Rodolfo Vilar 03/03/2024
Em ?Tenda dos milagres?, romance de Jorge Amado de 1969, o autor usa como pano de fundo as discussões a cerca de raça e miscigenação pra criar um de seus personagens mais sublimes: Pedro Archanjo. Confesso que de início achei o romance um pouco controverso e grandioso demais para sua proposta, quando foi só então que percebi que deveria comprar e aceitar o seu teor irônico que Jorge Amado emprega em suas páginas. É a partir de duas linhas temporais que o autor irá nos contar a biografia de Archanjo, onde presente e passado mostram a figura icônica que o consagrou.
Com repertório que merece atenção, ?Tenda dos milagres? mostra o momento histórico do Brasil, quando na década de 40 e 50 tem-se a perseguição pela cultura negra, estigmatizando o preto baiano e toda sua bagagem afro como motivo de baderna e criminalidade, ainda deixando a obra tão atual ao ponto de tocar nas feridas de nossa contemporaneidade. Nas cenas do livro Jorge Amado trata sobre a perseguição aos terreiros de santo, as rodas de samba e aos afoxés, assim como também mostra o preconceito que o Pedro Archanjo sofre, não podendo ter seu valor como intelectual apenas por ser preto e não ter um título de doutor. Considero esse livro como um dos mais importantes na bibliografia do autor, não sendo a toa que o mesmo é considerado pela sua biografa, Josélia Aguiar.
Numa louvação à cultura baiana, afro-brasileira e negra, ?Tenda dos milagres? é uma celebração do apogeu de Jorge Amado em sua temática. Rico em personagens, em diálogos, em cenas do cotidiano baiano, e numa perspectiva que faz o leitor refletir sobre o mundo, o mundo que permanece o mesmo até hoje. O livro é um convite para conhecer a Bahia, seu povo e sua alegria, que mesmo em tempos difíceis mostra o berço da força de onde veio o poder da liberdade e onde milagres podem acontecer.