alto desde a metade do livro porque não aguentava mais Henry e Clare.