Os mortos não dançam valsa

Os mortos não dançam valsa Roberto Drummond




Resenhas - Os mortos não dançam valsa


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@OLucasConrado 15/02/2017

Conto de fadas moderno
É um livro curto, com uma escrita envolvente e o estilo inconfundível do autor de Hilda Furacão, cheio de repetições, flashbacks e personagens com falas cheias de idealismo. Apesar de ter a cara do escritor, Os Mortos Não Dançam Valsa tem uma pegada bem diferente dos outros livros que li. E é o meu favorito.

Para começar, os livros do Drummond estão cheios de elementos reais misturados com a ficção. Seja o próprio Roberto na história - como acontece com o narrador de Hilda Furacão - seja a inserção de locais, períodos históricos ou mesmo pessoas reais (o goleiro Kafunga e o repórter Wilson Figueiredo - com quem trabalhei - já foram personagens de livros), as histórias do Drummond têm uma cara de realidade. Tem um quê de "isso já aconteceu de verdade?".

Os Mortos Não Dançam Valsa foge dessa lógica. Para começar, a fábula já parte de uma premissa que foge totalmente da realidade. O bruxo argentino Tango, embalsama o corpo de Lu e dá a ela uma sobrevida. Apesar de não conseguir se mexer direito, a mulher enxerga, fala e tem consciência. Enquanto a perseguição se desenrola, mortos saem dos túmulos em todo país para apoiar a viagem de Lu e seu marido e também para reivindicar a realização dos sonhos que não alcançaram em vida.

Uma questão que é batida ao longo de toda história é o quanto abrimos mão de nossos sonhos e felicidade em função do trabalho. O Homem dos Óculos Ray Ban sofria com um chefe dominador. O gerente não deixava o personagem principal cantar ou assobiar no trabalho. Jogava na cara que o Homem dos Óculos Ray Ban não levaria a esposa ao Rio naquele verão. Culpava o funcionário pelas baixas vendas de papel higiênico.

Ao longo da história, o personagem-narrador, vai destacando como ele deixou de fazer as coisas com a esposa por causa do trabalho e baixa remuneração. Nunca tinha a carregado nos braços em uma manhã de sol. Nunca tinha conseguido aproveitar a lua e as estrelas. Nunca foram nos bares e restaurantes que gostariam. Em diversos momentos, o Homem dos Óculos Ray Ban defende que, além do salário digno, os trabalhadores deveriam receber dias de sol e noites de lua para aproveitar.

Os Mortos Não Dançam Valsa é uma história de amor diferente de qualquer outra que eu tinha visto. Mais do que uma história policial ou mesmo uma história de amor, um amor verdadeiro que faz o personagem principal enfrentar tudo e todos para realizar o maior sonho de sua amada, é um livro que nos faz pensar no quanto que abrimos mão em nossas vidas por coisas que, no final, vemos que não têm tanta importância.

O livro é curto, tem 100 e poucas páginas. Com as letras grandes e o espaçamento entre linhas, acaba se tornando uma história rápida de se ler. É possível devorá-lo em uma tarde. Sou um grande fã da obra do Roberto Drummond, ele é meu escritor favorito. Os Mortos Não Dançam Valsa é o livro dele que mais gosto.

Apesar disso, não é um livro perfeito. Ele foi publicado pouco depois da morte do Roberto Drummond. Confesso que não sei se ele já tinha terminado de escrever no momento de sua morte. Explico: O livro é narrado pelo Homem dos Óculos Ray Ban e em muitos momentos, o autor mistura pensamentos do narrador com falas. Posso estar cometendo uma grande injustiça, mas dá a impressão de que esses detalhes escaparam de uma revisão mais aprofundada (mas isso não atrapalha a narrativa de forma alguma).

Além disso, há uma situação com um policial rodoviário, do meio para o fim do livro. Essa situação é resolvida em apenas um parágrafo, de uma forma muito rápida. Está certo que o ritmo do livro é bem corrido, mas poderia ser mais desenvolvida essa questão.

Mas, mais uma vez, esses detalhes não atrapalham a leitura, nem tornam o livro ruim. Muito pelo contrário, se você procura uma história de viagem, de amor, de perseguição policial e, especialmente, de sonhos a serem realizados, recomendo muito Os Mortos Não Dançam Valsa.
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